terça-feira, 4 de dezembro de 2018

Moçambique | Elias Dhlakama, o próximo líder da RENAMO?


Elias Dhlakama, um homem pouco conhecido, até na RENAMO

Elias Dhlakama parece ser um homem discreto. Mas começa a estar debaixo dos holofotes. Elias Dhlakama é tido como um dos possíveis candidatos ao lugar do irmão, Afonso Dhlakama, na liderança da RENAMO.

Com a proximidade da escolha do novo líder da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), o nome de Elias Dhlakama tem sido citado com frequência, embora não seja do agrado de muitos membros.

Um dos seus trunfos foi ter vivenciado dois lados antagónicos, como oficial da RENAMO e como oficial do Exército moçambicano, e aparentemente ter mantido a neutralidade.

O percurso de Elias Dhlakama

O sucessor de Afonso Dhlakama, falecido a 3 de maio de 2018, será escolhido no próximo congresso do maior partido da oposição, a ter lugar de 15 a 17 de janeiro de 2019 em Gorongosa. Esperava-se que, entre 29 e 30 de novembro, tivessem sido apontados os nomes dos possíveis candidatos, durante o Conselho Nacional da RENAMO. Mas tal não aconteceu, pelo menos oficialmente, segundo o porta-voz do partido, José Manteigas.

"Em termos de candidatos, não se avançou, pelo menos em sede do Conselho Nacional. É óbvio que, a partir de agora, os possíveis interessados estão a preparar-se para lançar a sua candidatura", diz Manteigas em entrevista à DW África.

O que pesaria mais numa possível candidatura de Elias Dhlakama?

O irmão de Afonso Dhlakama é brigadeiro na reserva das Forças Armadas de Moçambique (FADM). Foi integrado há mais de 20 anos no contexto da inserção dos homens armados da RENAMO, passando, nos momentos de confronto militar, a estar do lado oposto a RENAMO. Possui dois graus académicos, uma licenciatura e um mestrado, e, não menos importante, o nome.

Segundo Silvestre Baessa, especialista em boa governação, a estratégia da RENAMO poderá passar por "manter vivo o nome mais representativo" do partido. Além disso, Elias Dhlakama tem um "conhecimento significativo" de dois lados opostos.

"Ele foi integrado no exército governamental e penso que isso é significativo, porque a doutrina militar da RENAMO não evoluiu muito nos últimos anos. Então, ele tem esse conhecimento em função da sua experiência como guerrilheiro e também no diálogo que foi estabelecido com o seu irmão, durante todo esse processo em que esteve do lado governamental", afirma Baessa.

Sobre a relação com Afonso Dhlakama pouco se sabe. No entanto, é de domínio público que tinham posições divergentes no que se refere a permanência de Elias Dhlakama nas FADM. Afonso Dhlakama, que achava que o irmão estava a ser humilhado pelas lideranças das FADM, defendia que ele deveria abandonar o exército. Mas Elias Dhlakama discordava de Afonso Dhlakama, alegando o dever patriótico.

Uma figura-chave, pouco conhecida

Por outro lado, ao que tudo indica, Elias Dhlakama não é uma figura consensual na RENAMO. Em setembro de 2018, ex-guerrilheiros do partido acusaram-no de querer tomar a liderança do partido sem ser eleito.

O facto de ter a experiência dos dois lados da moeda deverá ter-lhe custado um preço alto: um deficit de confiança em relação a sua pessoa, tanto da RENAMO como da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), partido no poder, que decide sobre o Exército nacional.

Por outro lado, Elias Dhlakama constituiu uma peça-chave. Só em 2018, por exemplo, foi nomeado duas vezes: primeiro, em fevereiro, para chefe do comando dos reservistas e depois, em setembro, para brigadeiro das FADM.

Essas elevações de categoria são entendidas como jogadas do Presidente da República e comandante em chefe das FADM, Filipe Nyusi, no contexto das negociações de paz com a RENAMO. Apesar de tudo isso, para alguns membros da RENAMO, Elias Dhlakama é quase um desconhecido, incluindo para o porta-voz do partido.

"Eu não conheço totalmente o perfil dele e, portanto, não estou em condições de prestar nenhuma informação sobre ele. E também não vejo uma pessoa próxima que possa falar dele. É uma pessoa com quem não tenho nenhuma convivência", diz José Manteigas.

Se optar pela sucessão na dinastia Dhlakama, a RENAMO poderá continuar a ser vista como pouco democrática. A lista de entraves que Elias Dhlakama enfrenta não é curta, tendo em conta que não reúne todos os requisitos para se candidatar a liderança da RENAMO. Os sete requisitos são: ter a nacionalidade moçambicana, ter idade mínima de 35 anos e 15 anos de militância, ser membro idóneo e de reconhecido mérito e ter ocupado uma posição de relevo no partido, como secretário-geral, membro do Conselho Nacional, da Comissão Política Nacional ou, por exemplo, do Conselho Jurisdicional, além de ter exercido no mínimo cinco anos de política ativa. Mas Elias Dhlakama não tem historial político. No entanto, a RENAMO pondera deliberar sobre algumas situações excecionais no congresso, marcado para janeiro. Nessa altura ficará claro quão desejado é Elias Dhlakama na RENAMO.

Nádia Issufo | Deutsche Welle

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