Guineenses em Portugal acreditam
que as legislativas terão lugar na data prevista, 18 de novembro. Mas o líder
do Movimento Guineense para o Desenvolvimento diz que não estão reunidas condições
para cumprir o prazo.
"Acho que vai ser diferente.
Com a ajuda da comunidade internacional, espero que sim". Celeste Sanca
Sanhá vive há 13 anos em Portugal, muito por causa das crises políticas na
Guiné-Bissau. Olha para as eleições legislativas marcadas para 18 de novembro
na sua terra natal com uma "expectativa de mudança, para que os guineenses
abram os olhos, para saberem diferenciar as coisas".
"Já fomos muitos enganados e
eu acho que desta vez vai mudar muita coisa", diz Celeste, que não é a
única a acreditar que, apesar
das dificuldades no processo eleitoral, a votação terá lugar na data
prevista.
Mama Embaló, há 30 anos em
Portugal, também está confiante quanto à realização das eleições a 18 de
novembro: "Espero que seja assim mesmo, porque o nosso Presidente e o
primeiro-ministro já deram esse aviso, de forma vincada, de que as eleições vão
ser mesmo no dia 18 de novembro. E eu penso que é a única data para os
guineenses irem às urnas".
Mama Embaló espera também
mudança. Acredita que o país viverá dias melhores, longe dos tempos de crise
política. Nesta votação, acrescenta, os políticos devem dar provas de
maturidade e honestidade em benefício do povo guineense e "o povo
deve saber fazer uma boa escolha".
"Não vamos apostar naqueles
que já têm mãos sujas. Espero que as eleições sejam bem feitas e
transparentes", diz Mama Embaló.
Baba Kanuté, que foi cantor da
lendária Orquestra Super Mama Djombo, está igualmente expectante, mas vê o
cenário eleitoral com prudência. "Marcaram essa data, ela é bem-vinda para
nós, porque, se não houver eleições na Guiné-Bissau nessa altura, será uma
confusão outra vez", considera.
Ainda assim, admite ter algum
receio, já que "pode aparecer outra surpresa que ninguém espera”.
"Ninguém deseja isso para nós”, sublinha. "Seja quem for que ganhe
democraticamente, o povo vai seguir com ele, porque a Guiné-Bissau sofreu
muito. Não queremos sofrer mais".
Camila Dabó, há cerca de 17 anos
em Portugal, espera por eleições modernas e que não volte a acontecer o que
aconteceu no passado na Guiné-Bissau: "Que seja diferente e que esses
novos partidos saibam ouvir os jovens também. Não é só dizer que os jovens são
o futuro e não ouvi-los".
Visão mais pessimista
A maior preocupação dos
guineenses deveria ser a de saber se a Guiné-Bissau está, de facto, em
condições de realizar as eleições legislativas marcadas para 18 de novembro
deste ano. Foi o que defendeu Umaro Djau, líder da nova formação política
Movimento Guineense para o Desenvolvimento (MGD), na sua curta passagem por
Lisboa, esta semana. O jornalista que trabalha para a cadeia de televisão
norte-americana CNN reuniu-se na sexta-feira (03.08), na Damaia, Reboleira, com
um grupo de guineenses na diáspora.
Há garantias de apoio financeiro
por parte da comunidade internacional, nomeadamente da União Europeia e da
CEDEAO, para a realização de eleições, reconhece Umaro Djau. Ainda assim, diz o
líder do MGD, não estão reunidas as condições para que seja cumprido o prazo.
"As autoridades nacionais, nomeadamente a Comissão Nacional de Eleições e
o Gabinete de Apoio às Eleições, estão a fazer tudo para que as eleições sejam
realizadas na data marcada", sublinha. No entanto, acrescenta, "para
que isto aconteça, é preciso que, de facto, haja um recenseamento".
O país, diz Umaro Djau, está
agora "a discutir que forma de recenseamento poderá haver: um
recenseamento de raiz ou um recenseamento seletivo". Por isso, afirma,
"a questão de apoios [financeiros] não se coloca agora".
"A questão essencial é
o timing, se há, de facto, tempo suficiente para que todos estes
parâmetros e prazos sejam cumpridos legalmente e para que as eleições tenham
lugar na data marcada de 18 de novembro", conclui.
Djau considera que a diáspora
está sempre pronta para participar e abraçar o novo processo eleitoral na
Guiné-Bissau, "até porque", acrescenta, "está mais preparada
pelo acesso à educação, às novas tecnologias e à informação e sua partilha
através das redes sociais".
O líder do movimento esteve
recentemente em contacto com a população na Guiné-Bissau e percebeu que os
guineenses já abriram os olhos. "Agora, mais do que nunca, estão atentos
ao desenrolar da situação política e económica do país". Os exemplos
dos últimos 44 anos, alerta, demonstram um falhanço total na governação e na
liderança do país. Por isso, acredita "que os guineenses estão mais
mobilizados e mais conscientes sobre os caminhos a seguir no próximo processo
eleitoral".
João Carlos (Lisboa) | Deutsche
Welle
Na foto: Celeste Sanhá, imigrante
guineense em Portugal, tem grandes expectativas para as legislativas de novembro
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