"O candidato que representa a violência e a
extrema-direita, Jair Bolsonaro, está perdendo apoio à medida que suas ideias e
seu caráter se tornam mais conhecidos da população. Bolsonaro é hoje a
expressão do que há de mais perigoso e ameaçador para a democracia, para a
liberdade e a vida dos brasileiros", avalia a presidente deposta Dilma
Rousseff em artigo; "O candidato da democracia, Fernando Haddad, está
ganhando apoio nos últimos dias porque muitos brasileiros perceberam que ele
encarna o desejo de preservação da democracia, da civilização e da
paz"
Dilma Roussef* | Brasil 247
As pesquisas desta semana estão mostrando que é possível uma
virada nesta eleição. Tanto o Ibope quanto o Vox Populi indicam que a
opinião de uma parte significativa dos eleitores está mudando. Entre segunda e
terça-feira, a diferença entre os dois candidatos tinha diminuído para 5 pontos
percentuais e, neste momento, é possível que já seja bem menor. Há sinais
claros de que pode ocorrer uma inversão.
O candidato que representa a violência e a extrema-direita,
Jair Bolsonaro, está perdendo apoio à medida que suas ideias e seu caráter se
tornam mais conhecidos da população.
Bolsonaro é hoje a expressão do que há de mais perigoso e
ameaçador para a democracia, para a liberdade e a vida dos brasileiros.
O candidato da democracia, Fernando Haddad, está ganhando
apoio nos últimos dias porque muitos brasileiros perceberam que ele encarna o
desejo de preservação da democracia, da civilização e da paz.
Os eleitores sabem, como Brecht alertou, que no
princípio a violência do governo de um autoritário pode atingir o “vermelho” do
lado, o ativista, o militante, a mulher, o negro ou o LGBT mas, mais cedo ou
mais tarde, atingirá a todos que vivem na mesma comunidade. A história ensina
que ninguém está a salvo diante de um governo fascista, eleito ou não.
A candidatura de Bolsonaro está morrendo pela boca. Quanto
mais ele fala, quanto mais exibe suas ideias e propostas, mais assusta as
pessoas; quanto mais se mostra, mais deixa claro a ameaça que representa à
Nação e ao povo.
É possível enumerar muitos motivos para negar o voto a
Bolsonaro e votar em Haddad no domingo. Vamos citar apenas dez.
1 Declarou que vai prender ou expulsar do país quem fizer
oposição ao seu governo. Chegou a anunciar que fará o candidato adversário
-Fernando Haddad – “apodrecer na cadeia”. Também disse que, se for
presidente, tratará os movimentos sociais que lutam por terra e moradia como
grupos terroristas.
2 Apoiou abertamente a volta da ditadura militar, a tortura
e o assassinato de opositores. São suas estas declarações “Eu sou favorável à tortura,
tu sabe disso”, e “o erro da ditadura foi torturar e não matar” – como se
assassinatos políticos não tivessem acontecido naquele período.
3 Silenciou quando seu filho, detentor de mandato
parlamentar, disse há dois meses num vídeo que basta “um soldado e um cabo”
para fechar o STF, caso o tribunal imponha alguma restrição à vitória do pai.
4 Aproveitou-se de centenas de milhões de mensagens via
whatsapp com fake news e ataques difamatórios contra os adversários, em serviço
ilegal pago por empresários que o apoiam.
5 Acumulou uma longa lista de atos de machismo e afronta às
mulheres, ao manifestar-se a favor de salários maiores para os homens (“porque
as mulheres engravidam”), votando contra os direitos trabalhistas às empregadas
domésticas e, no momento mais chocante de sua agressividade chula, dizendo a
uma parlamentar: “não te estupro porque você não merece”.
6 Defendeu a esterilização forçada das mulheres pobres, para
que não tenham mais filhos.
7 Adotou uma retórica preconceituosa contra pobres, nordestinos
e brasileiros que precisam de apoio do estado – para ele, gente protegida pelo
“coitadismo”.
8 Xingou os eleitores que não votam nele, acusando-os de ir
às urnas com “título de eleitor na mão e diploma de burro no bolso”.
9 Estimulou, com sua intolerância, uma parte de seus
seguidores e cometer todo o tipo de violência contra homens, mulheres, idosos,
negros e LGBTs . Muita gente tem sido agredida e há mortes registradas, como
Moá do Catendê, em Salvador, e o garçom de um bar, em Porto Alegre.
9 Foi condenado por racismo ao afirmar, em palestra,
que conheceu “um quilombola que pesava sete arrobas e que não serve nem para
procriar”.
10 Tornou-se, na prática, uma continuidade de Temer, o
presidente mais impopular da história, embora engane o eleitor se dizendo o
candidato contra o sistema.
Realizada no inicio da semana e publicada ontem, uma
pesquisa feita pelo Instituto Vox Populi confirma o que outras
pesquisas começavam a indicar: a distância entre Bolsonaro e Haddad está
diminuindo dia a dia, quanto mais a eleição se aproxima.
Segundo o Vox Populi, já havia chegado a apenas 5 pontos
percentuais (44% a 39%), o que, considerada a margem de erro, está perto de um
empate técnico.
Além disso, o Vox Populi e os demais institutos de pesquisa
estão mostrando um aumento da rejeição a Bolsonaro e uma diminuição da rejeição
a Haddad. Há um índice de pelo menos 17% de eleitores indecisos, cuja definição
pode mudar tendências na última hora.
A pesquisa indica que Bolsonaro perdeu apoio entre os
evangélicos, depois que pastores e fiéis de várias destas igrejas se
manifestaram contra o caráter violento e anticristão de sua campanha. Os
cristãos aprenderam no Evangelho e em sua prática religiosa que a verdade
liberta e a mentira escraviza.
Quem passa a conhecer melhor Bolsonaro, não vota nele. Quem
tem alguma dúvida, começa a optar pela serenidade de um candidato
democrático e civilizado. Pode não ser o nome de sua preferência, mas é o
candidato cuja biografia jamais incluiu ou incluirá a defesa da violência e da
intolerância contra quem quer que seja. Quem é contra a violência, escolhe
sempre a democracia.
*Dilma Rousseff é presidente eleita do Brasil, deposta por
um golpe parlamentar em 2016
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