domingo, 7 de julho de 2019

Angola | TEMOS “CAIMANEROS”!


Martinho Júnior, Luanda 

… De repente, nossos “caimaneros”, tantas e tantas vezes atirados às urtigas, saem da viciada comodidade de suas conchas, empertigam-se e começam a afirmar-se entre os “incomodados” do presente!...

01- Dia 20 de Junho de 2019, no acolhedor anfiteatro do Centro de Imprensa Aníbal de Melo situado na baixa de Luanda, alguns dos angolanos que se reveem nas correntes lapidares de pensamento e acção de Agostinho Neto e de Fidel, encheram o espaço, animando-o com suas legitimamente “incomodadas” preocupações.

Realizou-se a primeira Conferência sobre “o impacto da formação de quadros no processo de desenvolvimento de Angola”!

Temas como economia, saúde e agricultura estiveram sobre a mesa, apresentadas por ilustres “caimaneros”, prelectores que reflectiram a electrização de nossos dias, não fugindo à controvérsia de que a actual conjuntura é pródiga.

A “batalha das ideias” em Angola está finalmente a deixar de ser “letra morta”, ou mera “figura de estilo” ao sabor dos interesses e conveniências das “novas elites” (?) servis da corrente capitalista neoliberal!

Registo desde logo com satisfação a disponibilidade dos “caimaneros”, capazes como ninguém de unir a transatlântica amizade Angola-Cuba, com uma espectativa:

Como, aqueles cuja educação se forjou na ardência das projecções socialistas, estão hoje capacitados, com salutar disponibilidade pedagógica, a intervir justamente nas múltiplas “transversalidades” socioculturais, sociopolíticas, ideológicas e práticas, que a actual conjuntura propicia em Angola?

02- Foi dado (finalmente) um “pontapé de saída” através dum ciclo de conferências que, com o manancial “caimanero” alimentará mensalmente a animação do Centro de Imprensa Aníbal de Melo ou de outros lugares afins…

As palavras do Encarregado dos Negócios de Cuba em Angola foram enfáticas nesse sentido!

A espectativa será a de avaliar por um lado o potencial energético mental e humano dos milhares de “caimaneros” disseminados por tantos sectores de actividade em todo o espaço nacional, por outro a de avaliar entre as manifestações dos “incomodados”, até onde chega o“incómodo” e a legitimidade de suas dignas aspirações, quando se impõe a “batalha das ideias”!

 

03- O enquadramento humano da plateia, a 20 de Junho de 2019, pareceu-me também justo e aferido ao momento, mas o ciclo deve-se tornar, conferência a conferência, mais amplo, mais abrangente e mais participativo!

No meu modesto ponto de vista, foi excelente e oportuna a presença e a intervenção de diplomatas amigos de Cuba Revolucionária e da Venezuela Bolivariana, mas há mais corpo diplomático a resolutamente atrair à causa da “batalha de ideias”, se levarmos em conta as características deste mundo globalizado!

As palavras do Digníssimo Embaixador da Venezuela Bolivariana, Marlon Peña Labrador, são um incentivo para a abrangência e também para a necessidade de constante busca de clarividência e de sabedoria que não se pode alguma vez perder de vista, no largo caminho que há a trilhar para uma cultura de inteligência patriótica em Angola!

A “batalha das ideias” propicia inventários, balanços, ao mesmo tempo que o fortalecimento das convicções e dos princípios abrangentes, por que tudo isso faz parte da criatividade multidisciplinar, tal como das iniciativas integradoras e participativas.

Os contactos que se podem forjar ciclo a ciclo, abrem as portas para outras práticas capazes de vencer letargias, vícios, acomodações perniciosas, mentalidades formatadas a processos de velada assimilação, podendo repercutir sucessivas “pedradas no charco” que não se podem perder em labirintos abstractos e improfícuos!

Transformar conceitos, ideias e projecções em capacidades de acção energética e mobilizadora será, na minha opinião, talvez um dos grandes desafios da cultura de inteligência patriótica que também não pode, nem deve, deixar de integrar esta comunidade potencialmente interventora, animada de vigor discursivo, de solidariedade social e ávida de salutar futuro!

Muito agradeço o convite para estar presente, convite esse que me foi formulado pelo meu camarada e amigo, Professor Fernando Jaime, uma lúcida e “incomodada” referência entre os “caimaneros”, sobretudo os filiados na Associação de Amizade Angola-Cuba, ele próprio também interventor nesta primeira Conferência!

Lembro o que aconteceu de forma tão clarividente e convicta nos primeiros dias da independência angolana, sob a égide do Presidente António Agostinho Neto: os quadros disponíveis então deveriam “aguentar a barra” em tempo de luta armada contra o “apartheid” e suas sequelas, fortalecendo as instituições, enquanto milhares e milhares de nossos jovens, provenientes dos mais diversos lugares do espaço nacional, deveriam partir para Cuba e outros países socialistas a fim de se poderem formar nas mais diversas especialidades que tanto Angola carecia!...


04- Da minha parte dei alguns passos em reforço da substância da intervenção que foi feita em relação ao tema agricultura, por duas razões:

- Pelo evocar, por parte do prelector, da água interior do país;

- Pela ideia expressa em mapa, da valorização do centro geográfico (marco geodésico) de Camacupa a fim de se projectar a instalação dum “centro logístico” que providencie uma desejável espiral de acções no espaço nacional.

As razões que tenho vinda evocar e apresentar ao longo dos anos, vão sendo conhecidas e encontrando algum eco: valorizar a região central das grandes nascentes, controlando e gerindo a matriz da rosa-dos-rios angolanos com vista a desencadear uma inadiável geoestratégia a muito longo prazo para um desenvolvimento sustentável vital, uma geoestratégia garante de independência, de soberania e de segurança para todo o povo angolano!...

Temos “caimaneros” porque ao dobrar da esquina, amanhã, pode mesmo ser outro dia!

Martinho Júnior - Luanda, 26 de Junho de 2019

Imagens: Pequena reportagem fotográfica da Conferência de 20 de Junho de 2019

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