sexta-feira, 19 de outubro de 2018

Pobreza e massa cinzenta


Quase uma hora depois do meio dia e apresentamos o Curto do costume, autoria do Expresso, hoje pela massa cinzenta de Valdemar Cruz. Avancemos, para não causar mais atrasos.

Hoje o tema roça a pobreza em Portugal numa vergonha de Orçamento. Triste, muito triste, por isso não dá para rir. Portugal é, provavelmente, onde há mais ladrões na classe dos grandes empresários e nos assim-assim. Descubram-nos. É vê-los a viver à grande e à portuguesa faustosamente, passando pelos portugueses que vão balindo, reunidos em rebanhos de mansidão e de assentimento cobarde, porque nem sabem que é possível ter sangue nas guelras e dar a volta a isto. Bem, mas para tal cada português tem por dever de antes dar a volta à massa cinzenta, olhando em redor e ver uns com tanto fausto e outros em casebres inabitáveis e refeições que para os cães e gatos de luxo são considerados de lixo. É assim a pobreza que nos cai em cima ainda antes de nascermos. Se somos pobres até antes de nascermos, jamais conseguiremos afastar essa perniciosa e contagiante pobreza da nossa estada na vida de sobrevivência. Apenas e só urge correr atrás de trabalho mal remunerado, sempre. Essa é a herança para os filhos, para os netos e restante prol de vindouros. Desses milhões só uns poucos fintarão os "cornos à desgraça"...

Cruz, o jornalista do Curto de hoje, aborda o tema. Resta deixar aqui os votos de um resto de dia melhorzinho que o de ontem para os que são mesmo pobres, e sempre. À volta de dois milhões, pelo menos, numa população tão reduzida. Pensem, usem a massa cinzenta. Olhem, em redor. Indignem-se e ajam de acordo com a receita da indignação. Defenda-se a justiça, a democracia, a paz, a valorização do respeito pelos Direitos Humanos e da Constituição da República. Ignorem-se alguns truques e alterações nela introduzidas por legisladores feios, porcos e maus… à mistura com uns quantos ladrões que pairam nas suas ilhargas. (MM | PG)

Bom dia este é o seu Expresso Curto

Pobres estamos, pobres nos eternizaremos?

Valdemar Cruz | Expresso

Vários ministros iniciam hoje em Bragança, Braga e Setúbal uma ronda pelo país que se prolongará até a próxima terça-feira, para explicarem aos militantes do PS as principais linhas orientadoras do Orçamento de Estado para 2019. Não lhes será difícil elencar um assinalável conjunto de medidas positivas, do ponto de vista do interesse das populações, como a reposição de rendimentos e direitos. É improdutiva e ociosa a discussão sobre o putativo eleitoralismo de um OE que, sem ser exaustivo, contempla um aumento das pensões de reforma; a distribuição de manuais escolares gratuitos até o 12º ano; abre novas, embora ainda duvidosas, perspetivas para o acesso à reforma a quem tem uma longa carreira contributiva; avança, mas pode ir mais longe, na descida da fatura da eletricidadeagrava o IMI dos prédios devolutos; e prevê uma diminuição dos preços dos passes sociais.

De tudo isto e muito mais falarão os ministros. Seguramente darão particular destaque à circunstância de o país se aproximar de um défice zero, o que tem sido muito aplaudido em diversificados setores, mas suscita um conjunto de interrogações para as quais valeria a pena encontrar resposta através de um debate alargado no país. O tão glorificado défice zero será compatível com a pobreza de um país sufocado pela incapacidade de dar passos cruciais para o seu desenvolvimento? A ideia do aluno bem comportado, que cumpre as regras, mas esquece as pessoas, pode ser tentadora para satisfazer as elites dirigentes da União Europeia, mas não será devastadora para os interesses reais do país que queremos ser?

Do que se trata é de saber se é este o programa político que quem dirige o país se prepara ou pretende deixar às próximas gerações de portugueses. E convém esclarecer isto muito bem. Em democracia não podem existir temas tabu. Até para que se perceba que o facto de os grandes partidos do sistema não se atreverem a discutir as regras impostas pela EU tem consequências objetivas. Implica a continuidade da degradação do Sistema Nacional de Saúde, da Escola Pública, do investimento sério em infraestruturas cruciais, como a ferrovia, e outros investimentos públicos inerentes ao funcionamento de um Estado ao serviço das populações.

