Simon Trinidad, sequestrado no
Equador e extraditado para uma masmorra nos EUA
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Maurice Lemoine [*]
...em nome dos comandantes
militares do antigo Estado-Maior Central das FARC, comandantes das frentes e
das colunas, afetados pela traição do Acordo de Paz de Havana perpetrada pelo
Estado, reiteramos, de uma forma autocrítica, que foi um grave erro ter
entregado armas a um Estado trapaceiro, confiantes na boa fé do parceiro.
Que ingenuidade não nos termos lembrado das sábias palavras de nosso
comandante-em-chefe Manuel Marulanda Vélez, que nos advertiu que as armas eram
a única garantia de cumprimento desses acordos. - Jesús Santrich, ex-comandante das FARC
Santrich tomou conhecimento desses rumores. E descobre que, apesar das ordens da JEP, continua preso. Ele anunciou sempre a cor. Em nenhum caso sofrerá o destino do seu camarada Ricardo Palmera Pineda (conhecido como "Simón Trinidad"), preso em 2 de janeiro de 2003, no Equador, entregue por Uribe, um ano depois, aos Estados Unidos, e enterrado vivo durante 60 anos numa prisão de alta segurança, no meio do deserto, no Colorado. Absolvido pelos tribunais norte-americanos depois dos três primeiros julgamentos (dois por narcotráfico e um por tomada de reféns), Simón Trinidad foi finalmente condenado por pertencer ao Secretariado (o Estado-Maior) das FARC – de que não era membro! –, responsável pela "tomada de reféns" de três mercenários norte-americanos em missão de espionagem e capturados pela guerrilha, depois de esta ter abatido o seu avião, em fevereiro de 2003. Num mundo normal, estes homens são classificados como "prisioneiros de guerra" ...
Santrich tomou conhecimento desses rumores. E descobre que, apesar das ordens da JEP, continua preso. Ele anunciou sempre a cor. Em nenhum caso sofrerá o destino do seu camarada Ricardo Palmera Pineda (conhecido como "Simón Trinidad"), preso em 2 de janeiro de 2003, no Equador, entregue por Uribe, um ano depois, aos Estados Unidos, e enterrado vivo durante 60 anos numa prisão de alta segurança, no meio do deserto, no Colorado. Absolvido pelos tribunais norte-americanos depois dos três primeiros julgamentos (dois por narcotráfico e um por tomada de reféns), Simón Trinidad foi finalmente condenado por pertencer ao Secretariado (o Estado-Maior) das FARC – de que não era membro! –, responsável pela "tomada de reféns" de três mercenários norte-americanos em missão de espionagem e capturados pela guerrilha, depois de esta ter abatido o seu avião, em fevereiro de 2003. Num mundo normal, estes homens são classificados como "prisioneiros de guerra" ...
Mergulhado neste precedente e como ele mais tarde confirmará ao senador de esquerda Iván Cepeda, Santrich tenta suicidar-se, abrindo as veias. Quando, na tarde do dia 17, acontece o simulacro da sua libertação, as dezenas de câmaras que o aguardam no portão da prisão filmam um homem meio comatoso e, sobretudo, após a chegada da polícia, de surpresa, a sua detenção imediata.
O Procurador, em seguida, afirma ter novas provas contra ele. Elementos que ele nunca comunicou à JEP e provenientes da "testemunha protegida" Marlon Marín e da "cooperação internacional" dos Estados Unidos. Esta tentativa de "julgamento-expresso" fracassará. Em 29 de maio, de uma vez por todas, o Supremo Tribunal ordenou a imediata libertação de Santrich e interrompeu qualquer tentativa de extraditá-lo.
