Martinho Júnior | Luanda
Há que nos preocuparmos em que
seja feita uma radiografia séria ao processo histórico angolano desde os
alvores da independência até hoje, por que nada é linear e a margem de
relatividade é muito grande, em muitos aspectos!...
Também não devemos estar à espera
que sejam outros a fazer essa radiografia, calando a voz, o engenho e a arte
dos intervenientes, calando seus sentimentos, suas afirmações de princípio,
suas aspirações de futuro, suas emoções, seu sacrifício e a formação de sua
consciência crítica capaz de levar por diante um movimento de libertação com
tantas responsabilidades em África, em relação à humanidade e também forjador
do respeito devido ao planeta!
É imperdoável que em tempo de
revolução das novas tecnologias, estejam tantos angolanos confinados a
capacidades que têm sido ultrapassadas no tempo e no espaço, desde a década de
80 do século passado a esta parte e assim remetidos a um silêncio à beira do
comprometimento, que deixam para outros a advocacia de suas próprias causas
patrióticas, vividas ao longo de pelo menos 4 décadas!
A ausência de tiros por si não é
paz, quando os níveis de subdesenvolvimento nos remetem teimosamente para a
cauda dos Índices de Desenvolvimento Humano, quando os desequilíbrios sociais,
com todas cargas de injustiças sociais tendem a agravar-se, quando até a
memória e os ensinamentos do Presidente-fundador, se reduzem à sua poesia,
quando ao invés duma consciência crítica capaz de forjar uma cultura de
inteligência nacional e patriótica, existe apenas uma visão que não consegue
sair dos horizontes viciados das mentalidades formatadas por outros interesses
que quantas vezes em nada coincidem com os soberanos interesses e aspirações do
povo angolano!...
Na guerra ainda foi admissível a
acomodação daqueles que assumiram as trincheiras do movimento de libertação,
até por que foi nessa acomodação que foi possível a camaradagem de armas, a
mobilização recíproca de vontades, primeiro para se alcançar a independência,
depois em defesa da independência, da soberania e do povo angolano...
Mas na paz, ao invés de
proliferarem os incomodados, por que a miséria incomoda, a pobreza incomoda, a
doença incomoda, a ignorância e o obscurantismo incomodam… as mentalidades
formatadas acomodam-se e perdem de vista os horizontes próprios dos que têm muito
mais que ver com o futuro do que com o passado!...
Retirar em nome da civilização,
espaço e manobra à barbárie implica um enorme esforço de formação da
consciência crítica patriótica para que haja energia, força e cultura de
inteligência na adopção da lógica com sentido de vida, pelo que jamais será com
mentalidades formatadas por outros que haverá capacidade própria para romper
caminho face aos desafios do presente e do futuro!
A visão arguta das águias, a
partir das alturas, nada tem a ver com a visão rasteira dos pardais!
Comentário de Martinho Júnior, no
retorno à Internet - 5 de Outubro de 2018.
Fotos de minha autoria, tiradas a
2 de Dezembro de 2014 ao Pórtico que dá entrada ao espaço da Bandeira Monumento
e ao Museu Militar de Angola, (fortaleza de São Miguel), em Luanda.
Sem comentários:
Enviar um comentário