Díli, 15 nov (Lusa) - Empresários
em Timor-Leste dizem estar a viver uma situação "dramática", com
dezenas de empresas fechadas, quedas de até 60% na faturação, dívidas
acumuladas do Estado por pagar e uma quebra total de confiança na economia
nacional.
Uma situação que afeta tanto os
empresários nacionais de grande a pequena dimensão como os investidores
estrangeiros, com um longo período de instabilidade política a alastrar,
particularmente este ano, à economia.
"Francamente, neste momento,
estamos todos os viver uma situação muito difícil. O mercado caiu muito, em
todos os setores, da construção civil às lojas e os atrasos nos pagamentos do
Estado não ajudam", disse à Lusa Oscar Lima, presidente da Câmara de
Comércio e Indústria timorense.
"Os dados que temos estimam
que as dívidas do Estado aos empresários já ultrapassam os 400 milhões de
dólares. E que mais de 300 pessoas já fecharam empresas, muitas
estrangeiras", explicou.
Oscar Lima diz que a quebra
económica afeta todos os setores, notando-se muito no retalho e restauração,
especialmente na capital, com muitos negócios fechados.
"Não podemos continuar
assim. Se não recebermos, se nada for feito para criar estabilidade, teremos
que começar a despedir mais pessoas ainda. Apelamos aos líderes para que
resolvam as coisas", afirmou.
"Até as lojas dos chineses
estão a passar mal", disse.
Jorge Serrano, dono do grupo GMN,
um dos maiores do país, diz muitos já se a arrependeram do investimento que
fizeram em Timor-Leste, perante uma grande "quebra de confiança" no
país.
"Estamos a ter de aguentar
as empresas praticamente sem receber. Os bancos não financiam porque não há
liquidez. Tenho 732 funcionários e isso representa um custo mensal elevado. E
até setembro a quebra de faturação foi de 60%", afirmou.
"Isto nunca aconteceu aqui.
Nem na crise de 2006 a
economia esteve assim", disse, referindo-se ao período, nesse ano, em que
o país quase entrou em guerra civil.
Serrano diz que muitos estão à
procura de outros mercados, inclusive timorenses, e que o mais grave é não
haver sinais de solução, com as empresas incapazes de aguentar mais tempo.
"Investimos e apostamos no
país também por responsabilidade, sentido de Estado. Mas temos de ganhar
dinheiro, senão não dá. Se não conseguimos sequer pagar custos, temos de
fechar", afirmou.
Vários empresários, de maior e
menor dimensão, ouvidos pela Lusa, confirmam a situação "dramática"
que afeta muitas empresas, com poucos ou nenhuns projetos públicos, atrasos no
componente de 'bens e serviços' e no pagamento de dívidas do Estado.
Muitos não querem dar o nome, mas
confirmam que tiveram de recorrer a linhas de crédito, que estão com problemas
em manter liquidez ou que, simplesmente, não têm clientes ou tiveram uma
redução significativa de vendas.
Empresas de contabilidade em
Timor-Leste confirmam a quebra no negócio, afirmando que empresas fecharam,
muitas estão com atividade suspensa, "a zeros", e que a maioria
reporta quebras de faturação significativas.
Vitor Costa, da empresa de
contabilidade Primos Boot, confirmou à Lusa que, entre os setores económicos
afetados, o da construção "é o de maior impacto", mas que a quebra se
nota também em setores como o retalho e a restauração.
"Já fechei quatro empresas
este ano, a maior parte da construção. Quase todos os setores notam perdas.
Quedas que em média são de 30%", explicou.
"Desapareceu um terço do
mercado. Pelo memos a nível de faturação", explicou.
"Há empresas que estão cá só
no papel, que deixaram Timor à espera que isto melhor. E com menos pessoas,
menos internacionais a consumir, isso vai influenciar anda mais na restauração,
nos supermercados, em toda a economia", disse.
Brígida Viegas, responsável da
Safe Accounting, empresa mais recente no mercado, diz que também se nota a
quebra na faturação, com destaque para a restauração, que algumas empresas se
registam "na esperança de poder arrancar" e que outras estão
"disponíveis para vender".
Entre os estrangeiros há mais
tempo em Timor-Leste, Tiago Barata, diretor do Hotel Timor, em Díli, também
confirma a queda no volume de negócio este ano.
"Desceu consideravelmente.
Menos 20% dormidas, marcações de eventos. E isso face a 2017 que já foi ano de
quebra, de cerca de 7%", disse.
"Não me lembro de ter havido
aqui uma situação idêntica ou pior que esta", disse.
ASP // FPA
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