Pesquisas apontam que legenda
anti-imigração Democratas Suecos pode obter até 20% dos votos em eleição
legislativa. Com raízes em movimento neonazista, agremiação tenta se afastar de
imagem de racista.
Instantes depois que Jimmie
Akesson, o líder de 39 anos do partido populista Democratas Suecos (SD, na
sigla em sueco), pegou no microfone em Malmö, o público começou a entoar gritos
como "Não aos racistas em nossas ruas!". Manifestantes seguravam cartazes
com os dizeres "Cale a boca, seu racista maldito" ou "SD:
nazistas em 1988, nazistas em 2018".
A esmagadora maioria daqueles que
saíram de casa para assistir ao discurso de Akesson são o que ele chamaria de
"helt vanligt folk", ou "povo completamente comum".
Os antifascistas que compareceram
ao local do discurso do político não são os únicos que chamam o partido de
nazista. O primeiro-ministro sueco, Stefan Lofven, descreveu a legenda como
"um partido neofascista de tema único", com "raízes nazistas e
racistas". E os apoiadores do partido admitem: o estigma é um problema.
"Pode ser difícil com
algumas pessoas", disse "UC" Nilsson, de 16 anos e que apoia o
SD. Ele foi ao evento com colegas de escola. "Recebemos reações negativas
muito fortes porque algumas pessoas não gostam da política do partido. Mas acho
que isso é bom para a Suécia: não podemos acolher tantos imigrantes",
disse.
"Nacionalismo cultural"
Ideologicamente, os Democratas
Suecos são menos extremos do que outras legendas populistas europeias, pregando
um "nacionalismo cultural" aberto a todos, não importando onde
nasceram ou a cor de sua pele.
Ao mesmo tempo, o partido defende
uma imigração altamente restrita. A legenda quer que o país aceite apenas
refugiados da Dinamarca, da Noruega e da Finlândia, e também defende um sistema
de vistos de trabalho bem mais rígido do que o vigente.
O que faz com que o SD se
destaque é que, de fato, o partido tem raízes no movimento neonazista sueco.
Até Mattias Karlsson, líder parlamentar e arquiteto ideológico da legenda,
reconhece que muitos membros fundadores vieram do grupo "Bevara Sverige
Svenskt" ("Mantenha a Suécia Sueca", em tradução livre),
abertamente racista.
"Mas essa organização foi
desmantelada em 1986, e o SD foi formado em 1988", destaca Karlsson. "Então,
o SD não é uma continuação daquela organização."
O primeiro tesoureiro do partido,
Gustaf Ekstrom, é ex-membro da Waffen-SS (tropa de elite nazista). O primeiro
líder do SD, Anders Klarstrom, atuou no partido nazista Reino Nórdico
("Nordiska rikspartiet").
A questão é se essas origens
ainda mancham o partido, apesar dos esforços de Akesson de reformá-lo desde que
assumiu sua liderança, em 2005.
"Somos muito firmes e não
cedemos em relação a esses temas", disse Karlsson à DW. "Se há
algum sinal de xenofobia ou racismo, expulsamos esses representantes
imediatamente", explicou.
Julia Kronlid, a mulher com o
mais alto posto na liderança do partido, diz que o estigma hoje é menor do que
quando ela "se assumiu" como apoiadora do SD, há dez anos.
"Na igreja, quando meu
marido e eu dissemos que estávamos entrando para o SD, as pessoas quase se
engasgaram com seu café", lembra. "Mas, agora, reconhecem o que
eu fiz, e algumas querem entrar para o partido."
No entanto, Cecilia Bladh, outra
política do SD oriunda da classe média, reclama que ativistas locais ainda
correm o risco de serem afastados por seus empregadores.
"Espero que isso mude,
porque, se temos um quinto da população sueca nos apoiando não dá para
continuar assim", considera, referindo-se a pesquisas de intenção de
voto, em que o SD aparece com cerca de 20%.
Sombra do nazismo
Parte do motivo pelo qual a
situação não mudou é que muitos membros do SD claramente ainda são racistas. Na
semana passada, o jornal Expressen revelou que um político local
escreveu sobre "a praga dos judeus" num grupo fechado do Facebook, e
argumentou que "Hitler não estava errado sobre os judeus".
David Baas, autor da reportagem,
diz que é normal ativistas do SD postarem comentários racistas como esse em
fóruns fechados e no site d mídia social russa VK. "Eles têm duas
caras: em seus perfis públicos do Facebook, não escrevem essas coisas. Mas na
VK, escrevem algo muito diferente", detalha.
Juntamente com a revista
antiextremista Expo, o Expressen também revelou que pelo menos
oito atuais candidatos do SD à eleição legislativa do próximo domingo (09/09)
são ex-membros de grupos neonazistas, com um deles pagando mensalidades para o
Movimento de Resistência Nórdico até 2016.
Andreas Olofsson, que faz campanha
para os Democratas Suecos em Klippan, cidade que antigamente abrigava uma
fábrica de papel, a uma hora de Malmö, liderou a filial local da neonazista
Frente Nacional-Socialista ("Nationalsocialistisk front") no final
dos anos 1990.
"Foi um período muito triste
para mim", relata Olofsson. "Eu era jovem e burro. Sou uma pessoa
completamente diferente agora", afirma.
Tolerância zero com o racismo?
O partido diz vetar todos os
candidatos, mas o passado de Olofsson é do conhecimento de todos na cidade, onde
também é amplamente perdoado.
Jonathan Leman, pesquisador
da Expo e que trabalhou nas investigações, diz que suas descobertas
são provas de que a política de tolerância zero "não está enraizada no
partido".
"Eles passaram mais tempo
contando às pessoas que têm essa política do que a explicando a integrantes do
partido e garantindo que ela é ensinada e praticada", coloca.
Em Malmö, o apoiador do SD Ricky
Lowenborg começou a perder a paciência com os slogans que se sobrepõem ao
pronunciamento de Akesson. "Nazistas? São os social-democratas que são
nazistas", disse.
"Meu dinheiro dos impostos
vai para essa escória ali. Por isso é que estou furioso", afirmou,
referindo-se aos imigrantes, que, segundo ele, querem "construir complexos
de mesquitas gigantescos, com minaretes enormes, em todo lugar".
"Não somos nazistas", diz,
firme. "Eles pensam que nós somos nazistas, mas não somos, absolutamente
não. Eu não sou racista, espero que você escreva isso. Sou casado com uma
filipina. Amo estrangeiros", declara.
Richard Orange (de Malmö/rk) |
Deutsche Welle
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