Elias Dhlakama, um homem pouco
conhecido, até na RENAMO
Elias Dhlakama parece ser um
homem discreto. Mas começa a estar debaixo dos holofotes. Elias Dhlakama é tido
como um dos possíveis candidatos ao lugar do irmão, Afonso Dhlakama, na
liderança da RENAMO.
Com a proximidade da escolha do
novo líder da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), o nome de Elias
Dhlakama tem sido citado com frequência, embora não seja do agrado de muitos
membros.
Um dos seus trunfos foi ter
vivenciado dois lados antagónicos, como oficial da RENAMO e como oficial do
Exército moçambicano, e aparentemente ter mantido a neutralidade.
O percurso de Elias Dhlakama
O sucessor de Afonso Dhlakama,
falecido a 3 de maio de 2018, será escolhido no próximo
congresso do maior partido da oposição, a ter lugar de 15 a 17 de janeiro de 2019 em Gorongosa. Esperava-se
que, entre 29 e 30 de novembro, tivessem sido apontados os nomes dos possíveis
candidatos, durante o Conselho
Nacional da RENAMO. Mas tal não aconteceu, pelo menos oficialmente, segundo
o porta-voz do partido, José Manteigas.
"Em termos de candidatos,
não se avançou, pelo menos em sede do Conselho Nacional. É óbvio que, a partir
de agora, os possíveis interessados estão a preparar-se para lançar a sua
candidatura", diz Manteigas em entrevista à DW África.
O que pesaria mais numa possível
candidatura de Elias Dhlakama?
O irmão de Afonso Dhlakama é
brigadeiro na reserva das Forças Armadas de Moçambique (FADM). Foi integrado há
mais de 20 anos no contexto da inserção dos homens armados da RENAMO, passando,
nos momentos de confronto militar, a estar do lado oposto a RENAMO. Possui dois
graus académicos, uma licenciatura e um mestrado, e, não menos importante, o
nome.
Segundo Silvestre Baessa,
especialista em boa governação, a estratégia da RENAMO poderá passar por
"manter vivo o nome mais representativo" do partido. Além disso,
Elias Dhlakama tem um "conhecimento significativo" de dois lados
opostos.
"Ele foi integrado no
exército governamental e penso que isso é significativo, porque a doutrina
militar da RENAMO não evoluiu muito nos últimos anos. Então, ele tem esse
conhecimento em função da sua experiência como guerrilheiro e também no diálogo
que foi estabelecido com o seu irmão, durante todo esse processo em que esteve
do lado governamental", afirma Baessa.
Sobre a relação com Afonso
Dhlakama pouco se sabe. No entanto, é de domínio público que tinham posições
divergentes no que se refere a permanência de Elias Dhlakama nas FADM. Afonso
Dhlakama, que achava que o irmão estava a ser humilhado pelas lideranças das
FADM, defendia que ele deveria abandonar o exército. Mas Elias Dhlakama
discordava de Afonso Dhlakama, alegando o dever patriótico.
Uma figura-chave, pouco conhecida
Por outro lado, ao que tudo
indica, Elias Dhlakama não é uma figura consensual na RENAMO. Em setembro de
2018, ex-guerrilheiros do partido acusaram-no de querer tomar a liderança do
partido sem ser eleito.
O facto de ter a experiência dos
dois lados da moeda deverá ter-lhe custado um preço alto: um deficit de
confiança em relação a sua pessoa, tanto da RENAMO como da Frente de Libertação
de Moçambique (FRELIMO), partido no poder, que decide sobre o Exército
nacional.
Por outro lado, Elias Dhlakama
constituiu uma peça-chave. Só em 2018, por exemplo, foi nomeado duas vezes:
primeiro, em fevereiro, para chefe do comando dos reservistas e depois, em
setembro, para brigadeiro das FADM.
Essas elevações de categoria são
entendidas como jogadas do Presidente da República e comandante em chefe das
FADM, Filipe Nyusi, no contexto das negociações de paz com a RENAMO. Apesar de
tudo isso, para alguns membros da RENAMO, Elias Dhlakama é quase um
desconhecido, incluindo para o porta-voz do partido.
"Eu não conheço totalmente o
perfil dele e, portanto, não estou em condições de prestar nenhuma informação
sobre ele. E também não vejo uma pessoa próxima que possa falar dele. É uma
pessoa com quem não tenho nenhuma convivência", diz José Manteigas.
Se optar pela sucessão na
dinastia Dhlakama, a RENAMO poderá continuar a ser vista como pouco
democrática. A lista de entraves que Elias Dhlakama enfrenta não é curta,
tendo em conta que não reúne todos os requisitos para se candidatar a liderança
da RENAMO. Os sete requisitos são: ter a nacionalidade moçambicana, ter idade
mínima de 35 anos e 15 anos de militância, ser membro idóneo e de
reconhecido mérito e ter ocupado uma posição de relevo no partido, como
secretário-geral, membro do Conselho Nacional, da Comissão Política
Nacional ou, por exemplo, do Conselho Jurisdicional, além de ter exercido
no mínimo cinco anos de política ativa. Mas Elias Dhlakama não tem
historial político. No entanto, a RENAMO pondera deliberar sobre algumas
situações excecionais no congresso, marcado para janeiro. Nessa altura ficará
claro quão desejado é Elias Dhlakama na RENAMO.
Nádia Issufo | Deutsche Welle
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