Era para ser esta quarta-feira a
maior manifestação de sempre na Venezuela. O autoproclamado presidente interino
antecipou-se, num vídeo filmado à porta da base aérea de La Carlota, rodeado de
duas mãos cheias de militares.
"O 1.o de Maio, o fim
definitivo de usurpação, começou hoje [terça-feira]", dizia Juan Guaidó,
anunciando ter conquistado os militares, único garante da força do poder do
presidente venezuelano que tenta há mais de três meses derrubar, Nicolás
Maduro. Guaidó pediu ao povo que descesse à rua e chamou à sublevação
"fase final da Operação Liberdade". Maduro desmentiu Guaidó e
anunciou estar a debelar um golpe de Estado, as redes sociais e televisões
foram limitadas e, ao final do dia, pouco se sabia. A não ser que a mobilização
nas ruas não era tão massiva quanto o esperado e que, mais uma vez, sobraram
imagens de confrontos que incluíram um blindado a avançar sobre manifestantes e
71 feridos ao final da tarde.
A questão permanecia a da
tendência dos militares. O dia começara com a libertação de Leopoldo López,
líder do partido Vontade Popular de Guaidó, a cumprir em prisão domiciliária
uma pena de 14 anos. Garantia ele que a libertação coube aos agentes do Serviço
Bolivariano de Informações que o vigiavam, que não contrariaram o indulto decretado
por Guaidó aos presos políticos. Ambos se encontrariam depois junto a La
Carlota, com o dito punhado de militares que pareceu manter-se à sua roda ao
longo do dia, até no comício promovido depois, com a já famosa imagem de um
megafone brandido de cima do tejadilho de um carro.
Versão norte-americana
Mais adiante, López afirmaria aos
jornalistas que tudo estava a ser feito em contacto com elites militares e,
até, com membros do Governo de Maduro. Dos EUA, que apoiaram imediatamente a
operação, o conselheiro para Segurança Nacional da Casa Branca, John Bolton,
garantiria pouco depois que o presidente do Tribunal Superior de Justiça, altas
patentes militares e o ministro da Defesa, Vladimir Padrino López, eram
defensores da saída de Maduro. Ora, o próprio Padrino denunciaria "uma
tentativa de golpe de Estado de magnitude medíocre" e republicava tweets
alheios glorificando o presidente. E Maduro garantia ter falado com todas as
hierarquias militares e obtido garantias de lealdade, aplaudindo "nervos
de aço".
Já à noite, regressava a polémica
vinda de Washington. O secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, completava a
informação de Bolton, assegurando que o próprio Maduro estaria pronto a
descolar para Cuba, mas foi convencido a ficar pela Rússia, apoiante fiel (e
credor) do Governo de Caracas, apesar de, alegadamente, parte dos seus
ministros defender essa partida.
Nas ruas, Guaidó mantinha consigo
a mesma quantidade de militares e López refugiava-se com a família na Embaixada
do Chile, enquanto 25 militares de baixa patente pediam asilo na Embaixada do
Brasil. "Os levantamentos militares parciais não mobilizam a tropa",
recorda o "El País". E Maduro - que não apareceu durante o dia -
contava, logo às primeiras horas da "operação", com a mobilização da
Guardia Nacional, das Forças de Ações Especiais e dos "motorizados,
coletivos e milícias".
Guaidó antecipou-se ao 1.o de
Maio para marchar até Miraflores. Esta quarta-feira, terá lá à sua espera esta
barreira provavelmente impossível de vencer.
Ivete Carneiro | Jornal de Notícias
| Foto: EPA/Miguel Gutierrez
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