Futura Lei do Trabalho
“vulnerabiliza muito os trabalhadores, tem muitos sistemas de contratos
precários e inseguros” diz presidente da OTM
Adérito
Caldeira | @Verdade
O presidente da maior e mais
antiga organização sindical em Moçambique considera que a proposta de revisão pontual da Lei do Trabalho “vulnerabiliza
muito os trabalhadores, tem muitos sistemas de contratos precários e
inseguros”. A OTM pretende rever a possibilidade que existe para as Pequenas e
Médias Empresas(PME´s), nos primeiros 10 anos da sua actividade , celebrarem
livremente contratos a prazo certo, “nós pensamos que isso é absolutamente
injusto, não concorre com a necessidade de empregos seguros e empregos dignos
no nosso país”, afirmou Samuel Fenias Matsinhe.
“Depois de 42 anos de existência
desta organização continuamos a sentir que existem empregadores que ousam
impedir o livre exercício da actividade sindical, existem empregadores que
violam sistematicamente os direitos e liberdades sindicais dos trabalhadores,
perseguem e até chegam a demitir os sindicalistas mais activos nas empresas. Se
fecham ao diálogo social com vista a celebração de acordos colectivos de
trabalho que são instrumentos que tendem a normalização das relações laborais”
começou por afirmar o presidente da Organização dos Trabalhadores de Moçambique
(OTM) em conferencia de imprensa a propósito do VII Congresso da Central
Sindical que inicia nesta quarta-feira(05) na cidade da Matola.
Matsinhe assinalou que a reunião
magna acontece “num momento em que está muito avançada a revisão da Lei do
Trabalho. O movimento sindical é chamado mais uma vez a lutar pela defesa dos
direitos conquistados pelos trabalhadores desde a independência até hoje e que
constam da actual Lei do Trabalho”.
“Sabemos que a tendência é pela
flexibilidade laboral, pela liberalização da contratação da mão-de-obra,
sabemos que a tendência é pela redução do papel protector do Estado como
garante da Liberdade laboral” detalhou o presidente da OTM em alusão a
introdução na futura lei, que o Governo poderá apreciar e aprovar antes do fim
do ano, dos conceitos de trabalho intermitente e teletrabalho e a supressão da
obrigatoriedade da arbitragem como condição para o recurso aos tribunais ao
longo da Lei do Trabalho.
“Considera-se contrato de
trabalho intermitente aquele que o prestador de actividade realiza-a de forma
não contínua ou variável, verificando-se alternância de períodos de prestação
de actividade e de inactividade, por um ou mais períodos de inactividade
determinados em horas, dias ou meses, independentemente do tipo de actividade
do trabalhador e do empregador”, pode-se no Anteprojecto a que o @Verdade teve
acesso.
Patrões querem acabar com
mediação e arbitragem laboral em Moçambique
O documento, de iniciativa
governamental e que tem estado a ser debatido com os patrões e os sindicatos,
pretende ainda introduzir o teletrabalho como “a prestação da actividade
laboral que é realizada sob autoridade e direcção do empregador, habitualmente
fora do estabelecimento do empregador e com o recurso a meios de tecnologias de
informação e comunicação mediante o pagamento de remuneração”.
O @Verdade apurou que os patrões
recomendaram, e a proposta foi acolhida, a supressão da obrigatoriedade da
arbitragem como condição para o recurso aos tribunais ao longo da Lei do
Trabalho que está prevista no Artigo 184 da Lei do Trabalho ainda em vigor.
Na proposta de revisão pontual
“Os conflitos laborais podem ser submetidos à conciliação e mediação laboral
antes da sua remessa à arbitragem, ou aos tribunais do trabalho, salvo os casos
de providências cautelares.”
Além disso a Confederação das
Associações Económicas pretende que a competência para declarar o recurso
abusivo ou a inexistência das razões determinativas da aplicação do regime de
rescisão do contrato fundada em motivos estruturais, tecnológicos ou de mercado
seja apenas das autoridades judiciais e não inclua os órgãos de mediação e
arbitragem como actualmente está preceituado na lei.
Sindicatos não querem 10 anos de
contratos a prazo nas PME´s
Samuel Matsinhe disse ainda que
“o aspecto de fundo que preocupa o movimento sindical tem a ver com as
indeminizações (...)Hoje assiste-se aos despedimentos em massa uma vez é fácil
despedir trabalhadores por via da indemnização, qualquer dificuldade, qualquer
crise que se manifestar numa empresa a primeira coisa que se faz, antes de
esgotar todos os meios de resiliência, é despedir o trabalhador.
“A actual Lei do Trabalho, na
nossa opinião, vulnerabiliza muito os trabalhadores, tem muitos sistemas de
contratos precários e inseguros. Prevê o contrato a prazo certo, contrato a
prazo incerto e também diz que as Pequenas e Médias Empresas nos primeiros 10
anos da sua actividade podem, querendo, contratar livremente trabalhadores com
contrato a prazo” declarou o presidente da OTM sinalizando que a pretensão do
movimento sindical é reduzir esse período pois “um trabalhador que trabalhe 10
anos com contrato a prazo, com um contrato não permanente após 10 anos esse
trabalhador que idade é que tem, aonde mais é que vai conseguir emprego, e
termina o seu contrato de trabalho sem qualquer compensação, nós pensamos que
isso é absolutamente injusto, não concorre com a necessidade de empregos
seguros e empregos dignos no nosso país”.
O presidente mais antiga
organização sindical em Moçambique revelou que é candidato a sua própria
sucessão no Congresso que se realiza nos próximos dia 5 a 7 sob o lema “Pelos
Direitos Laborais e Sindicais a Luta Continua”.
Relativamente a mudanças nos
restantes corpos sociais que estão em funções de 2012 Matsinhe disse que
poderão haver, “naquele processo de renovação na continuidade, não vai haver
revolução”.
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