Era uma vez um Bolsonaro, da laia
fascista, eleito pelo eleitorado brasileiro. Tomou ontem posse da presidência
da República Federativa do Brasil. Houve pompa e circunstância e muitos odores
bolorentos vindos das antigas fossas de ditaduras e ditadores que já
anteriormente pulularam por aquele país prantado na América do Sul e a falar
português.
É dessa "novela" e atualidade que
Pedro Candeias dispõe os “quadros” do Expresso Curto de hoje. Pode ler a
seguir. Outros apontamentos e considerações que suscitam interesse também estão
incluídos no Curto. Vá lá. Não adiantamos mais. Somos breves nesta espécie de
apresentação. Acabamos a nossa tarefa por aqui. Bom dia. Bom ano… se deixarem e
conseguirem. Duvidamos que o tal “bom” afague a maioria dos que aqui nos lêem.
Avante. (PG)
Bom dia este é o seu Expresso
Curto
Deus, bala e família
Pedro Candeias | Expresso
Já deve ter lido por aí que o 38.º presidente do Brasil se chama Jair Messias
Bolsonaro, que o apelido é do lado paterno e que o primeiro e segundo nomes são
homenagens a dois personagens queridos da família: Jair, um futebolista de
quem o pai Bolsonaro era fã; e Jesus Cristo, a quem a mãe atribuía o...
38.º milagre pelo nascimento do filho no dia 21 de março de 1956, após uma
gravidez complicada.
A fonte destas informações é o livro “Jair Messias Bolsonaro – Mito ou Verdade”, escrito por Flavio Bolsonaro, filho do presidente brasileiro cujo slogan orelhudo na campanha foi “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos” e a quem os seus brasileiros devotos simbolicamente tratam por “Mito, Mito, Mito”. Como um Messias, percebem?, divinamente ungido, pelo que tudo parece estar ligado e às tantas não se distinguem os factos presidenciáveis do fato presidencial.
É provável que esta ambiguidade tenha ajudado o triunfo inesperado da caminhada “mais barata” da história do Brasil, como disse o novo presidente na tomada de posse numa das poucas referências económicas do seu discurso no Planalto. Uma candidatura assente em palavras fáceis, diretas, amplificadas sem contraditório nas redes sociais – uma câmara, um candidato, alguém escreve a mensagem e outro alguém carrega no botão de upload do vídeo. Simples, rápido e assustadoramente eficaz.
Aliás, a expressão “economia” surgiu apenas três vezes no discurso, o que não surpreende, pois são conhecidas as fragilidades de Bolsonaro nesta e noutras matérias estruturais; o métier dele são as emoções e a religiosidade de um povo formidável traído pela corrupção, pela criminalidade e pelo “viés ideológico” que subverteu as boas “tradições”, destruindo “famílias, alicerce da nossa sociedade”. Tudo isto será combatido por ele e com a ajuda d'Ele, que o salvou de um esfaqueamento mortal, parafraseando a abertura do sermão, perdão, da comunicação.
Pois então, Bolsonaro prometeu o regresso a essas convenções e, por outro lado, garantiu, com mais ou menos eufemismos, um estado policial e militarizado, e uma sociedade civil literalmente armada com “meios para se defender” pelo “direito à legítima defesa”. A propósito, estiveram 12 mil elementos de forças de segurança, entre bombeiros, polícias, militares do Exército, Marinha e Força Aérea na musculada tomada de posse com agentes à paisana, snipers, arame farpado e revistas minuciosas.
Ou seja, Bolsonaro confirmou as balas para atacar o bandidoaté agora defendido por “uma ideologia” que ele diz ser “socialista” e que tingiu o país com uma certa cor “nefasta”. “A nossa bandeira jamais será vermelha. Só será vermelha se for preciso o nosso sangue para mantê-la verde e amarela”, atirou Bolsonaro, soltando o papão comunista do alçapãoem plena Esplanada
dos Ministérios. O Partido dos Trabalhadores, o Partido Socialismo e Liberdade
e o Partido Comunista do Brasil não estiveram presentes.
Pelo meio do hino cantado com a mão no peito, ouviram-se frases de Trump em português do Brasil: “temos uma grande nação para reconstruir” e “trabalharei incansavelmente para que o Brasil se encontre com o seu destino e se torne a grande nação que todos queremos”. Trump reconheceu a sua própria voz na voz de Bolsonaro e foi obviamente ao Twitter dar-lhe os parabéns que rapidamente foram retribuídos na mesma rede social. Os falcões Viktor Órban (primeiro-ministro da Hungria) e Benjamin Netanyahu (primeiro-ministro de Israel), na primeira fila entre convidados, abraçaram-se energicamente e posaram para a posteridade com Bolsonaro.
O mundo já mudou.
