Seehofer volta a bater de frente
com Merkel ao expressar compreensão com manifestantes de Chemnitz e diz que, se
não fosse ministro, também teria saído às ruas.
O ministro alemão do Interior,
Horst Seehofer, voltou a bater de frente com a chanceler federal Angela Merkel
ao afirmar a correligionários, nesta quinta-feira (06/09), que a migração é a
"mãe de todos os problemas" na Alemanha.
A declaração foi feita às margens
de um encontro do seu partido, a União Social Cristã (CSU), em Neuhardenberg e
repetida mais tarde em entrevista ao jornal Rheinische Post. "Já
venho dizendo isso há três anos", afirmou.
Merkel disse ver a questão de
outra maneira. "A questão migratória cria desafios para a Alemanha, e
temos enfrentado problemas, mas também temos obtido sucessos", declarou à
emissora RTL.
Seehofer disse ainda que,
"se não fosse ministro, também teria saído às ruas em Chemnitz", em
referência às recentes manifestações motivadas pelo assassinato de um cidadão
alemão de 35 anos. Dois imigrantes, um da Síria e o outro do Iraque, são
acusados do crime. O ministro, porém, ressalvou que não marcharia ao lado
de extremistas de direita.
Vídeos mostram manifestantes
agredindo verbalmente ou incitando à violência contra estrangeiros durante os
protestos na cidade. Vários políticos alemães, incluindo Merkel, criticaram
duramente os acontecimentos e falaram em perseguição e incitação ao ódio contra
estrangeiros. Seehofer, porém, manteve-se calado.
Nesta quinta-feira, ele disse
compreender os manifestantes que saíram às ruas da cidade e lembrou que na
origem dos protestos está um crime, que chamou de brutal. Se as pessoas se
revoltam diante disso, não podem ser chamadas de nazistas, acrescentou. Segundo
ele, muitos alemães associam suas preocupações sociais à imigração.
As declarações foram dadas a
poucas semanas das eleições estaduais de 14 de outubro na Baviera, onde a CSU
pode perder a maioria no legislativo diante do avanço da AfD e também do
Partido Verde. Os líderes da CSU veem a AfD como principal ameaça e
adotaram a estratégia de endurecer o discurso na questão migratória.
Pesquisa recente colocou a CSU
com 36%, a AfD com 14% e o Partido Verde com 15%. Na eleição anterior, em 2013, a CSU conquistara
47,7%.
Seehofer é o presidente da
CSU, um partido conservador que só existe na Baveira e é tradicional
aliado da União Democrata Cristã (CDU), de Merkel.
"Pela primeira vez temos um
partido à direita da União [CDU/CSU], que pode conseguir se estabelecer no
médio prazo, um país dividido e falta de apoio aos partidos majoritários
na sociedade", observou. Segundo ele, se não houver uma mudança
de curso, os partidos políticos tradicionais vão perder ainda mais a confiança
da população.
Ainda sobre os incidentes em
Chemnitz, o ministro disse que deve haver "tolerância zero" contra
quem incitar ou cometer atos de violência, também contra policiais. "Isso
é inaceitável", afirmou, reiterando que esse critério deve valer para
todos, sem exceção. Ele disse ainda que atitudes como fazer a saudação nazista
durante os protestos devem ser punidas pela Justiça.
O ministro voltou a defender sua
controversa proposta de reforçar o controle das fronteiras no país, afirmando
que, se tivesse sido aprovada, um dos suspeitos do assassinato em Chemnitz não
teria entrado na Alemanha. "Se tivéssemos a regulamentação pela qual tanto
lutei, o suspeito iraquiano não teria entrado no país. Ele já tinha pedido
asilo na Bulgária em 2014 e poderia ter sido rejeitado na fronteira",
destacou, ressaltando que são casos como esse que "custam a confiança dos
cidadãos".
Desde que assumiu o ministério do
Interior, no quinto governo Merkel, Seehofer vem defendendo uma posição mais
dura em relação à migração, distante da abordagem da chanceler federal. Há
poucos meses, o ministro protagonizou uma queda de braço com Merkel sobre a
política migratória do governo federal que chegou a ameaçar a continuidade da
coalizão governista.
As declarações do ministro não
agradaram a liderança do Partido Social-Democrata (SPD), parceiro da CDU/CSU na
coalizão governista. O secretário-geral da legenda, Lars Klingbeil, as
qualificou de "baboseiras populistas de direita" e disse se perguntar
se Seehofer não é "o pai de muitos problemas".
O vice-líder do SPD Ralf Stegner
afirmou que Seehofer deveria renunciar se não souber ser o ministro do Interior
de todos os alemães. "O senhor ministro da
Heimat se esquece que a Alemanha liberal, tolerante e
constitucional se tornou a Heimat de muitas pessoas. A
diversidade é a nossa força."
RC/dpa/apd/afp/rtr | Deutsche
Welle
Sem comentários:
Enviar um comentário