Mariana Mortágua* | Jornal de Notícias
| opinião
O Orçamento do Estado para 2018
foi elaborado com base nas projeções de receitas e despesas do Ministério das
Finanças.
Foi com base nesse exercício, que
estabeleceu um limite para o défice (1% do PIB), que foi negociado o aumento
das pensões, o financiamento dos passes ou a descida dos impostos sobre a
eletricidade. Todas estas medidas foram decididas dentro das fronteiras
estabelecidas pelas projeções orçamentais.
Em abril do ano passado, quatro
meses depois da aprovação do Orçamento, o Ministério das Finanças refez as suas
contas. As receitas superaram o estimado e as despesas ficaram aquém da
previsão. A margem financeira para políticas públicas revelou-se maior em cerca
de 600 milhões, mas o tempo das negociações tinha terminado e a meta do défice de
2018 foi revista 1% para 0,7%.
Quando chegou o momento de fechar
as contas do ano, tinham sobrado mais 500 milhões, também eles não investidos,
que fizeram o défice descer de novo para 0,4%.
Se o Ministério das Finanças,
essa máquina infalível, tivesse estado certo nas suas projeções, Portugal teria
beneficiado de mais 1100 milhões de investimento e ainda assim teria cumprido a
meta inicial de 1%. É demasiado dinheiro para apostar nos campeonatos europeus
da décima orçamental. Dinheiro que podia ter melhorado a vida de muita gente,
que podia ter reforçado serviços públicos ou novo investimento criador de
emprego.
Ao apresentar projeções
orçamentais erradas, que depois vão sendo revistas gradualmente, o Ministério
das Finanças encontrou uma forma de condicionar as escolhas políticas do
Parlamento e até a autonomia dos restantes ministérios.
É este o contexto em que o
Governo apresenta agora as projeções para os próximos anos, inseridas no
Programa de Estabilidade. A folga conseguida em 2018 será gasta na injeção de
1149 milhões no Novo Banco (que não estava totalmente prevista nas contas). Se
estivesse, seria impossível apresentar um défice de 0,2% do PIB, a caminhar
para inesperados 0% bem a tempo da campanha eleitoral.
Para o futuro, nada muito
diferente. São adiadas políticas que abram um ciclo de investimento nos
serviços públicos, que preparem o país para os desafios climáticos, que criem
emprego qualificado e estável. Resta apenas esta obsessão que ignora as
necessidades sociais e da economia, este objetivo que corre sempre à nossa
frente e a que alguém chamou, certamente por ironia, estabilidade.
*Deputada do BE
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