A ex-Presidente da Libéria e
prémio Nobel da Paz falava, este sábado (06.04), no"Ibrahim Governance
Weekend", que decorre na Costa do Marfim, e no qual as migrações africanas
estão em destaque.
A Prémio Nobel da Paz e antiga
presidente da Libéria, Ellen Johnson Sirleaf, rejeitou, este sábado
(06.04), a ideia de "uma crise de migrações" e defendeu uma
"aliança entre a Europa e África" para criar "migrações legais e
seguras".
"[As migrações] vão continuar
a acontecer, por isso temos de aceita-las", disse.
Ellen Johnson Sirleaf falava na
sessão inicial do Fórum Mo Ibrahim, que este ano decorre na Costa do Marfim e
tem como temas a juventude, o emprego e as migrações africanas. E frisou
que "a maior parte dos [africanos] que vão para o estrangeiro fazem-no de
maneira legal, levam capitais e melhoram as economias dos países de
acolhimento. Recentemente houve muitos movimentos de jovens africanos e isso
criou medo em relação a este movimento".
Também o empresário e filantropo
Mo Ibrahim contestou a "perceção de que os africanos estão a encher a
Europa", sublinhando que os migrantes provenientes de África representam
apenas 14% das migrações mundiais.
O também patrono da Fundação Mo
Ibrahim frisou ainda que: "olhando para os números, vemos que não é o
caso. Há mais europeus e asiáticos a migrar do que africanos",
disse.
De acordo com os
dados anuais da Fundação Mo Ibrahim, os migrantes africanos que rumam à
Europa são na sua maioria jovens e instruídos, e quase metade são mulheres. É
por isso importante, entende Mo Ibrahim que se trace um retrato verdadeiro
destas migrações e se desmistifique a ideia de ameaça à segurança e
estabilidade associada às migrações.
Por sua vez, Stefano Manservisi,
diretor para o desenvolvimento Internacional e a Cooperação da Comissão
Europeia, sustentou, que a única crise é as das "pessoas que morrem nas
águas do Mediterrâneo". Para Manservisi, não se trata de conter os
migrantes em África ou na Europa, mas gerir este movimento em conjunto, através
de uma política de mobilidade entre os dois continentes.
"Tsunami de juventude"
Outro dos temas abordados por Mo
Ibrahim foi o futuro da juventude. O patrono da Fundação Mo Ibrahim entende que
África tem de "falar seriamente" sobre planeamento familiar porque os
recursos são insuficientes para gerir "o tsunami de juventude" que
representa o crescimento demográfico do continente.
"Não podemos continuar nesta
espiral de criar milhões de pessoas que chegam ao mercado de trabalho e não têm
emprego. Devemos falar seriamente sobre isto", defendeu Mo Ibrahim,
lembrando que este é um debate que envolve questões religiosas, sociais e de
mentalidade.
Para Mo Ibrahim, prevalece a
ideia de que são precisos mais filhos para tomar conta dos pais quando estes
forem velhos, mas o empresário defende que se as famílias tiverem recursos para
providenciar educação para dois filhos e eles forem bem-sucedidos, assumirão
essa função.
Por outro lado, sustentou, ter
seis ou sete filhos sem recursos para lhes proporcionar educação aumenta o
risco de não terem trabalho, ficarem dependentes e serem aliciados por
organizações terroristas como o Boko Haram. "Não temos tempo nem recursos
para gerir tantas pessoas", sublinhou.
África deverá concentrar em 2100
quase metade da população jovem mundial, 1,3 mil milhões de jovens
qualificados, aos quais o crescimento económico do continente deverá conseguir
responder com empregos ou perspetivas de mobilidade.
O "Ibrahim Governance
Weekend" reúne todos os anos, numa cidade africana, líderes políticos e
empresários, representantes da sociedade civil, instituições regionais e
multilaterais, bem como os principais parceiros internacionais de África
"para debaterem um tema crucial para o continente", segundo a organização.
Agência Lusa, Reuters, rl | em Deutsche Welle
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