Pode, a partir daí, considerar-se que "tudo está bem no melhor dos mundos". A primeira decisão que permitiu tal abordagem foi a do Conselho de Estado. Este considerou que Santrich manteve a sua investidura como deputado, na medida em que, se ele não tinha tomado posse e ocupado o seu lugar ao assumir o cargo na nova Assembleia, em 20 de julho de 2018, foi por uma razão de força maior – tinha sido preso! O Supremo Tribunal de Justiça confirmou que Santrich era deputado e acrescentou que, portanto, a sua acusação por "narcotráfico" só poderia ser julgada por si. Pelo que, em 10 de junho, Santrich pôde finalmente prestar juramento no cargo de vice-presidente da Assembleia e, em 11 de junho, sentar-se pela primeira vez como membro do Parlamento.
No entanto, o cozinhado nauseabundo que o precedeu provocou, em profundidade,
uma tripla movimentação, com consequências ainda imprevisíveis: uma divisão no
seio da FARC; uma crise institucional no coração do poder; um inquietante
enfraquecimento das esperanças de paz.
Desafiando a palavra do Estado quando os assinou, os Acordos de Paz foram
constantemente modificados unilateralmente, através dos mais altos tribunais
(Tribunal Constitucional, Supremo Tribunal de Justiça) e da maioria de direita
do Congresso. Em detrimento da reintegração social e económica dos insurgentes
e das reformas necessárias para superar a injustiça estrutural que provocou o
conflito. Juntando-se à campanha de terror realizada através do assassinato
seletivo e diário de dirigentes sociais, a ofensiva dos Estados Unidos (via
DEA) e da dupla"Duque-Uribe" (através de Néstor Humberto
Martínez) contra Santrich, tornou claro que as fações mais arcaicas da direita
colombiana (e "yanquee") apostavam na política do quanto
pior melhor.
Causalidade, finalidade, consequências ... Desde a prisão do seu "camarada" Santrich,
em abril de 2018, o emblemático Iván Márquez (de seu nome verdadeiro Luciano
Marín Arango), primeiro dos negociadores das FARC em Havana, denuncia "uma
montagem" e anuncia que, na ausência de garantias suficientes, ele
próprio não tomará posse do seu assento senatorial, em julho: o Ministério
Público e a DEA, segundo ele, e com métodos semelhantes, pretendem acusá-lo
pelo mesmo tipo de delitos. Márquez insta os ex-guerrilheiros agrupados nos
vinte e quatro Espaços Territoriais de Treino e Reincorporação (ETCR) a "exigir
a libertação imediata de Santrich" e a "defender a
implementação dos acordos". Por outro lado, o ex-comandante-em-chefe
dos rebeldes e atual líder do novo partido FARC, Rodrigo Londoño Echeverri
(mais conhecido por seu nome de guerra de Timoleón Jiménez ou Tymoshenko),
apela à calma e pede ponderação.
Uma primeira e clara divisão aparece quando Márquez deixa Bogotá e se junta à
ex-base de guerrilheiros do ETCR de Miravalle (Caquetá), antes de passar à
clandestinidade. Lá, encontrou Hernán Darío Velásquez Saldarriaga (também
conhecido como "El Paisa") e Henry Castellanos Garzón R("omaña") e
outros ex-comandantes de primeira linha em rutura. Sem pertencer de nenhum modo
à minoria de ex-insurgentes que se recusaram a depor as armas, seja por razões
políticas ou para se entregar a atividades mafiosas, eles manifestam-se
regularmente em mensagens, como a de 25 de dezembro de 2018 – "Nós
realmente agíamos como cegos quando não queríamos ver os inúmeros
antecedentes de traição desta oligarquia, depois da assinatura de episódios de
paz" – ou a que, no final de janeiro de 2019, denuncia a agressão dos
Estados Unidos, com a cumplicidade de Duque, contra a Venezuela
bolivariana.
