Músico guineense apresentou-se
(07.09) ao público alemão com instrumentos tradicionais dos bijagós da
Guiné-Bissau. Mû Mbana defendeu que se pode compreender melhor a evolucao dos
povos através das expressões culturais
Chama-se Mû Mbana. Chegou à
Europa para estudar arte em Portugal e acabou por formar-se na música, em
Barcelona, Espanha. O artista, compositor, poeta e multi-instrumentista entende
que se pode compreender melhor a real dinâmica da sociedade guineense através
da música tradicional composta por diferentes expressões étnicas da
Guiné-Bissau. Faz fusão das sonoridades do passado com as novas tendências.
Essas ligações, do passado ao presente, valeram-lhe 20 anos de pesquisa só
para resgatar instrumentos tradicionais e manter a originalidade na música que
compõe.
"Desde pequeno tinha uma voz
interna a dizer-me que a música tinha algo para me dar. Fiz a música desde que
me lembro de mim. Acabei por estudar a música de forma académica para conhecer
a linguagem moderna da música, composição e forma oral, estar com mestres,
aprender e observar conhecer um pouco a filosofia do que é pratica da música.
Nos últimos 10 anos ando com um pé aqui e outro na Guiné-Bissau a fazer
pesquisas", disse Mû Mbana.
Nasceu na Ilha de Bolama, no
arquipélago dos Bijagós, mas há 27 anos que fixou residência na Europa,
nomeadamente em Barcelona, tendo editado 10 discos de originais, ao lado de
músicos de outras nacionalidades. O último trabalho discográfico foi
lançado em 2017, INÊN (que significa duas mãos), contém temas
inéditos de sua autoria, com ênfase para um estilo espiritual em que cria uma
comunicação íntima entre a voz e as cordas dos instrumentos tradicionais da
Guiné-Bissau.
Instrumentos tradicionais
Depois de 20 anos a percorrer o
mundo com os estilos populares, concluiu que ao repescar os instrumentos mais
antigos da tradição dos povos das ilhas Bijagós estaria a projectar a história
e a imagem que definem as raízes do seu povo. Na sua passagem pela
Alemanha, para contatos profissionais , Mû Mbana esteve aqui na DW em Bonn.
Trajado de panos de pente e com
Simbi e o Tonkorongh, dois instrumentos tradicionais da música guineense, em
entrevista o músico entende que resgatar os valores culturais, com grandes
simbolismos étnicos, seria mais fácil ao mundo compreender e acompanhar a
verdadeira dinâmica da sociedade do campo, a sua vivência e costumes.
"Já regressei às
origens, a tocar mais instrumentos da Guiné, a cantar crioulo e
outras línguas étnicas. É mais ou menos isso, fazer a gente voltar para a
nossa essência", argumenta.
INÊN, último trabalho
discográfico
O INÊN, último álbum que já
foi apresentado na Guiné-Bissau, comporta essencialmente ritmos tradicionais
que caraterizam os povos urbanos através dos instrumentos musicais dos séculos
passados e quase em
esquecimento. Mbana que, das pesquisas que fez nas zonas
mais isoladas das ilhas Bijagós, chegou à conclusão que através das letras,
melodias, danças e sons, histórias e memórias das tradições antigas é
possível compreendermos a Guiné de hoje:
"Como não houve uma
integração dos instrumentos musicais tradicionais na revoluço musical da Guiné
dos 60, 70 e 80, então esses instrumentos caíram quase no esquecimento.
Gosto muito dos sons desses instrumentos, da mensagem que eles trazem e toda a
riqueza tímbrica que têm. Então decidi ficar mais envolvido com esses
instrumentos para os aplicar fora dos contextos tradicionais. Esses
instrumentos são muito apreciados aqui na Europa e na América.
Com muita pedalada nos grandes
festivais multi-culturais, o último foi Nuits d'Africa de Montreal,
no Canadá, há 18 anos que Mû Mbana decidiu vestir-se apenas com tecidos e
coleções de peças tradicionais de várias etnias da Guiné-Bissau. Na
entrevista à DW-África, ele confiou-nos que raras vezes veste roupas do
ocidente.
"É uma linguagem, a arte de
vestir. Para mim é algo tão nobre ao ponto de não me sentr bem
sem usar pano de pente. Dentro da nossa diversidade cultural é um vínculo
que continua a unir toda a sociedade guineense. Todas as culturas usam pano de
pente nalgum momento importante da vida. Nascemos embrulhados no pano de pente
e somos a enterrados envoltos nesse pano. É algo que transcende qualquer
bem material".
Durante a sua estada aqui na
Alemanha, Mû Mbana aproveitou para apresentar o seu trabalho ao público da
cidade de Colónia, um mercado que, segundo ele, pretende explorar ainda mais no
futuro.
Braima Darame (Bissau) | Deutsche
Welle
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