Díli, 19 fev (Lusa) -- As
montanhas de caixas em que se misturam produtos de limpeza, mata-moscas, tabaco
e bebidas gaseificadas, empilhadas no armazém de uma das lojas do centro de
Díli, mostram o desafio para os poucos inspetores alimentares e sanitários
timorenses.
"Infelizmente, só temos 12
inspetores, muito pouco. Já em março, com o Orçamento, teremos oportunidade
para contratar cerca de 30 a
50 funcionários novos. Só para inspetores queremos contratar mais 20
pessoas", explicou Abílio Sereno, diretor da Autoridade de Inspeção e
Fiscalização da Atividades Económicas, Sanitárias e Alimentares (AIFAESA),
durante uma ação acompanhada pela agência Lusa.
No bairro de Audian, em Díli,
onde decorreu a inspeção, há dezenas e dezenas de lojas, de maior ou menor dimensão,
instaladas em espaços onde a confusão de produtos à venda é imensa, tanto na
parte de venda ao público, como nos armazéns das traseiras.
Muitas das lojas são retalhistas,
mas também grossistas e, por isso, há grande agitação, com caixas e caixas a
chegar e a sair, ou para venda noutros pontos da cidade ou até do país.
E se a confusão de muitas das
lojas é patente dentro do espaço visível ao público, a visita aos armazéns
mostra uma confusão ainda maior, com temperaturas quentes, muito pó, toneladas
de caixa empilhadas, em desequilíbrio e desordenadas.
Enquanto vários timorenses vão
carregando uma camioneta com arroz, saco a saco de 50 quilos ao ombro, os
inspetores da AIFAESA vão entrando no armazém, pegando aleatoriamente em caixas
para verificar prazos de validade ou estado de conservação.
Parte do armazém está em obras --
há emaranhados de fio e muito pó de cimento -- e demoraria bastante tempo
verificar tudo.
É em armazéns como este que se vê
que a equipa é pequena para tanto que há a fazer, especialmente em Díli onde, o
setor do comércio, tanto a retalho como a grosso, e a restauração, de pequena
ou maior escala, aumentou significativamente nos últimos anos, de acordo com os
novos registos anuais junto das autoridades timorenses, a maioria lojas e
restaurantes.
Praticamente todos os produtos à
venda -- com exceção de produtos agrícolas e algum do peixe e da carne
consumidos -- são importados. A distância implica que muitos chegam ao país já
com prazos de validade que, explicou Sereno, alguns tentam vender fora de
prazo.
"Todos os produtos
comercializados têm que obedecer ao regulamento e à legislação em vigor. As atividades
desenvolvidas em Timor-Leste têm que estear de acordo com as licenças, temos
que ver a validade dos produtos. Isso tudo faz arte da atividade de
rotina", acrescentou o responsável.
"É uma situação idêntica à
ASAE. Temos como missão a fiscalização e inspeção do cumprimento da legislação
que regula toda a atividade económica aqui em Timor-Leste", disse.
Um processo que abrange tudo,
como no supermercado Mei Mart, um dos maiores da capital, onde a equipa da
AIFAESA aparece de surpresa, pede para comprovar licenças e depois inspeciona
produtos tanto no armazém como nas prateleiras de venda ao público.
Carne e outros produtos congelados
são verificados nos dois contentores nas traseiras do armazém e depois os
inspetores espalham-se pela loja, verificando prazo de validade em farinha
importada da indonésia, azeite português ou condimentos chineses e
australianos.
"Algumas lojas funcionam sem
ser de acordo com a licença que têm, mudam de endereço sem autorização para o
efeito, ou iniciam atividades sem esperar pela licença de funcionamento",
contou Sereno.
Produtos estragados ou fora de
prazo à venda, produtos mal armazenados, problemas de higiene: infrações em que
as sanções podem chegar aos 10 mil dólares ou, em alguns casos ao fecho
temporário ou permanente.
É o caso de pelo menos "10
fábricas ilegais" de produtos derivados de soja (tofu e tempé) ou até de
bebidas ilegais. E muitos restaurantes, autuados ou encerrados temporariamente,
referiu o responsável.
"Já procedemos ao
encerramento temporário de vários restaurantes. Cerca de 70 e tal
estabelecimentos notificados para encerrar atividades durante 90 dias, que
depois de cumprirem as notificações podem reabrir", contou.
Ações que representaram para os
cofres timorenses receitas de 127 mil dólares em 2017 e de mais de 147 mil no
ano passado, referiu Sereno, que antecipa ver aumentado esse valor, este ano,
com mais inspetores na rua.
ASP // VM
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