2018 mal começou, e já a economia
da China é duas vezes e meia maior do que a japonesa, cinco vezes maior do que
a da Índia, seis vezes maior do que a do Brasil e oito vezes maior do que a da
Rússia. Também é maior do que toda a Zona Euro.
Os dados do PIB de 2017,
divulgados recentemente pela China, confirmam-no: o crescimento dramático do
país, acompanhado pelo aumento da sua relevância económica global, não está a
diminuir.
Notícias recentes puseram em
causa a fiabilidade dos dados chineses, devido aos relatos de que algumas
províncias sobrestimaram o seu desempenho económico nos últimos anos. Mas, por
tudo o que sabemos, outras províncias podem estar a fazer o contrário. E, em
qualquer caso, as províncias que admitiram inflacionar os seus dados não são
suficientemente grandes para ter um impacto significativo no quadro nacional.
Além disso, dois pontos-chave
perdem-se muitas vezes no debate sobre as estatísticas oficiais da China, que o
país começou a divulgar no final da década de 1990. Primeiro, o debate só é
relevante se a China estiver a aumentar o grau de sobredimensionamento dos
dados. Em segundo lugar, os dados publicados pela China devem ser considerados
no contexto dos dados dos seus parceiros comerciais, bem como das principais
empresas internacionais que actuam na China. Como escrevi antes, diz-se que a
China ultrapassou a França e os Estados Unidos para se tornar o principal
parceiro comercial da Alemanha.
No que respeita aos dados de
2017, o foco dos meios de comunicação tem sido o crescimento do PIB real
(ajustado pela inflação) da China, que, em 6,9%, representa a primeira
aceleração em alguns anos, e uma evolução acima da meta do governo de 6,5%. Mas
o dado mais importante é o crescimento do PIB nominal da China traduzido em
dólares norte-americanos. Graças ao fortalecimento do renminbi, a produção
económica total da China cresceu para 12,7 biliões de dólares em 2017, o que
representa um aumento massivo de 13% (1,5 biliões de dólares) em apenas 12
meses.
Claramente, aqueles que
advertiram que a China está a seguir os passos do Japão e a dirigir-se para um
ciclo deflacionário de longo prazo estão errados. Na minha opinião, essas
comparações simplistas nunca são particularmente úteis. A China não só evitou o
risco de deflação como o fez com a sua moeda em alta.
Quando eu e os meus antigos
colegas do Goldman Sachs começámos a acompanhar a ascensão das economias BRIC
(Brasil, Rússia, Índia e China) no início dos anos 2000, achámos que só no
final de 2015 é que a China apanharia o Japão. No entanto, 2018 mal começou, e
já a economia da China é duas vezes e meia maior do que a japonesa, cinco vezes
maior do que a da Índia, seis vezes maior do que a do Brasil e oito vezes maior
do que a da Rússia. Também é maior do que toda a Zona Euro.
A impressionante expansão de 1,5
biliões de dólares da China em 2017 significa que, em termos nominais, o país
criou basicamente uma nova economia do tamanho da Coreia do Sul, duas vezes
maior do que a Suíça e com três vezes o tamanho da Suécia. Os dados mais
recentes sugerem que a China poderá apanhar os EUA, em termos nominais, por
volta de 2027, se não antes. Uma década depois disso, os países BRIC poderão,
em conjunto, alcançar as economias do G7.
É claro que essa conquista seria
conduzida em grande parte pela China. Ainda assim, em conjunto, os restantes
BRIC são maiores do que o Japão. E agora que o Brasil e a Rússia superaram as
suas recessões recentes, os BRIC deverão contribuir significativamente para o
PIB global nominal em 2018.
Uma consideração final para as
perspectivas de crescimento global é o consumidor chinês. Muitos comentadores
ainda falam sobre a China como se se tratasse apenas de uma potência
industrial. Mas o consumo na China cresceu praticamente 40% do PIB. Desde 2010,
os consumidores chineses acrescentaram cerca de 2,9 biliões de dólares à economia
mundial. Esse valor é superior à economia do Reino Unido. Os negociadores
comerciais britânicos devem tomar nota disto: depois do Brexit, o mercado
chinês será mais importante do que nunca para a economia do Reino Unido.
No entanto, além dos dados anualizados,
a China também divulgou recentemente os seus dados de Dezembro, que revelaram
um crescimento homólogo um pouco decepcionante de 9,4% das vendas a retalho.
Espera-se que seja um reflexo não de uma desaceleração do consumo, mas sim das
políticas que apertaram as condições financeiras no segundo semestre de 2017.
Escusado será dizer que, à medida
que a China se tornar cada vez mais importante para a economia global, os seus
riscos – tanto no sentido descendente como ascendente - continuarão a ter
implicações de longo alcance para o resto do mundo. E, de facto, uma
desaceleração do consumo seria mau não apenas para a China, mas também para o
resto da economia mundial, que agora depende da transição da China da produção
industrial para o consumo doméstico.
*Jim O’Neill, ex-presidente da
Goldman Sachs Asset Management, é professor honorário de Economia na
Universidade de Manchester e antigo presidente da revisão sobre a Resistência
Antimicrobiana do governo britânico.
Copyright: Project Syndicate,
2018 | www.project-syndicate.org | Tradução: Rita Faria
*Jim
O'Neill - 15 de fevereiro de 2018 | em Jornal de Negócios
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