O OE para 2019 dificilmente seria o Orçamento apresentado pela direita política. O OE para 2019, não obstante o fogo de artifício do défice zero, continua a ser o Orçamento de um país pobre, que jamais abandonará essa condição enquanto se mantiverem estes pressupostos. Talvez tenhamos de nos interrogar quando e como acaba o ciclo de pobreza. Ou tentar perceber que planos tem a EU – já que lá se ditam as regras – para inverter este ciclo depressivo com orçamentos de défice zero. Por fim, poderá ser necessário perguntar se, sendo Portugal um país pobre, é na pobreza que pretende eternizar-se.

OUTRAS NOTÍCIAS

O Tribunal da Relação de Lisboa decidiu que são ilegais os serviços mínimos, decretados em junho por um tribunal arbitral, relativamente à greve dos professores às avaliações. A Fenprof fala de uma “tremenda derrota em tribunal” para o Governo.

Afinal haverá um regime de transição para quem queira pedir reforma antecipada e não preencha os requisitos mínimos anunciados pelo ministro Vieira da Silva (63 anos de idade e 40 anos de descontos quando completou 60 anos).

São perigosos e podem andar armados os três arguidos que ontem fugiram do Tribunal de Instrução Criminal do Porto após o juiz lhes ter imposto pena de prisão preventiva. Os três são suspeitos de assaltos a idosos na região do Grande Porto.

Portugal vai acolher nas próximas semanas 150 refugiados oriundos do Egito. O Governo assumiu o compromisso de acolher mil refugiados até o final de 2019.

Hoje é o último dia da greve dos enfermeiros. Todos os serviços foram ou estão a ser afetados. A culminar a paralisação que afetou inúmeros serviços em todo o país, os sindicatos de enfermeiros realizam esta sexta-feira uma manifestação nacional em Lisboa e uma concentração junto ao Ministério da Saúde.

Maria Manuela Couto, responsável pelas empresas de comunicação Mediana, e SmartWin, entre outras, e mulher do presidente da Câmara Municipal de Santo Tirso, é uma das detidas na operação concretizada esta quinta-feira, no Turismo do Porto e Norte. Estão ainda detidos Melchior Moreira, presidente da entidade regional do Turismo do Porto e Norte de Portugal, e dois dirigentes daquela estrutura.

O Governo prevê uma despesa pública de €371,1 milhõesaté 2020 para concretizar medidas de adaptação às alterações climáticas. Grande parte deste valor destina-se a intervenções em terrenos agrícolas e florestais para prevenir incêndios rurais e à melhoria da gestão da água na agricultura, indústria e nas cidades.

O Benfica jogou ontem à noite contra o Sertanense e venceu por 0-3. Passa assim à quarta eliminatória da Taça de Portugal.

LÁ FORA

Poderá ser a queda de Balsonaro? A esperança faz parte da vida. Se for provado o esquema ilegal revelado pelo jornal Folha de São Paulo, segundo o qual empresários favoráveis ao candidato fascista estariam a pagar milhões de mensagens no WhatsApp com mensagens e notícias falas contra Fernando Hadad, candidato do Partido dos Trabalhadores, a candidatura pode vir a ser impugnada.

Milhares de pessoas estão a participar numa longa caminhada em direção à fronteira dos EUA. Fogem da fome e da violência da América Central, ao mesmo tempo que, aparentemente, ignoram a hostilidade de Donald Trump para com os imigrantes. O presidente dos EUA já reagiu e ameaça fechar a fronteira sul com o México se a marcha de migrantes continuar a caminhar para o norte.

Um homem, Maher Abdulaziz Mutreb, tido como companhia habitual do príncipe herdeiro da Arábia Saudita, entrou no consulado do país em Istambul poucas horas antes do desaparecimento do jornalista Jamal Khashoggi, de acordo com uma fotografia publicada ontem por um jornal turco pró-governo, relata o New York Times. Esta poderá se ruma peça chave para ligar o desaparecimento e possível morte do jornalista ao príncipe Mohammed bin Salman. Um dos suspeitos do assassinato morreu esta quinta-feira num acidente de carro, em Riade, capital da Arábia Saudita.

O Wahshington Post decidiu publicar a última coluna deixada escrita por Jamal Khashoggi. Intitulada “O que o mundo árabe mais necessita é liberdade de expressão”, Jamal escreve: “Os árabes (com a exceção da Tunísia) ou não recebem informação ou estão mal informados. Não podem abordar adequadamente, e muito menos falar em público, as questões que afetam a região e a sua vida quotidiana”.

