Captura e armazenamento de gás
carbônico, ou CCS, é criticada por ser cara e vista como mera desculpa para
continuar exploração de combustíveis fósseis. Mas há quem aposte na tecnologia.
Para aqueles que pensavam que
instalar painéis solares, plantar árvores e comprar um carro elétrico bastaria,
o relatório
do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU,
publicado este mês, foi um impressionante grito de alerta.
O mundo está enfrentando uma
catástrofe climática, e mudanças urgentes e inéditas são necessárias, diz o
documento. Isso inclui o processo de captura e armazenamento de gás
carbônico (CCS, em inglês), uma tecnologia repleta de problemas no
passado.
O CCS é extremamente
caro, e críticos afirmam que ele não passa de uma desculpa
para a indústria de combustíveis fósseis continuar operando
normalmente, em detrimento da evolução de alternativas renováveis. Porém, na
Noruega, a tecnologia vem ganhando impulso – o que não surpreende, dados
os contínuos planos do país de explorar suas enormes reservas de petróleo.
"O desafio do clima é tão
grande que temos de usar todas as ferramentas à disposição",
afirma Trude Sundset, presidente da Gassnova, a companhia estatal
norueguesa responsável pela busca de soluções de CCS para o futuro.
A produção de energias
renováveis cresce rapidamente, mas muitas indústrias, como as de cimento e aço,
emitem vastas quantidades de dióxido de carbono em seus processos produtivos. É
aí que a tecnologia de captura e armazenamento de carbono aparece como a única
solução, já que a outra alternativa seria encerrar completamente a
produção, argumenta Sundset.
"Podemos colocar quantos
painéis solares quisermos em todas as fábricas de cimento que quisermos – ainda
assim teremos emissões de CO2 muito altas nessa indústria", constata.
"E a única solução que conhecemos hoje é capturar o dióxido de carbono e
armazená-lo no subterrâneo", explica.
Com apoio do governo norueguês, a
Gassnova agora está nos estágios finais de um projeto piloto que poderá
concluir as primeiras unidades de captura completa de carbono numa fábrica de
cimento, assim como a primeira unidade de incineração de lixo. Cada unidade
capturaria 400 mil toneladas anuais de CO2, o equivalente às emissões de 171
mil automóveis.
"O próprio processo de fabricar
cimento emite muito CO2, e a produção total de cimento no mundo representa
entre 5% e 7% do total anual de emissões de carbono", calcula Per Brevik,
diretor de sustentabilidade e combustíveis alternativos na Heidelberg Cement
Northern Europe, fábrica que faz parte do projeto piloto da Gassnova.
A fábrica, que fica a duas horas
de carro da capital norueguesa, Oslo, já testou vários métodos de captura de
gás carbônico e espera que uma solução completa esteja funcionando até 2024.
"Tiraremos o CO2 do gás da chaminé, o condicionaremos e armazenaremos no
fundo do Mar do Norte", detalha Brevik.
A ideia de remover CO2 do ar para
armazená-lo em rochas porosas sob o leito marinho não é nova. A empresa
estatal de energia da Noruega, Equinor, opera uma unidade de CCS numa de suas
plataformas de gás natural no Mar do Norte desde 1996, provando que a
tecnologia funciona.
Esse projeto específico faz
sentido economicamente graças ao imposto de 52 euros por tonelada de CO2
emitida em instalações de petróleo e gás offshore. A Equinor teria
pagar 105 mil euros por dia para poder liberar o gás carbônico na
atmosfera, o que faz da tecnologia CCS uma alternativa mais barata.
"O problema é que não existe
um modelo de negócios para isso em terra firme", diz Sverre Overa, diretor
de projetos na Equinor. O imposto europeu atual de CO2 é de menos de 20 euros
por tonelada, apesar de haver previsões de que o valor deverá aumentar em 2019.
Talvez de forma um pouco
paradoxal, a experiência da Noruega com a exploração offshore de petróleo e gás
poderá trazer benefícios para o meio ambiente. A Gassnova está usando esse
conhecimento tecnológico para preparar uma infraestrutura de armazenamento de
CO2 que poderia ser implementada em toda a Europa.
O dióxido de carbono capturado
será liquefeito e transportado por navio para uma unidade na costa oeste da
Noruega. De lá, poderá ser canalizado para o Mar do Norte e bombeado cerca de 3
mil metros abaixo, para dentro de formações rochosas porosas.
"Se conseguirmos estabelecer
nossa própria infraestrutura, indústrias no Reino Unido, na Alemanha e em
outros lugares verão que, se capturarem as suas emissões, poderão realmente
enviá-las para algum lugar e alguém garantirá que o CO2 está armazenado de
forma segura", diz Sundset, da Gassnova.
Insiders da indústria
afirmam que já existe interesse no modelo de CCS norueguês em outras empresas
por toda a Europa. "A Noruega é, certamente, uma das pioneiras do CCS na
Europa, e realmente mostrou que CCS pode ser usado como tecnologia que ajuda a
reduzir emissões de CO2 em escala industrial", pondera Luke Warren, da
Zero Emission Platform (Plataforma Zero Emissões, em tradução livre), uma
organização que defende os interesses da indústria de CCS e de grupos de
pesquisa sobre o assunto e que também aconselha a Comissão Europeia sobre a
tecnologia.
Governos anteriores na Noruega
arquivaram projetos de CCS em larga escala, mas o governo atual forneceu os
fundos necessários para os projetos piloto até agora. Em sua última proposta de
orçamento, em outubro, o governo separou mais 71 milhões de euros para duas
unidades completas de captura de CO2 e para a infraestrutura
de armazenamento de dióxido de carbono sob o fundo do Mar do Norte até
2021.
O custo total foi estimado em 1,6
bilhão de euros. As empresas de energia Equinor, Shell e Total já estão
envolvidas no desenvolvimento do projeto de CCS da Noruega, arcando com parte
dos custos, em conjunto com o Estado norueguês. Mas ainda é preciso esperar
para ver quem pagará a maior parte da conta.
Lars Bevanger (rk) | Deutsche
Welle
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