Em setembro do ano passado, numa carta ao Ministério Público, "Romaña" confirmou
o seu compromisso de cumprir os acordos, exigiu fundos prometidos aos
ex-guerrilheiros para o financiamento de projetos produtivos e pediu"segurança
jurídica" em apoio à sua intenção de "não voltar à
ilegalidade". Ao mesmo tempo, um outro "histórico",Fabián
Ramírez, ratificou, através de um comunicado à Comissão de Paz do Congresso,
que se mantinha no quadro do "pacto firmado com o governo de
Santos", explicando as razões do seu desaparecimento na natureza:
"Por este motivo [a perda de confiança devido à montagem
contra Santrich] e pela nossa segurança pessoal, optámos por não ser uma vítima
adicional da manobra suja orquestrada através do guião dado a Marlon Marín para
que manchasse o nome de alguns dos nossos camaradas com acusações totalmente
falsas". [11]
O Partido balança. Ele também reafirma a sua vontade de continuar o processo de
paz, mas, temendo a sua influência na base, pede aos seus
dirigentes discordantes que respeitem as suas obrigações e, em
particular, permaneçam no ETCR. Sem conseguir unanimidade nas suas fileiras.
Enquanto alguns, na direção, são muito críticos dos "dissidentes", outros
compreendem e aprovam os seus motivos.
O debate agudiza-se ainda mais quando, no final de abril de 2019, o governo
oferece uma recompensa de US $ 1 milhão por qualquer informação que permita a
prisão de El Paisa. Convocado três vezes pela JEC, não compareceu. Esta revoga
a "liberdade condicional" de que beneficiava e, em 15 de
maio, confirma o mandado de prisão contra ele. A medida chega num momento em
que, apesar de uma ordem de libertação, Santrich é mantido na prisão. É demais
para Iván Márquez. Numa carta incendiária destinada aos milhares de
ex-rebeldes, ele "dá um murro na mesa": "Colegas do
ETCR: em nome dos comandantes militares do antigo Estado-Maior Central das
FARC, comandantes das frentes e das colunas, afetados pela traição do Acordo de
Paz de Havana perpetrada pelo Estado, reiteramos, de uma forma autocrítica, que
foi um grave erro ter entregado armas a um Estado trapaceiro, confiantes na boa
fé do parceiro. Que ingenuidade não nos termos lembrado das sábias palavras de
nosso comandante-em-chefe Manuel Marulanda Vélez, que nos advertiu que as armas
eram a única garantia de cumprimento desses acordos". [12]
Desta vez, podemos falar de uma verdadeira fratura. Quando Santrich, saindo em
cadeira de rodas da Prisão de La Picota, foi, espetacularmente, detido
novamente, "Tymoshenko", o número "um" do
partido, fez o serviço mínimo, em termos de solidariedade com um dos seus:
se Santrich é extraditado ou não, "estamos com a paz, aconteça
o que acontecer". Ele reage infinitamente mais à carta de Márquez,
que ele acusa de "procurar o aplauso de um punhado de cabeças
quentes": "Infelizmente, Iván não percebeu a dimensão do cargo
que a nossa longa luta o levou a ocupar. Partiu, sem dar qualquer explicação, e
recusou-se a ocupar o seu lugar no Senado, deixando a nossa representação
parlamentar sem direção, num momento que exigiria ainda mais a sua
presença". Chega a culpá-lo do papel do sobrinho Marlon Marín, na tenebrosa
série intitulada "Narcos".
No seio da FARC, muitos continuam sem voz. Ouvem-se os primeiros murmúrios.
Disparam críticas mais ou menos filtradas: para o deputado do partido,
Benedicto González, a opinião de "Tymoshenko" é "respeitável", mas "não
podemos fazer crer que é partilhada pelo Conselho Nacional dos Comuns [a
maior autoridade do partido das ex-FARC que agora se designa Força Alternativa
Revolucionária do Comum – NT], nem pelas bases". No seio das
quais uma perda de confiança na direção se torna percetível, ameaçando, desta
vez realmente, a coesão de ex-guerrilheiros a cada dia mais insatisfeitos com
as condições execráveis em que se desenrola a sua suposta reintegração.
