sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

A irresistível ascensão da China


2018 mal começou, e já a economia da China é duas vezes e meia maior do que a japonesa, cinco vezes maior do que a da Índia, seis vezes maior do que a do Brasil e oito vezes maior do que a da Rússia. Também é maior do que toda a Zona Euro.


Os dados do PIB de 2017, divulgados recentemente pela China, confirmam-no: o crescimento dramático do país, acompanhado pelo aumento da sua relevância económica global, não está a diminuir.

Notícias recentes puseram em causa a fiabilidade dos dados chineses, devido aos relatos de que algumas províncias sobrestimaram o seu desempenho económico nos últimos anos. Mas, por tudo o que sabemos, outras províncias podem estar a fazer o contrário. E, em qualquer caso, as províncias que admitiram inflacionar os seus dados não são suficientemente grandes para ter um impacto significativo no quadro nacional.

Além disso, dois pontos-chave perdem-se muitas vezes no debate sobre as estatísticas oficiais da China, que o país começou a divulgar no final da década de 1990. Primeiro, o debate só é relevante se a China estiver a aumentar o grau de sobredimensionamento dos dados. Em segundo lugar, os dados publicados pela China devem ser considerados no contexto dos dados dos seus parceiros comerciais, bem como das principais empresas internacionais que actuam na China. Como escrevi antes, diz-se que a China ultrapassou a França e os Estados Unidos para se tornar o principal parceiro comercial da Alemanha.

No que respeita aos dados de 2017, o foco dos meios de comunicação tem sido o crescimento do PIB real (ajustado pela inflação) da China, que, em 6,9%, representa a primeira aceleração em alguns anos, e uma evolução acima da meta do governo de 6,5%. Mas o dado mais importante é o crescimento do PIB nominal da China traduzido em dólares norte-americanos. Graças ao fortalecimento do renminbi, a produção económica total da China cresceu para 12,7 biliões de dólares em 2017, o que representa um aumento massivo de 13% (1,5 biliões de dólares) em apenas 12 meses.

Claramente, aqueles que advertiram que a China está a seguir os passos do Japão e a dirigir-se para um ciclo deflacionário de longo prazo estão errados. Na minha opinião, essas comparações simplistas nunca são particularmente úteis. A China não só evitou o risco de deflação como o fez com a sua moeda em alta.

Quando eu e os meus antigos colegas do Goldman Sachs começámos a acompanhar a ascensão das economias BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China) no início dos anos 2000, achámos que só no final de 2015 é que a China apanharia o Japão. No entanto, 2018 mal começou, e já a economia da China é duas vezes e meia maior do que a japonesa, cinco vezes maior do que a da Índia, seis vezes maior do que a do Brasil e oito vezes maior do que a da Rússia. Também é maior do que toda a Zona Euro.

A impressionante expansão de 1,5 biliões de dólares da China em 2017 significa que, em termos nominais, o país criou basicamente uma nova economia do tamanho da Coreia do Sul, duas vezes maior do que a Suíça e com três vezes o tamanho da Suécia. Os dados mais recentes sugerem que a China poderá apanhar os EUA, em termos nominais, por volta de 2027, se não antes. Uma década depois disso, os países BRIC poderão, em conjunto, alcançar as economias do G7.

É claro que essa conquista seria conduzida em grande parte pela China. Ainda assim, em conjunto, os restantes BRIC são maiores do que o Japão. E agora que o Brasil e a Rússia superaram as suas recessões recentes, os BRIC deverão contribuir significativamente para o PIB global nominal em 2018.

Uma consideração final para as perspectivas de crescimento global é o consumidor chinês. Muitos comentadores ainda falam sobre a China como se se tratasse apenas de uma potência industrial. Mas o consumo na China cresceu praticamente 40% do PIB. Desde 2010, os consumidores chineses acrescentaram cerca de 2,9 biliões de dólares à economia mundial. Esse valor é superior à economia do Reino Unido. Os negociadores comerciais britânicos devem tomar nota disto: depois do Brexit, o mercado chinês será mais importante do que nunca para a economia do Reino Unido.

No entanto, além dos dados anualizados, a China também divulgou recentemente os seus dados de Dezembro, que revelaram um crescimento homólogo um pouco decepcionante de 9,4% das vendas a retalho. Espera-se que seja um reflexo não de uma desaceleração do consumo, mas sim das políticas que apertaram as condições financeiras no segundo semestre de 2017.

Escusado será dizer que, à medida que a China se tornar cada vez mais importante para a economia global, os seus riscos – tanto no sentido descendente como ascendente - continuarão a ter implicações de longo alcance para o resto do mundo. E, de facto, uma desaceleração do consumo seria mau não apenas para a China, mas também para o resto da economia mundial, que agora depende da transição da China da produção industrial para o consumo doméstico.

*Jim O’Neill, ex-presidente da Goldman Sachs Asset Management, é professor honorário de Economia na Universidade de Manchester e antigo presidente da revisão sobre a Resistência Antimicrobiana do governo britânico.

Copyright: Project Syndicate, 2018 | www.project-syndicate.org | Tradução: Rita Faria

*Jim O'Neill - 15 de fevereiro de 2018 | em Jornal de Negócios

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