Jorge Rocha* | opinião
Sei que este texto não satisfará
os pressupostos do politicamente correto, mas como reagir quando, na véspera da
eleição presidencial brasileira deparo com entrevistas televisivas a quem vem
do outro lado do Atlântico, para buscar solução de vida em Portugal, e confessa
perante as câmaras a preferência pelo jagunço? Que pensar, quando se sabe que
mais do que um em cada dois brasileiros radicados entre nós também apoia o
candidato fascista? Com pedido de desculpa prévio aos amigos brasileiros, que
apoiam Haddad (saravá Nery!) dá vontade de fazer uma triagem e mandar de volta
para as suas terras quem delas se some apesar de defender o indefensável.
Porque, se sentem tão grande susto pelos «vermelhos», que vêm para aqui fazer
num país em que eles assumem a governação?
Antes de me reformar dirigi uma
empresa de serviços de engenharia, que contava com uns quantos operários
brasileiros. Com os que menos se intimidavam com a diferença hierárquica ia
discutindo as políticas implementadas por Lula e reconheço que não lhes fazia
boa cara, quando se revelavam dele opositores. Quem me conhece melhor sabe que,
nessas coisas, não uso punhos de renda. Mas acaso ainda estivesse no ativo e
tivesse de ponderar na contratação de novos colaboradores, confesso que, sendo
brasileiros, não deixaria de, subtilmente, aferir o que pensariam do seu país
nesta conjuntura. E garanto que nunca daria trabalho a um entusiasta do jagunço
por maiores, que fossem as competências demonstradas nos seus currículos. Na
realidade sempre ajuizei as equipas que liderava de acordo com as suas
qualidades humanas, mais do que quanto à experiência e conhecimentos
especializados dos seus elementos. A vida profissional foi-me longa o
suficiente para ter conhecido imensos casos de «vedetas» muito sabedoras, que
se estampavam perante as dificuldades, em contraponto com voluntariosos
ignorantes capazes de as vencerem, através da curiosidade e da inteligência.
Se ainda estivesse em condições
de dar emprego aos que pretendem emigrar para o nosso país não desdenharia essa
aferição e espero que assim suceda com quem anda nesta altura a decidir se os
contrata ou não. Já temos entre nós tantos inimigos da Democracia, no que ela
significa enquanto garantia das liberdades fundamentais, que aumentar-lhes o
número e a influência só pode prejudicar o futuro dos nossos filhos e netos...
E nem dou particular crédito a um
comentador que, esta tarde, num programa do canal ARTE, previa a impugnação do
jagunço no prazo de dezoito meses por ser previsível o embaraço, que
constituirá para os partidos em que apoiará a sua maioria na Câmara dos
Deputados. Afinal alimentáramos essa esperança a respeito de Trump
fundamentados na forma como chegara à Casa Branca com o apoio
dos hackers russos e ele lá permanece firme, de pedra e cal, a
estragar tudo quanto possa estar ao seu alcance (vide a maioria reacionária
agora conseguida no Supremo Tribunal). Por agora importa corroborar o que escrevia
uma das irmãs Mortágua no «Público»: “o fascismo não é obra de um louco
mas da legitimação da sua loucura.”
jorge rocha | Ventos Semeados
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