Será a fraude parte do modelo de negócio das organizações Trump? A pergunta é colocado como título de um artigo de Adam Davidson ontem publicado pela revista New Yorker. O autor escreve ser “cada vez mais claro que, na linguagem das escolas de negócios, a principal competência da Organização Trump está em lucrar com falsas declarações, enganos e, potencialmente, fraudes”.

Como é que, sessenta anos após a sua publicação, se pode ou deve ler “Lolita”, de Vladimir Nabokov à luz dos novos tempos e das novas exigências desencadeadas por movimentos como #MeToo? O romance foi perturbante, foi proibido, foi escandaloso. Foi? Tem aqui algumas respostas para um tema de absoluta atualidade, e aqui algumas das 60 melhores e piores capas do livro produzidas em todo o mundo.

PRIMEIRAS PÁGINAS

Costa manda investigar falhas na integração de precários – Público

Milionários deixam dívidas superiores a 1,5 milhões – JN

Oliveira do Hospital. Faixas negras para receber o ministro da Agricultura – I

Mexidas na lei podem atrasar reformas em quatro anos – Negócios

A banca terá que assumir o imposto das hipotecas – El País

Líderes da EU prontos a ajudar May a vender o acordo do Brexit no Parlamento – Guardian

Departamento de juastiça investiga as dioceses da Pensilvânia acusadas de abuso sexual – New York Times

FRASES

“Mas quando é que fui feliz?”. António Lobo Antunes, escritor, no Público

“Estávamos preparados, mas a tempestade Leslie foi um fenómeno”. António Mexia, presidente executivo da EDP no Expresso Diário

“Parece-me claro que o Governo não tem o apoio nem do BE, nem do PCP, nem do PS para avançar com a medida das reformas antecipadas”. José Soeiro, deputado do BE

“É um homem sem palavra e sem responsabilidade". Assunção Cristas, líder do CDS, sobre António Costa e as posições do primeiro-ministro sobre o Infarmed

“Somos índios, resistimos há 500 anos. Fico preocupado é se os brancos vão resistir”. Ailton Krenak, líder indígena brasileiro no Expresso Diário

O QUE ANDO A LER

Em tempos de absoluta ditadura do efémero, surge quase como um bálsamo a possibilidade de leitura de um livro capaz de nos prender à memória de algo tão perene, tão aconchegante, tão sensível como a relação entre um neto e o seu avô. Falo da leitura da muito breve, mas muito bela novela da catalã Tina Vallès, intitulada “A Memória da Árvore”. É um dos textos mais envolventes e comoventes que me foi dado ler nos últimos tempos.

Avanço para a dramática lição de vida contida na biografia de Garrincha (“Estrela Solitária”, de Ruy Castro), a grande estrela do futebol brasileiro, campeão do mundo em 1958 e 1962.

Também a roçar o drama, a partir da história verídica ocorrida no Porto com a transexual Gisberta, morta na sequência de continuados maus tratos praticados por um conjunto de adolescentes, é imperdível “Pão de Açúcar”, do jovem Afonso Reis Cabral.

Termino com um desabafo de leitor interessado na diversidade de leituras da realidade, cada vez menos presente na comunicação social portuguesa. A mesma onde é possível propalar que a existência de um fascista como Balsonaro é, afinal, responsabilidade dos que sempre, de forma consistente e continuada, combateram o fascismo. A saber, e nomeadamente, a esquerda política e intelectual. Ocorreu-me tudo isso ao ler no “Nouveau Magazine Littéraire”, um interessante “dossier” que faz tema de capa com o título “O capitalismo já não dá resposta”.Trata-se, é bom esclarecer, de uma revista da área da social-democracia, insuspeita de qualquer desejo de derrubar o capitalismo, mas onde há espaço para este tipo de reflexões. O artigo de abertura, assinado por Christine Kerdellant, começa assim: “E se Marx e Schumpeter tinham razão? E se o fim do capitalismo – ou melhor, do seu último avatar, o neoliberalismo ocidental – estivesse escrito? O Brexit, a eleição de Trump, a tomada do poder por populistas em Itália ou o seu enraizamento na Europa de Leste, testemunham uma rejeição crescente pelas populações do sistema político-económico que prevalece desde meados dos anos de 1980, e que se caricaturou depois da crise de 2008”. Onde está a culpa, afinal?

Tenha um bom dia e um bom fim de semana.

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