Inês Cardoso | Jornal de Notícias
| opinião
Nas últimas semanas
intensificaram-se ações de buscas e processos por corrupção e tem vindo a
agigantar-se a perceção de que somos um país minado por práticas abusivas,
agora com as autarquias a ganhar peso.
O aumento do número de inquéritos
pode ser visto noutra perspetiva: a de que ganhámos capacidade de investigação
e de combate a estes crimes. Investigar, punir e criar condições para o rigor
na vida pública é essencial para pôr fim ao que parece ser uma doença endémica.
Para isso é essencial celeridade
nos processos. Porque esse é um direito dos que se veem envolvidos e
incriminados, mas também porque estão em causa interesses públicos que fazem
com que o resultado destes inquéritos diga respeito a toda a comunidade. Convém
nunca esquecer que há diferenças sucessivas entre fazer buscas, acusar e
condenar, portanto é crucial perceber o que fica no final dos processos, quando
de facto transitam em julgado.
Como cidadãos cabe-nos ser
exigentes com os titulares de cargos públicos, mas devemos aplicar da mesma
exigência aos nossos próprios juízos e critérios. Temos de ser intransigentes
com a corrupção e o tráfico de influências, mas os juízos fazem-se na justa
medida dos factos apurados.
Sem essa clarificação, e com
espetáculos mediáticos em torno de operações com nomes pomposos, há o risco de
condenação prévia e de nivelação de casos distintos. Da criação de uma falsa
sensação de que todos os políticos são corruptos e iguais. Não são e a desqualificação
da função e dos atores políticos empobrece-nos a todos.
O tempo da justiça não é o tempo
dos média e percebe-se que nem sempre as respostas surjam ao ritmo pretendido
pela informação e pela opinião pública. Mas também não é o tempo dos arguidos.
Como não é o tempo das empresas e da economia. Muito menos o tempo dos cidadãos
e do interesse público. E essa é a maior tragédia da morosidade do sistema.
*Diretora-adjunta
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