domingo, 28 de outubro de 2018

Brasil | Defensores do jagunço entre nós? Vos arrenego!

Jorge Rocha* | opinião

Sei que este texto não satisfará os pressupostos do politicamente correto, mas como reagir quando, na véspera da eleição presidencial brasileira deparo com entrevistas televisivas a quem vem do outro lado do Atlântico, para buscar solução de vida em Portugal, e confessa perante as câmaras a preferência pelo jagunço? Que pensar, quando se sabe que mais do que um em cada dois brasileiros radicados entre nós também apoia o candidato fascista? Com pedido de desculpa prévio aos amigos brasileiros, que apoiam Haddad (saravá Nery!) dá vontade de fazer uma triagem e mandar de volta para as suas terras quem delas se some apesar de defender o indefensável. Porque, se sentem tão grande susto pelos «vermelhos», que vêm para aqui fazer num país em que eles assumem a governação?

Antes de me reformar dirigi uma empresa de serviços de engenharia, que contava com uns quantos operários brasileiros. Com os que menos se intimidavam com a diferença hierárquica ia discutindo as políticas implementadas por Lula e reconheço que não lhes fazia boa cara, quando se revelavam dele opositores. Quem me conhece melhor sabe que, nessas coisas, não uso punhos de renda. Mas acaso ainda estivesse no ativo e tivesse de ponderar na contratação de novos colaboradores, confesso que, sendo brasileiros, não deixaria de, subtilmente, aferir o que pensariam do seu país nesta conjuntura. E garanto que nunca daria trabalho a um entusiasta do jagunço por maiores, que fossem as competências demonstradas nos seus currículos. Na realidade sempre ajuizei as equipas que liderava de acordo com as suas qualidades humanas, mais do que quanto à experiência e conhecimentos especializados dos seus elementos. A vida profissional foi-me longa o suficiente para ter conhecido imensos casos de «vedetas» muito sabedoras, que se estampavam perante as dificuldades, em contraponto com voluntariosos ignorantes capazes de as vencerem, através da curiosidade e da inteligência.

Se ainda estivesse em condições de dar emprego aos que pretendem emigrar para o nosso país não desdenharia essa aferição e espero que assim suceda com quem anda nesta altura a decidir se os contrata ou não. Já temos entre nós tantos inimigos da Democracia, no que ela significa enquanto garantia das liberdades fundamentais, que aumentar-lhes o número e a influência só pode prejudicar o futuro dos nossos filhos e netos...

E nem dou particular crédito a um comentador que, esta tarde, num programa do canal ARTE, previa a impugnação do jagunço no prazo de dezoito meses por ser previsível o embaraço, que constituirá para os partidos em que apoiará a sua maioria na Câmara dos Deputados. Afinal alimentáramos essa esperança a respeito de Trump fundamentados na forma como chegara à Casa Branca com o apoio dos hackers  russos e ele lá permanece firme, de pedra e cal, a estragar tudo quanto possa estar ao seu alcance (vide a maioria reacionária agora conseguida no Supremo Tribunal). Por agora importa corroborar o que escrevia uma das irmãs Mortágua no «Público»: “o fascismo não é obra de um louco mas da legitimação da sua loucura.”

jorge rocha | Ventos Semeados

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