Pedro Silva Pereira* | Jornal de
Notícias | opinião
Colapso de democracia, colapso da
economia, colapso do Estado - foi assim, sempre à beira de um ataque de nervos,
que a Direita foi descrevendo, em ondas sucessivas, os seus tenebrosos
presságios sobre as reversões e outras generosidades do Governo das famigeradas
"esquerdas unidas". Depois, à medida que a maioria de Esquerda foi
tranquilamente aprovando orçamentos e apresentando resultados que desmentiam as
diabólicas previsões de catástrofe, a Direita quis convencer-nos de que não se
enganou em nada - o Governo, esse malvado, é que mudou de política.
Tornou a acontecer agora.
Conhecidos os excelentes resultados de 2017 (2,7% de crescimento da economia,
queda da taxa de desemprego para 7,8%, redução da dívida pública para 125,7% e
redução do défice para 0,9%) lá veio outra vez a mesma conversa: os resultados
só são melhores do que o previsto porque, "à socapa", o Governo mudou
de política.
Está encontrada, portanto, a
fórmula mágica da infalibilidade: aconteça o que acontecer, a Direita e os seus
porta-vozes nunca se enganam, nem mesmo quando preveem uma catástrofe que não
se confirma. Se os resultados, afinal, são bons, a explicação só pode ser uma:
o Governo "fez batota" e mudou de política sem ninguém dar por isso.
A verdade, evidentemente, é
outra. A Direita construiu todo o seu discurso de Oposição - e as suas
previsões - com base num erro político fundamental: a ideia, mil vezes
repetida, de que o PS, ao assinar os acordos à Esquerda, ficou
"refém" dos partidos da "Esquerda radical", consentindo na
descaracterização do seu programa, resignando-se a um despesismo irresponsável
e virando, ele próprio, à Esquerda, a ponto de trair a sua identidade como
partido moderado de centro-esquerda, fiel ao ideal europeu.
Naturalmente, a narrativa da
radicalização do PS nunca passou de uma fantasia sem qualquer correspondência
com a realidade. Como foi claro desde o primeiro dia, o Governo do PS sempre
aspirou a conciliar a devolução dos rendimentos e o crescimento da economia e
do emprego com o respeito integral pelos compromissos europeus de redução do
défice e da dívida pública. Que tenha feito o que sempre disse que iria fazer
só será motivo de surpresa para quem acabou por acreditar na sua própria
mentira.
Ao contrário do que parece
continuar a ser hoje a crença da Direita, nem o Centro político é terreno
abandonado, nem mora lá ninguém que ainda se assuste com o "papão"
das "esquerdas unidas". Quem acredita nisso é bom que se prepare para
mais surpresas.
*Eurodeputado
Sem comentários:
Enviar um comentário