“Samakuva é candidato à
presidência da UNITA” foi a manchete da edição de 23.07.2019 do Jornal de
Angola, que mais uma vez suscitou críticas de milhares de angolanos e não só,
que desde o final de 2017 esperam que o líder do maior partido político da oposição
angolana cumpra com o que prometeu numa entrevista à Rádio France Internacional
(RFi): “Perca ou ganhe, vou deixar a liderança da UNITA”.
Pedrowski Teca | Folha 8 | opinião
“Está desfeito o mistério. Isaías
Samakuva vai mesmo recandidatar-se à liderança da UNITA, no XIII Congresso do
partido, que se realiza entre os dias 13 e 15 de Novembro deste ano”, lê-se no
artigo do Jornal de Angola, baseado numa alegada fonte anónima que supostamente
desvendou informações presumivelmente anunciadas por Isaías Samakuva durante a
recente décima reunião ordinária do Comité Permanente da Comissão Política da
UNITA.
Na liderança da UNITA desde 2003, a longevidade de
Isaías Samakuva na presidência do partido do Galo Negro é maioritariamente
justificada por motivos estatutários que não limitam o número de vezes que um
militante deve recandidatar-se ao cadeirão máximo daquela organização.
Como presidente da UNITA,
Samakuva conseguiu unir, organizar e expandir em todo o território nacional, as
estruturas de um partido político que ascendeu de uma guerra de mais de três
décadas. Com a sua calma e sabedoria, várias vezes tomou decisões que se
consubstanciaram na manutenção da paz e estabilidade política em Angola. É, no
entanto, parte dos seus créditos do ano corrente, o acto fúnebre dos restos
mortais do líder fundador da UNITA, Jonas Malheiro Savimbi, retidos pelo regime
do MPLA desde que tombou em combate, em 2002.
Porém, os 16 anos de liderança de
Isaías Samakuva não têm sido apenas um “mar-de-rosas” na UNITA, onde o mesmo
concentrou o poder à sua volta, sendo acusado de nepotismo e amiguismo,
cercando-se de bajuladores que priorizam os seus interesses pessoais em
detrimento da causa dos angolanos e dos militantes em particular.
A persistência de Samakuva na
liderança do partido do Galo Negro e consequentemente algumas decisões tomadas,
causaram a desvinculação de grandes figuras daquele partido, a título de
exemplo: o político Abel Epalanga Chivukuvuku.
A longevidade e a apetência de
Isaías Samakuva ao poder na UNITA são criticadas por este não ter apenas sido
derrotado nas Eleições Legislativas de 2008 e nas Eleições Gerais de 2012 e
2017, mas também por ter sido incoerente nas suas promessas de desafiar as
fraudes eleitorais, acabando sempre por engolir sapos, na prática, aceitando os
resultados.
Diante de críticas, ao
recandidatar-se para mais um mandato no XII Congresso da UNITA em 2015, ficou
patente que Isaías Samakuva tornava-se cada vez mais parecido com o ex-ditador
José Eduardo dos Santos, quando aquele conclave oficializou no Artigo 50° dos
seus Estatutos, algo que esteve omisso desde a fundação do partido: “O número
de mandatos do Presidente da UNITA não é limitado”.
Portanto, diante de sucessivas
quebras de promessas feitas, a pior das situações é o não cumprimento da
promessa assumida antes da Eleições Gerais de 2017: “Perca ou ganhe, vou deixar
a liderança da UNITA”.
Tendo em conta o que está
plasmado nos Estatutos e no Regulamento Interno da UNITA, aprovados no XII
Congresso em 2015, Isaías Samakuva já não cumpre com os seguintes requisitos:
“Ter autoridade política e moral (não ser corrupto e imoral ou falso moralista);
Ter boa conduta política, moral e cívica comprovada; Ser aceite pelas bases do
Partido”.
Aos 73 anos de idade, o actual
presidente da UNITA deve dar lugar a outros candidatos porque, sem autoridade
política e moral, não está apenas a afundar aquele que é o maior partido
político da oposição angolana, aniquilando a democracia partidária, como também
está a asfixiar a luta pela conquista da mudança política em Angola.
Por esta altura, as pessoas
esclarecidas já perceberam que o silêncio sepulcral de Isaías Samakuva, quanto
à candidatura ou não à sua sucessão no XIII Congresso da UNITA, faz parte de
manobras que visam a sua perpetuação no poder.
Samakuva está gradualmente a
empurrar com a barriga a sua intenção de permanecer na presidência da UNITA. E
desta vez, com ajuda dos seus bajuladores, está a utilizar o silêncio
ensurdecedor para medir a pulsação dos militantes em particular e dos angolanos
em geral.
Através dos seus bajuladores, já
ouvimos vários “contos pró boi dormir” na Rádio Despertar, e uma dessas
historietas é que Isaías Samakuva deve permanecer na presidência da UNITA
porque é a pessoa que melhor está capacitada para dirigir o partido nas
Eleições Autárquicas de 2020, e que um outro candidato não poderá granjear
experiência e aceitação necessária neste curto período de cerca de um ano.
Em suma, Isaías Samakuva e os
seus bajuladores estão a usar vários artifícios de manobras e manipulação no
intuito de em Setembro, aquando da apresentação oficial das candidaturas, mais
uma vez afirmarem que “estão simplesmente a cumprir com a vontade expressa dos
militantes que ainda o querem manter na presidência da UNITA”.
A actual liderança da UNITA,
especialmente o mais velho Isaías Samakuva, deve parar com este processo de
auto-vitimização diante das persistentes críticas sobre a longevidade e a falta
de autoridade política e moral. Samakuva está errado e é a causa ou o
provocador destas críticas porque não cumpre com a palavra dada e permanece
numa indefinição através do silêncio.
O silêncio de Samakuva quanto ao
seu futuro político não beneficia em nada a UNITA, se não a sua própria
continuidade no poder partidário. Honestamente, as ocorrências levam-me a
acreditar que Isaías Samakuva irá concorrer novamente à sua sucessão.
E como está cada vez mais parecido
com os actos de José Eduardo dos Santos, está sendo triste ver o mais velho
Isaías Samakuva correndo o risco de ser forçado a reformar-se da vida política
activa.
É desejável que o mais velho saia
com os seus próprios pés, pois um anúncio tardio, que já não irá candidatar-se,
deixará a impressão de que o mesmo apenas desistiu por causa da pressão,
beliscando assim o seu legado.
O enterro dos restos mortais de
Jonas Malheiro Savimbi, em Lopitanga, foi um grande feito, cuja avalanche de
solidariedade devia ser aproveita por Isaías Samakuva para uma triunfante
retirada na vida política activa.
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