A fonte destas informações é o livro “Jair Messias Bolsonaro – Mito ou Verdade”, escrito por Flavio Bolsonaro, filho do presidente brasileiro cujo slogan orelhudo na campanha foi “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos” e a quem os seus brasileiros devotos simbolicamente tratam por “Mito, Mito, Mito”. Como um Messias, percebem?, divinamente ungido, pelo que tudo parece estar ligado e às tantas não se distinguem os factos presidenciáveis do fato presidencial.
É provável que esta ambiguidade tenha ajudado o triunfo inesperado da caminhada “mais barata” da história do Brasil, como disse o novo presidente na tomada de posse numa das poucas referências económicas do seu discurso no Planalto. Uma candidatura assente em palavras fáceis, diretas, amplificadas sem contraditório nas redes sociais – uma câmara, um candidato, alguém escreve a mensagem e outro alguém carrega no botão de upload do vídeo. Simples, rápido e assustadoramente eficaz.
Aliás, a expressão “economia” surgiu apenas três vezes no discurso, o que não surpreende, pois são conhecidas as fragilidades de Bolsonaro nesta e noutras matérias estruturais; o métier dele são as emoções e a religiosidade de um povo formidável traído pela corrupção, pela criminalidade e pelo “viés ideológico” que subverteu as boas “tradições”, destruindo “famílias, alicerce da nossa sociedade”. Tudo isto será combatido por ele e com a ajuda d'Ele, que o salvou de um esfaqueamento mortal, parafraseando a abertura do sermão, perdão, da comunicação.
Pois então, Bolsonaro prometeu o regresso a essas convenções e, por outro lado, garantiu, com mais ou menos eufemismos, um estado policial e militarizado, e uma sociedade civil literalmente armada com “meios para se defender” pelo “direito à legítima defesa”. A propósito, estiveram 12 mil elementos de forças de segurança, entre bombeiros, polícias, militares do Exército, Marinha e Força Aérea na musculada tomada de posse com agentes à paisana, snipers, arame farpado e revistas minuciosas.
Ou seja, Bolsonaro confirmou as balas para atacar o bandidoaté agora defendido por “uma ideologia” que ele diz ser “socialista” e que tingiu o país com uma certa cor “nefasta”. “A nossa bandeira jamais será vermelha. Só será vermelha se for preciso o nosso sangue para mantê-la verde e amarela”, atirou Bolsonaro, soltando o papão comunista do alçapão
Pelo meio do hino cantado com a mão no peito, ouviram-se frases de Trump em português do Brasil: “temos uma grande nação para reconstruir” e “trabalharei incansavelmente para que o Brasil se encontre com o seu destino e se torne a grande nação que todos queremos”. Trump reconheceu a sua própria voz na voz de Bolsonaro e foi obviamente ao Twitter dar-lhe os parabéns que rapidamente foram retribuídos na mesma rede social. Os falcões Viktor Órban (primeiro-ministro da Hungria) e Benjamin Netanyahu (primeiro-ministro de Israel), na primeira fila entre convidados, abraçaram-se energicamente e posaram para a posteridade com Bolsonaro.
O mundo já mudou.
OUTRAS NOTÍCIAS
Sobre a ubiquidade de Marcelo Rebelo de Sousa: o presidente esteve em Brasília na tomada de posse, mas a meio da noite entrou televisão dentro com a tradicional mensagem de Ano Novo aos portugueses. E deixou recados e alertas para os políticos dos novos partidos, que devem ser responsáveis na mensagem que passam, pois o populismo está à distância de um discurso demagógico – e o populismo não serve pois abre espaço a coisas bem piores. Tipo o partido de Bolsonaro. Mas o PR também pediu mais transparência e políticos “mais confiáveis”, uma declaração que tem um subtexto claro: senhoras e senhores, cuidado com as presenças-fantasma no Parlamento, com as viagens inventadas e com os currículos mal-amanhados que não ficam bem a ninguém. Está aqui a análise do Expresso e as reações dos partidos estão aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.
De Belém (mais ou menos) para o resto do mundo do poder, Macron, Merkel e Putin disseram os seus discursos de Réveillon, devidamente contextualizados pela realidade que os rodeia. O líder francês pediu tempo aos “Coletes Amarelos”, identificou-se com a impaciência deles e deixou uma certeza: renunciar ao cargo está fora de questão. Merkel, por sua vez, pediu união entre os alemães e dessacralizou o isolacionismo crescente no Velho Continente. E Putin... bem, Putin falou sobre a Rússia que não pode depender de ninguém, a não ser dela própria, e que isso exige a colaboração de todas as pessoas.
Algumas pessoas ficaram feridas em três ataques em três cidades de três países diferentes, Tóquio (Japão), Bottrop (Alemanha) e Manchester (Inglaterra) – nos dois primeiros, dois homens conduziram carros sobre transeuntes com a clara intenção de matar por motivos diferentes: o japonês terá querido marcar uma posição ideológica contra “a pena de morte” com o seu pequeno citadino de frente amolgada e pára-brisas arruinado; o alemão procurou atropelar sírios e afegãos ao volante de um Mercedes prateado. Em Manchester, um agressor empunhando uma faca de cozinha com uma longa lâmina esfaqueou três indivíduos; as autoridades estão investigar o caso como se de um atentado terrorista se tratasse. A violência não tem fronteiras.
