terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

O trabalho infindável dos inspetores alimentares e sanitários timorenses


Díli, 19 fev (Lusa) -- As montanhas de caixas em que se misturam produtos de limpeza, mata-moscas, tabaco e bebidas gaseificadas, empilhadas no armazém de uma das lojas do centro de Díli, mostram o desafio para os poucos inspetores alimentares e sanitários timorenses.

"Infelizmente, só temos 12 inspetores, muito pouco. Já em março, com o Orçamento, teremos oportunidade para contratar cerca de 30 a 50 funcionários novos. Só para inspetores queremos contratar mais 20 pessoas", explicou Abílio Sereno, diretor da Autoridade de Inspeção e Fiscalização da Atividades Económicas, Sanitárias e Alimentares (AIFAESA), durante uma ação acompanhada pela agência Lusa.

No bairro de Audian, em Díli, onde decorreu a inspeção, há dezenas e dezenas de lojas, de maior ou menor dimensão, instaladas em espaços onde a confusão de produtos à venda é imensa, tanto na parte de venda ao público, como nos armazéns das traseiras.
Muitas das lojas são retalhistas, mas também grossistas e, por isso, há grande agitação, com caixas e caixas a chegar e a sair, ou para venda noutros pontos da cidade ou até do país.

E se a confusão de muitas das lojas é patente dentro do espaço visível ao público, a visita aos armazéns mostra uma confusão ainda maior, com temperaturas quentes, muito pó, toneladas de caixa empilhadas, em desequilíbrio e desordenadas.

Enquanto vários timorenses vão carregando uma camioneta com arroz, saco a saco de 50 quilos ao ombro, os inspetores da AIFAESA vão entrando no armazém, pegando aleatoriamente em caixas para verificar prazos de validade ou estado de conservação.

Parte do armazém está em obras -- há emaranhados de fio e muito pó de cimento -- e demoraria bastante tempo verificar tudo.

É em armazéns como este que se vê que a equipa é pequena para tanto que há a fazer, especialmente em Díli onde, o setor do comércio, tanto a retalho como a grosso, e a restauração, de pequena ou maior escala, aumentou significativamente nos últimos anos, de acordo com os novos registos anuais junto das autoridades timorenses, a maioria lojas e restaurantes.

Praticamente todos os produtos à venda -- com exceção de produtos agrícolas e algum do peixe e da carne consumidos -- são importados. A distância implica que muitos chegam ao país já com prazos de validade que, explicou Sereno, alguns tentam vender fora de prazo.

"Todos os produtos comercializados têm que obedecer ao regulamento e à legislação em vigor. As atividades desenvolvidas em Timor-Leste têm que estear de acordo com as licenças, temos que ver a validade dos produtos. Isso tudo faz arte da atividade de rotina", acrescentou o responsável.

"É uma situação idêntica à ASAE. Temos como missão a fiscalização e inspeção do cumprimento da legislação que regula toda a atividade económica aqui em Timor-Leste", disse.

Um processo que abrange tudo, como no supermercado Mei Mart, um dos maiores da capital, onde a equipa da AIFAESA aparece de surpresa, pede para comprovar licenças e depois inspeciona produtos tanto no armazém como nas prateleiras de venda ao público.

Carne e outros produtos congelados são verificados nos dois contentores nas traseiras do armazém e depois os inspetores espalham-se pela loja, verificando prazo de validade em farinha importada da indonésia, azeite português ou condimentos chineses e australianos.

"Algumas lojas funcionam sem ser de acordo com a licença que têm, mudam de endereço sem autorização para o efeito, ou iniciam atividades sem esperar pela licença de funcionamento", contou Sereno.

Produtos estragados ou fora de prazo à venda, produtos mal armazenados, problemas de higiene: infrações em que as sanções podem chegar aos 10 mil dólares ou, em alguns casos ao fecho temporário ou permanente.

É o caso de pelo menos "10 fábricas ilegais" de produtos derivados de soja (tofu e tempé) ou até de bebidas ilegais. E muitos restaurantes, autuados ou encerrados temporariamente, referiu o responsável.

"Já procedemos ao encerramento temporário de vários restaurantes. Cerca de 70 e tal estabelecimentos notificados para encerrar atividades durante 90 dias, que depois de cumprirem as notificações podem reabrir", contou.

Ações que representaram para os cofres timorenses receitas de 127 mil dólares em 2017 e de mais de 147 mil no ano passado, referiu Sereno, que antecipa ver aumentado esse valor, este ano, com mais inspetores na rua.

ASP // VM

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