Mariana Mortágua | Jornal de Notícias
| opinião
Quando o Bloco de Esquerda
decidiu transformar em projeto de lei a proposta de Luís Arnaut e João Semedo
para uma nova Lei de Bases da Saúde, não o fez apenas para marcar uma posição.
Fizemo-lo à procura de uma
maioria parlamentar que se unisse em torno de uma solução de longo prazo para o
SNS. Uma solução que recuperasse o seu caráter público e universal, afastando
de vez a predação dos privados imposta por Cavaco Silva, autor da atual Lei de
Bases.
Foi em nome dessa convergência
que aceitámos depois trabalhar a partir de um texto proposto pelo PS, que não
correspondia à nossa redação original. Desde o início que colocámos, no
entanto, três condições para uma negociação: o fim das PPP, a eliminação das
taxas moderadoras, e o caráter supletivo do privado (ou seja, que o SNS só
contrate com o privado quando ainda não tem capacidade). O Governo aceitou
todas estas condições, para depois recuar numa delas, o fim das PPP.
Não é este o momento de discutir
esta mudança de posição. O facto é que ela criou um impasse nas negociações. O
PS não quer colocar na lei a garantia da gestão pública dos hospitais públicos,
mas não pode impor ao Bloco a aceitação das PPP como condição para uma nova Lei
de Bases. O Bloco não votará uma lei que abre as portas à gestão privada de
hospitais públicos. Essa era, desde início, uma das três condições que muito
claramente colocámos em cima da mesa.
O impasse tem, pois, que ser
resolvido, pois seria triste que a Lei de Bases inspirada por Semedo e Arnaut
ficasse pelo caminho pela insistência do PS em manter a possibilidade de
futuros hospitais PPP.
Para procurar um consenso que
salve o trabalho que já foi feito, o Bloco propôs ao PS uma solução. A nova Lei
de Bases não se pronunciará sobre as PPP, que ficarão remetidas para lei
própria, a aprovar na próxima legislatura. Em contrapartida, o atual regime jurídico
das PPP, aprovado pelo Governo de Durão Barroso, deve ser revogado, garantido
que as atuais PPP não poderão ser renovadas.
Se não existe neste momento uma
maioria parlamentar que garanta que a gestão do SNS no futuro será pública,
então essa decisão deverá ser tomada pela maioria que se formar na próxima
legislatura. É por isso importante que todos os partidos assumam com transparência
as suas posições sobre esta matéria. Até lá, o país terá ganho uma nova Lei de
Bases da Saúde, aprovada à Esquerda, que afaste de vez o fantasma do Governo de
Cavaco Silva do SNS.
*Deputada do BE
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