segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

Angola | Operação Resgate: "A única coisa que mudou é o nome"


Polícia prometeu reforçar "Operação Resgate", que está em curso em Angola. Mas críticos do Governo dizem que, para a população, "nada mudou" e lamentam falta de alternativas.

Para o politólogo angolano Agostinho Sicatu, a "Operação Resgate" não trouxe nada de novo. Segundo o especialista, a polícia continua a agir como no passado, antes da operação começar, em novembro.

"É uma operação que a polícia vem levando a cabo há algum tempo. A única coisa que mudou é o nome: 'resgate'. Mas são as mesmas ações, aumentou até o grau de tortura aos cidadãos. Hoje, os cidadãos vão tendo mais medo da polícia. Mas, de modo geral, não mudou absolutamente nada", afirma Sicatu. "Na vida do cidadão, não trouxe nenhuma novidade."

Promessa de "mais força"

A "Operação Resgate" visa "repor a autoridade do Estado". Até aqui, muitos estabelecimentos comerciais e igrejas já foram encerrados. Mas os fiéis continuam a exercer a sua liberdade religiosa, ainda que à porta fechada, como constatou a DW no Zango II, em Luanda. E, nas ruas da capital, as vendedoras ambulantes voltaram à sua atividade, embora de forma cautelosa.

polícia prometeu, para este ano, "mais força" na "Operação Resgate". Angola "precisa de ordem, disciplina e respeito pelas pessoas e instituições", afirmou na semana passada o comissário-chefe Paulo de Almeida.

O ativista Benedito Jeremias concorda que o Estado precisa de resgatar os seus valores, mas também defende medidas preventivas, como a criação de postos de trabalho para a juventude, a maior franja da sociedade no desemprego.

"É verdade que o Estado precisa de ser organizado, as instituições precisam de ser organizadas, a sociedade também deve obedecer às leis que estão estabelecidas para evitar o açambarcamento ou a danificação das instituições públicas, mas, para tudo isso, o Estado precisa de preparar-se."

Para Benedito Jeremias, o sucesso da "Operação Resgate" depende, em grande medida, da eficácia das políticas públicas.

Com a "falta de políticas públicas sérias, capazes de fomentar emprego de qualidade, as pessoas encontram no mercado informal uma alternativa para a sua empregabilidade", diz o ativista. "O Estado, ao tomar essas medidas, está a criar também dificuldades para as pessoas."

Manuel Luamba (Luanda) | Deutsche Welle

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