O Democrata | editorial*
Mais um episódio negro na
história democrática da Guiné-Bissau. A atuação das forças de segurança sob
encomenda das autoridades nacionais, nomeadamente o Ministério do Interior na
pessoa do seu titular, é uma autêntica vergonha nacional. Qualquer cidadão, independentemente
da cor política, deveria ter a coragem de condenar os desmandos em curso no
país. A mistura entre o silêncio cúmplice do Presidente da República e a agenda
de vandalismo dos militantes dissidentes do PAIGC, é um perigo contra o já
vulnerável edifício do Estado.
Utilizar todo o aparelho de
segurança nacional (nutrido e sustentado com o erário público) como arma para
impor uma agenda partidária, é um duro golpe contra a democracia e sobretudo
contra os elementares princípios da ética política. Se tudo era, até aqui
previsível neste país, o cerco imposto ao PAIGC, sabotando a realização do seu
conclave sem uma base legal plausível, além de ser um crime público perpetrado
pelas instituições da República, é também a confirmação de uma República órfã e
refém sempre de agendas de grupos.
Esta é a triste realidade que
qualquer cidadão honesto deveria repudiar sem medo, nem cumplicidade e
dupla linguagem. A democracia constrói-se com regras e respeito
escrupuloso das mesmas. Não se pode fechar olhos perante este tamanho desmando
e perpetração do império de força em nome de subsídios obscuros, interesses
mesquinhos.
Que fique claro. Não se trata
aqui de puxa-puxa de saber quem tem razão entre os militantes do PAIGC,
um partido historicamente em conflitos abertos. Trata-se sim do imperativo de
se proteger o fragilizado Estado das disputas partidárias, seja qual for o
partido político. Em qualquer situação a nossa posição seria a mesma. A defesa
das instituições do Estado e da República! Se o jornal O Democrata existisse no
passado quando ocorreram outras trites práticas, por exemplo, a ocupação e
violência contra a sede do PRS por indivíduos instrumentalizados, assumiria a
mesma posição de firme condenação e de verdade.
A Guiné-Bissau precisa de virar a
página de práticas retrógradas rumo ao progresso através de respeito pelas
normas da democracia. A instrumentalização das instituições de Estado
(segurança, justiça, etc.) é veneno perigoso contra a coesão e paz sociais. Que
o problema do PAIGC seja resolvido no PAIGC e quando os conflitos transbordam
que se recorra à justiça, mesmo com as suas fragilidades. Não se pode envolver
os meios do Estado para o combate partidário num claro abuso do poder.
Já o dissemos aqui várias vezes,
o Presidente da República tem vindo a demonstrar uma incapacidade tremenda no
exercício das suas funções do garante da unidade nacional e árbitro do jogo
democrático. Trocou o capote e tornou-se um Chefe de Estado sem poderes em nome
de alianças mesquinhas que, tarde ou cedo, voltarão contra ele. A história
deste país é rica em factos. Não inventamos nada, simplesmente chamamos
atenção. O rumo dos acontecimentos agora merece uma análise ponderada de todos
os patriotas. É a hora de assumirmos a postura e mudarmos os comportamentos
contrários à sã convivência nacional. A República deve se imperar face às
agendas terceiras. Que os partidos políticos façam as suas lutas internas nas
suas sedes e que o Estado garanta as liberdades e o bem-estar de todos.
*Editorial de 01.02.2018
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