No seu discurso em Estrasburgo,
João Lourenço sublinhou que Angola está "aberta ao mundo". O
Presidente angolano tem estado a arrumar a casa para atrair mais investidores estrangeiros
e prometeu resultados para breve.
Os angolanos esperavam que no
seu discurso
desta quarta-feira (04.07) no Parlamento Europeu (PE), em Estrasburgo,
França, o chefe de Estado angolano não esquecesse temas como corrupção,
impunidade, direitos humanos e liberdade de expressão. E João
Lourenço assim o fez.
"Hoje, quando o país vive
uma natural fase de transição política, o Executivo angolano continua empenhado
em aprofundar o processo democrático e melhorar as condições que permitam
um ambiente favorável à diversidade de opiniões, à liberdade de expressão e, no
geral, ao respeito pelos direitos fundamentais dos cidadãos", declarou.
Desde agosto de 2017, altura em
que tomou posse como Presidente da República, João Lourenço diz que tem
"procurado implementar políticas que beneficiem diretamente as
populações". E o Governo que dirige "tem focado a sua atenção na
implementação de programas de estabilização macroeconómica e de consolidação
fiscal, com vista a reduzir os efeitos da inflação e a normalizar o mercado
cambial."
Perante os eurodeputados, o
Presidente angolano admitiu que, embora se verifique uma diminuição do peso do
setor petrolífero na economia nacional, isso "não é suficiente para
superar os desequilíbrios existentes" e "não se reflete ainda na
diversificação da economia e numa alteração estrutural das exportações e das
receitas do Estado."
Por isso, Angola conta com a
União Europeia como um "importante parceiro" que pode ajudar o país a
"superar os constrangimentos" que ainda impedem a economia angolana
de estar "ao serviço do desenvolvimento, do progresso e do bem-estar das
populações." Reconhecendo ainda que o esforço de reconstrução dos últimos
anos ainda "é insuficiente" para fazer face às necessidades de
empresas e populações nas áreas de energia, água, escolas e hospitais.
"Cruzada contra a
corrupção"
No quadro de um "melhor
ambiente de negócios" e de "uma maior atenção ao investimento privado
estrangeiro", João Lourenço salientou que o seu Governo tem levado a cabo
"uma verdadeira cruzada contra a corrupção e impunidade, em toda a
sociedade, com destaque para os chamados crimes de colarinho branco" e
prometeu que "em breve" todos irão sentir os resultados positivos.
Além de lembrar que decorrem
neste momento processos-crime contra cidadãos que terão lesado o Estado em
centenas de milhões de dólares, o Presidente salientou ainda que recentemente
foi aprovada a Lei
de Repatriamento de Capitais.
"Angola vem-se tornando nos
últimos meses num país mais aberto ao mundo e, por isso, mais amigo do
investimento, mais aberto ao turismo", disse João Lourenço , garantindo
que Angola está aberta ao investimento privado estrangeiro, praticamente em
todos os domínios.
Questão das migrações
"envergonha"
João Lourenço também destacou que
há matérias de "interesse comum" que importa discutir com a União
Europeia (UE), como os fluxos migratórios, uma questão que diz ser motivo
"de vergonha".
"As relações entre Angola e
a UE e o Parlamento Europeu são antigas, com algumas décadas já. Temos questões
de interesse comum a discutir, nomeadamente questões que têm a ver com desenvolvimento
económico e social dos nossos países, questões de segurança, de necessidade de
combate ao terrorismo e, sobretudo, necessidade de controlarmos a imigração que
se vem verificando nos últimos anos e que em nada nos honra, antes pelo
contrário, nos envergonha", disse o Presidente angolano.
"Os filhos de África vão
hoje para a Europa na condição de emigrantes", em fuga de conflitos
armados, fome e miséria, desemprego e falta de perspectivas, "e todos
somos responsáveis por este quadro com que muitos países africanos se
confrontam", frisou.
Antes de discursar no hemiciclo,
João Lourenço já tinha dito à imprensa que para abordar "todas essas
questões" é preciso "conversar", justificando desse modo a sua
deslocação ao Parlamento Europeu, em Estrasburgo.
O presidente do Parlamento
Europeu, Antonio Tajani, assegurou que África "é uma prioridade"
e, por isso, é necessário "reforçar os laços entre a União Europeia e
países africanos". Tajani concordou que o problema das migrações e a luta
contra o terrorismo são, de facto, prioridades na agenda de interesses comuns.
Visita de António Costa a Angola
ainda este ano
João Lourenço garantiu ainda em
Estrasburgo que a visita oficial do primeiro-ministro português, António Costa,
a Angola acontecerá ainda este ano e não está dependente do processo que envolve
o ex-vice-Presidente
angolano. "Só depende do acerto de calendários. Não tem nada a ver com
o processo Manuel Vicente", reforçou.
Em declarações aos jornalistas,
após o discurso, o Presidente de Angola assegurou que as relações com Portugal
"estão boas" e que visitará o país "logo que estiverem criadas
as condições".
"As visitas a este nível, a
nível de chefes de Estado, têm de ser preparadas com uma certa antecedência.
Nós acordámos com as autoridades portuguesas que, antes da minha deslocação a
Portugal, devo receber o primeiro-ministro português em Angola. Este processo
está em curso, posso garantir que, de acordo com a agenda do próprio
primeiro-ministro, António Costa, ainda este ano a visita vai acontecer",
avançou.
João
Lourenço foi o primeiro chefe de Estado angolano a discursar no
Parlamento Europeu. Em junho, durante uma visita oficial à Bélgica, já
tinha sido já recebido em Bruxelas pelo presidente do Conselho Europeu, Donald
Tusk.
Madalena Sampaio, Agência Lusa |
Deutsche Welle
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