Domingos de Andrade | Jornal de
Notícias | opinião
Durante três anos, 23 deputados
debateram propostas para aumentar a transparência no exercício de funções
públicas. No momento de votar os diplomas, algumas das principais mudanças em
discussão caíram por terra.
Os deputados continuam a poder
exercer em sociedades de advogados que trabalhem para o Estado, ou a acumular
funções em sociedades financeiras. Tal como ficou pelo caminho a obrigação de
lobistas revelarem os interesses que representam.
Na sua maioria, as mudanças de
última hora resultam da iniciativa do PSD. A que o PS solidariamente deu a mão,
na forma de abstenção, seguindo a velha tradição do bloco central. Quarta-feira
há nova reunião com outros temas polémicos sobre a mesa, relacionados com novas
regras para o pagamento de viagens e para os subsídios de residência.
Aguarda-se com expectativa até onde estarão os deputados dispostos a ir, numa
matéria que lhes diz diretamente respeito.
A desconfiança é a perceção
dominante entre os eleitores e sucessivos estudos comprovam a má imagem de que
os políticos gozam. Credibilizar e reforçar o rigor no exercício de funções
políticas é uma urgência, a bem da saúde da democracia. Não apenas porque o
país ganha, no seu todo, com mais competência e exigência no serviço público,
mas também porque lideranças fragilizadas abrem espaço a discursos populistas.
O Relatório Anual de Segurança
Interna traz inesperados alertas sobre o crescimento da extrema-direita e as
estratégias nacionalistas para conquistar votos em ano de duplas eleições,
europeias e legislativas. Temos mantido em Portugal uma aparente imunidade a
fenómenos que alastram a nível internacional, mas não nos iludamos. O risco
existe e é preciso vigiá-lo desde a raiz. Estar na política com seriedade e
total transparência é um contributo precioso para se encarar a política com o
respeito e a importância que efetivamente tem.
*Diretor do JN
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