Rui Sá | Jornal de Notícias |
opinião
A situação da Venezuela está na
ordem do dia há semanas (na verdade, há anos, desde que Chávez foi eleito
presidente...).
Parece evidente que o atual
momento foi desencadeado pelo apelo que a Administração Trump fez ao povo
venezuelano para se revoltar contra Maduro. Foi a partir desse apelo que surgiu
um até então desconhecido Guaidó (antes o rosto da Oposição era Capriles -
recordam-se?) a autoproclamar-se presidente interino, dando assim o
"pretexto" para uma nova fase do plano de ingerência internacional,
com o seu "reconhecimento" por vários países.
É minha convicção que o que está
em causa nesta ofensiva não é a democracia nem os direitos humanos (os mesmos
que procuram destituir Maduro são aqueles que defendem os déspotas da Arábia
Saudita que se dão ao desplante de assassinar um opositor no interior de uma
embaixada), nem a "crise humanitária" (veja-se como são pouco sensíveis
à verdadeira crise humanitária que se vive no Sudão ou na fronteira do México
com os EUA). E sei bem como terminaram outros processos semelhantes no Iraque,
na Líbia e na Síria. É para mim evidente que o que está em causa é haver, na
Venezuela, um Governo que não alinha com a "ordem vigente". O que até
podia ser "tolerado" se a Venezuela não tivesse as maiores reservas
petrolíferas do Mundo...
Bem sei que estas minhas
convicções (que não escamoteiam erros que tenham sido cometidos por Maduro -
quem não os comete quando a questão é trocar o velho pelo novo?) não são
acompanhadas por muitas pessoas (uns com ingenuidade, outros iludidos pela
desinformação e outros por convicção).
Mas, como português, creio ser
útil analisar a posição do nosso Governo. Que me parece completamente
desadequada! Não tenho ilusões que um Governo do PS, que tem como ministro dos
Negócios Estrangeiros alguém que "gosta de malhar na Esquerda",
pudesse manter, neste contexto, o reconhecimento de Maduro. Mas reconhecer
Guaidó, a reboque de Trump, parece-me, para além de injusto, completamente
desprovido de sentido de Estado. Que depois origina vergonhas como o regresso,
com o "rabinho entre as pernas", de forças dos GOE - proibidas de
entrar na Venezuela pelo respetivo Governo (ainda por cima depois de o nosso
ministro da Defesa ter referido a possibilidade do envio de tropas portuguesas
para a Venezuela!). Ou a consideração, óbvia, de que Portugal não é
"persona grata" no "Grupo de Contacto" (porque a criação de
pontes de contacto exige neutralidade).
Esta posição, à revelia da ONU e
do Direito Internacional, só agrava, assim, a situação. Sendo certo que, se
esta se agravar, com uma intervenção externa e/ou guerra civil, as centenas de
milhares de emigrantes portugueses sofrerão, como todos os outros venezuelanos,
as terríveis consequências.
*Engenheiro
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