Quando as coisas não correm mal,
aparece sempre uma novidade a preencher o vazio. Desta vez é a promessa do caos
em meados de agosto, graças a uma greve anunciada pelo inquietante Pedro Pardal
Henriques.
Até agora, a carência de
incêndios espectaculares e devastadores não é de molde a satisfazer a ansiedade
dos atiça-fogos sempre prontos a culpar o Governo - este Governo, sustentado
pelo “esquerdalho” - por tudo quanto corre mal neste país. O Verão nunca mais
chega, o calor e o vento nunca mais se aliam para proporcionar à direita que
temos os argumentos que ela não encontra para fazer oposição. Mas há sempre uma
novidade a preencher o vazio. Desta vez é a promessa do caos em meados de
Agosto, graças a uma greve anunciada pelo inquietante sindicalista da “pesada”
Pedro Pardal Henriques, o já famoso e ambíguo “advogado do Maserati”,
vice-presidente dum recém-nascido sindicato de camionistas que transportam nos
seus veículos matérias inflamáveis, essenciais para abastecer postos de
gasolina, aeroportos, hospitais, fábricas e outros estabelecimentos públicos e
privados, por este país adentro. O dr. Pardal, esperto como um melro, nunca
conduziu camião algum (prefere o seu Maserati) mas sabe como paralisar um país
e lançar o caos. É bem mais perigoso do que a doutora Maria de Fátima
Bonifácio, cristã, racista e xenófoba que, felizmente, tem o carisma duma
torrada sem manteiga!
Ciosa dos 5 % que as sondagens
atribuem ao CDS-PP, a doutora Assunção Cristas, sempre subtil como um tijolo,
já veio acusar o primeiro-ministro António Costa de não ter sabido “antecipar”
a ameaça de greve do tal sindicato dos camionistas de matérias inflamáveis,
peça fundamental da ofensiva sindical da direita disposta a “inflamar” e desestabilizar
o país, a esmagar o “esquerdalho” e a derrotar o actual Governo. Declarou a
doutora Cristas que, se fosse ela a chefe do Governo (ambição desmedida!),
teria certamente “antecipado” a ameaça. Estará ela no segredo, não dos deuses,
mas do dr. Pardal? Terá ela o dom da presciência, sentadinha na sede do seu
partido no Largo do Caldas ou na respectiva bancada parlamentar, da qual
costuma lançar insultos ao primeiro-ministro? Mistério! Se porventura conseguiu
“antecipar” tão grave ameaça, bem podia ter avisado o primeiro-ministro e o
país, num gesto largo, generoso e patriótico, que “cairia” muito bem. Mas o
caso é que, presciente ou não, a doutora Cristas tem uma visão brutalista da
política.
Já o dr. Rui Rio - chefe instável
e contestável da outra direita parlamentar, o PPD-PSD - também anda muito
espevitado a prometer mundos e fundos se conseguir chegar ao poder. É normal em
período pré-eleitoral. O que não é normal é que um líder político caia no
ridículo com propostas estultas e mirabolantes. Mas foi o que ele fez, a
propósito do Serviço Nacional de Saúde, ao dizer que o Ministério actual não
tem sido o da Saúde mas sim o da Doença! Por isso - disse Rui Rio - é mister
mudar-lhe o nome: ou para Ministério Promotor da Saúde, ou para Ministério da
Saúde e do Bem-Estar (risos). Dado que não parece estar no seu perfeito juízo,
irá ele parar ao Ministério da Doença, para que lhe “promova o bem-estar”?!
Infelizmente para a direita, nem
Rui Rio é um Asterix, nem Assunção Cristas é um Obelix. A “poção mágica” a que
os dois recorrem consiste, fundamentalmente, em ambos dizerem mal de tudo, isto
é, dizerem que, com este Governo apoiado pelo “esquerdalho”, o país está muito
pior desde que se foram embora a zelosa troika e o diligente Governo
Passos-Portas-Albuquerque-Cristas apoiado pela sobrepujante aliança
quadripartida PPD-PSD-CDS-PP. Parece não ser essa a percepção que têm os
portugueses da actual situação do país. Mas bem se sabe como é habitual que,
quando as suas opiniões divergem da realidade, a maioria dos membros da “elite”
reaccionária considera que é a própria realidade que está equivocada.
Para “inflamar” este país,
restam, então, para além do dr. Pedro Pardal Henriques e dos seus camionistas,
o esculápio Miguel Guimarães, bastonário da Ordem dos Médicos, e a enfermeira
politicamente cor-de-laranja Ana Rita Cavaco, um e outra sempre ao ataque
contra o Serviço Nacional de Saúde, que consideram ir de mal a pior, mesmo pior
do que no tempo da troika - como afirmou o esculápio Miguel Guimarães em 2017,
esquecendo-se de que o seu antecessor, José Manuel Silva, acusou o Governo de
direita ao serviço da troika de ter “esvaziado” o SNS.
Bem a propósito, numa recente e
interessante entrevista ao Público, o médico Henrique Barros, que é presidente
do Conselho Nacional de Saúde e do Instituto de Saúde Pública da Universidade
do Porto, afirmou, com toda a clareza, que o SNS, “avaliado pelos resultados,
está objectivamente melhor”. Mais ainda, que, “hoje, o SNS transformou” os
hospitais, que antes “eram um lugar de morrer”, “num lugar de esperança, de
continuar a viver”. Também avisou que “o SNS vai continuar a ser atacado porque
representa um negócio brutal em termos do volume financeiro que move”. E
salientou que, “agora, há um ataque ao SNS, nomeadamente pelas forças que nunca
o quiseram. Porque não nos podemos esquecer que houve gente que votou a favor e
gente que votou contra o SNS no passado”. Na mouche!
A verdade é que as direitas
parlamentares que temos, possessas por não estarem na posse das indispensáveis
competências políticas, olham com muita esperança e indisfarçável gáudio para o
apertar do cerco contra o Governo e o “esquerdalho” prometido pelos camionistas
do dr. Pardal, pelos médicos representados pelo dr. Miguel Guimarães e pelos
enfermeiros enfeitiçados pela sua bastonária Ana Rita Cavaco. Com uma pequena
ajuda, se me permitem o acrescento, dos professores liderados pelo dr. Mário
Nogueira, sindicalista e militante do PCP que não perderá nenhuma oportunidade
para acusar o Governo de todas as malfeitorias.
Não é nada fácil ser de esquerda,
numa Europa dominada maioritariamente pela direita e cada vez mais ameaçada
pela extrema-direita xenófoba e racista!
*Escreve sem adopção das regras
do acordo ortográfico de 1990
1 comentário:
Excelente comentário Dr. Alfredo Barroso.
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