domingo, 7 de abril de 2019

Ellen Johnson Sirleaf: "Parem de chamar crise à migração"


A ex-Presidente da Libéria e prémio Nobel da Paz falava, este sábado (06.04), no"Ibrahim Governance Weekend", que decorre na Costa do Marfim, e no qual as migrações africanas estão em destaque.

A Prémio Nobel da Paz e antiga presidente da Libéria, Ellen Johnson Sirleaf, rejeitou, este sábado (06.04), a ideia de "uma crise de migrações" e defendeu uma "aliança entre a Europa e África" para criar "migrações legais e seguras".

"[As migrações] vão continuar a acontecer, por isso temos de aceita-las", disse.

Ellen Johnson Sirleaf falava na sessão inicial do Fórum Mo Ibrahim, que este ano decorre na Costa do Marfim e tem como temas a juventude, o emprego e as migrações africanas. E frisou que "a maior parte dos [africanos] que vão para o estrangeiro fazem-no de maneira legal, levam capitais e melhoram as economias dos países de acolhimento. Recentemente houve muitos movimentos de jovens africanos e isso criou medo em relação a este movimento".



Também o empresário e filantropo Mo Ibrahim contestou a "perceção de que os africanos estão a encher a Europa", sublinhando que os migrantes provenientes de África representam apenas 14% das migrações mundiais.

O também patrono da Fundação Mo Ibrahim frisou ainda que: "olhando para os números, vemos que não é o caso.  Há mais europeus e asiáticos a migrar do que africanos", disse.

De acordo com os dados anuais da Fundação Mo Ibrahim, os migrantes africanos que rumam à Europa são na sua maioria jovens e instruídos, e quase metade são mulheres. É por isso importante, entende Mo Ibrahim que se trace um retrato verdadeiro destas migrações e se desmistifique a ideia de ameaça à segurança e estabilidade associada às migrações.

Por sua vez, Stefano Manservisi, diretor para o desenvolvimento Internacional e a Cooperação da Comissão Europeia, sustentou, que a única crise é as das "pessoas que morrem nas águas do Mediterrâneo". Para Manservisi, não se trata de conter os migrantes em África ou na Europa, mas gerir este movimento em conjunto, através de uma política de mobilidade entre os dois continentes.

"Tsunami de juventude"

Outro dos temas abordados por Mo Ibrahim foi o futuro da juventude. O patrono da Fundação Mo Ibrahim entende que África tem de "falar seriamente" sobre planeamento familiar porque os recursos são insuficientes para gerir "o tsunami de juventude" que representa o crescimento demográfico do continente.

"Não podemos continuar nesta espiral de criar milhões de pessoas que chegam ao mercado de trabalho e não têm emprego. Devemos falar seriamente sobre isto", defendeu Mo Ibrahim, lembrando que este é um debate que envolve questões religiosas, sociais e de mentalidade.

Para Mo Ibrahim, prevalece a ideia de que são precisos mais filhos para tomar conta dos pais quando estes forem velhos, mas o empresário defende que se as famílias tiverem recursos para providenciar educação para dois filhos e eles forem bem-sucedidos, assumirão essa função. 

Por outro lado, sustentou, ter seis ou sete filhos sem recursos para lhes proporcionar educação aumenta o risco de não terem trabalho, ficarem dependentes e serem aliciados por organizações terroristas como o Boko Haram. "Não temos tempo nem recursos para gerir tantas pessoas", sublinhou.

África deverá concentrar em 2100 quase metade da população jovem mundial, 1,3 mil milhões de jovens qualificados, aos quais o crescimento económico do continente deverá conseguir responder com empregos ou perspetivas de mobilidade.

O "Ibrahim Governance Weekend" reúne todos os anos, numa cidade africana, líderes políticos e empresários, representantes da sociedade civil, instituições regionais e multilaterais, bem como os principais parceiros internacionais de África "para debaterem um tema crucial para o continente", segundo a organização.

Agência Lusa, Reuters, rl | em Deutsche Welle

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