O espaço é a última fronteira e Ultima Thule é um objeto que fica a 6,4 mil milhões de quilómetros da Terra; é, por definição, um vestígio congelado da formação do sistema solar e foi sobrevoado pela sonda espacial New Horizons da Nasa que fotografou 900 imagens nos curtos instantes em que o sobrevoou a
Por falar em jornais, aquele em que trabalho traz-vos um resumo sobre o que muda em 2019 com o novo Orçamento do Estado: custos de vida, IRS e IRC, função pública, fraude e evasão fiscal e saúde, está tudo aqui.
MANCHETES
Correio da Manhã: “Negócios ruinosos da Caixa sem arguidos - em causa estão créditos na ordem dos 2,5 milhões de euros”
Jornal de Notícias: “Mortes na estrada atingem pior resultado em 22 anos - pelo menos 512 pessoas perderam a vida em
Público: “Bolsa de Lisboa sofre maior perda de empresas desde
A Bola: “A principal caraterística de um treinador é ser genuíno” – entrevista a Sérgio Conceição
Record: “Rafael Camacho a caminho do Sporting”
O Jogo: “Quero as 30 vitórias seguidas” – entrevista a Marega
FRASES
“Eu o que quis foi, apenas, apreciar a questão formal - mas toda a forma tem algum conteúdo - que era a aplicação da lei do Orçamento através de um processo negocial já agora no ano em que nos encontramos. Foi só isso”, Marcelo Rebelo de Sousa, críptico e evasivo, sobre a o veto ao diploma dos professores na chegada a Brasília para a tomada de posse de Bolsonaro
“Temos de ter segurança nas fronteiras e o muro [com o México] é muito importante para isso”, Donald Trump, em entrevista à amigável Fox, sobre o shutdown americano, os democratas, etc.
“Foi uma prestação fraca desde o primeiro minuto”, Marco Silva sobre a derrota do Everton diante do Leicester, a segunda consecutiva, terceira nos últimos cinco jogos disputados
“Estas alternâncias [de forma] acontecem connosco como também com outras equipas. Não sejamos líricos” Rui Vitória, lançando o Portimonense - Benfica desta noite
“Espero é que o Benfica não nos acuse da morte do adepto às portas do Estádio da Luz ou daquele com o very-light”, Pinto da Costa, em entrevista ao Jornal de Notícias
O QUE ANDO A LER
Cleo é apenas a Cleo e serve o Sr. Antonio e a Sra. Sofia, e os filhos deste casal, Toño, Paco, Pepe e Sofi, a avó Sra. Teresa, e, em certa medida, também serve o cão da família que faz o que os cães fazem nos sítios menos recomendáveis. Cleo é a criada desta ampla casa de dois andares e um anexo onde dormem as empregadas no chique barrio de Roma, na Cidade do México. Cleo é invisível, humilde, discreta e submissa, traços determinantes para conservar um trabalho desta natureza, e ela esforça-se por manter-se assim – ser destratada por patrões frustrados ou insatisfeitos, mas com um teto e o afeto das crianças, é melhor do que a vida miserável nas barracas em guetos enlameados.
E assim se apresenta “Roma”, o filme autobiográfico do mexicano Alfonso Cuarón que é uma homenagem à empregada que o viu crescer na Cidade do México. É uma história simples e dolorosa da separação de um marido e de uma mulher, de um namorico e do fim trágico de uma gravidez, de pobreza e de ostentação, de homens cobardes e mulheres corajosas, e de um amor difícil de explicar entre Cleo e quem lhe paga o salário. Está na Netflix e no cinema.
Quanto a leituras, recomendo o curtíssimo livro “A Angústia do Guarda-Redes Antes do Penalty” [Relógio D'Água], de Peter Handke, que é muito mais sobre o progressivo enlouquecimento de um homem socialmente alienado – com consequências irreversíveis para uma das suas amantes – do que sobre aquilo que o título poderá sugerir.
Por hoje é tudo, espero que o seu ano tenha começado da melhor forma e, se estiver ainda de férias, demore-se um bocadinho mais do que o costume nos sites Expresso, Tribuna, Blitz e Vida Extra. Pela parte que me toca, há muita bola para ver e sobre a qual ler nestes próximos dois dias. A cobertura mais original estará na Tribuna, à distância de um clique: Portimonense - Benfica (hoje, 20h), Sporting - Belenenses (quinta-feira, 18h),Manchester City - Liverpool (quinta-feira, 20h) e Aves - FC Porto (quinta-feira, 21h15).
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