Na trincheira oposta, o Estado, como tal, sai enfraquecido desta sequência,
abalado pela guerra aberta entre as suas várias instituições. Do lado do
governo, o tempo já não é para triunfalismos. Os acontecimentos não se viraram
a seu favor. Mesmo as elites económicas estão divididas entre "arcaicos" e "modernos", repetindo
(ou continuando) as discordâncias entre os ex-presidentes Uribe e Santos,
depois deste ter sido eleito para a presidência, em 2010. Ao rejeitar as "objeções" do
atual chefe de Estado, a Câmara dos Deputados e o Senado infligiram-lhe,
claramente, uma humilhação. Já não dispõe de uma maioria automática para
governar. Os partidários de Santos, ex-aliados (Cambio Radical), os Verdes e o
centro-esquerda juntaram forças para impedir, na medida do possível, o atropelo
final dos Acordos de Paz.
A sequência de acontecimentos provocou tanta discussão que não foi possível a
Duque declarar o estado de comoção interna (por enquanto). A renúncia do seu
grande aliado Néstor Humberto Martínez também lhe pôs uma pedra no sapato. Não
escapou a ninguém que o Procurador Geral aproveitou a oportunidade para sair
pela "porta grande" – a da "convicção
desrespeitada" – quando se aproximava dele, a alta velocidade, uma
análise do seu papel no escândalo "Odebrecht" – do nome do
gigante da construção civil brasileiro, que salpica todo o continente [13] .
Advogado da empresa de serviços financeiros Corficolombiana, sócia da Odebrecht
na Colômbia, Martínez sabia das irregularidades no grupo de construção, na
ordem de US$6,5 milhões, e não as denunciou. Um caso que é ainda mais
complicado, porque três testemunhas capitais morreram em condições mais do que
suspeitas nestes últimos meses. E que outro grande caso de corrupção também
está a abalar as altas esferas do exército.
Finalmente, o outro grande "sócio", Donald Trump, é tão
imprevisível e versátil com Duque como com qualquer outra pessoa. Aos abraços e
cenouras (para atingir a Venezuela), sucedem-se os golpes quando, queixando-se
do aumento de 50% das culturas de coca e da produção decorrente de cocaína, o
inquilino da Casa Branca declara secamente "Duque é um bom rapaz, mas
não fez nada por nós". Já vimos amigos mais calorosos.
Em relação ao futuro, é preciso ser muito esperto para o prever. O último golpe
de teatro (antes do próximo): quando teve de comparecer perante o Supremo
Tribunal de Justiça, em 9 de julho, para ser ouvido sob a acusação de"narcotráfico", Jesús
Santrich desapareceu, no dia 30 de junho. Multiplicam-se os comentários duros e
a especulação arriscada. As mesmas palavras, os mesmos raciocínios de antes.
Esquecendo uma verdade fundamental: o presente explica-se sempre pelo
passado. Vamos mencionar aqui algumas hipóteses, tomando o cuidado de excluir a
palavra"certeza" ("palavra que um homem que viveu um pouco risca
do seu dicionário", segundo Voltaire, precisamente no seu Dicionário, no
artigo "Certo").
Assim que, a 11 de junho, Santrich finalmente tomou o seu lugar na Câmara dos
Representantes, o presidente Duque, depois de regressar da Argentina, onde
conspirava com o seu colega Mauricio Macri, para descobrir como acabar com
Maduro, acabara de pedir ao Ministério Público "que impedisse esta
tomada de posse", apesar de o Conselho de Estado a ter claramente
aprovado. O que o chefe de Estado teve de aceitar, não sem comentar acidamente:
"Não podemos deixar de chamar as coisas pelo seu nome. Aliás,
Jesús Santrich é um mafioso e todo o país sabe que ele negociou a expedição de
um carregamento de cocaína".
De Washington chovem as críticas contra o Supremo Tribunal da Colômbia, por ter
libertado o ex-guerrilheiro."Consideramos esta decisão lamentável e que é
essencial e urgente um recurso", disse o porta-voz do Departamento de
Estado, Morgan Ortegas (antes de aquecer o ambiente com a discussão da aliança
entre os dois países, na tentativa de introduzir ajuda humanitária e soldados
na Venezuela para "fazer frente" a Maduro).
Quando, finalmente, o novo deputado, impassível atrás dos seus óculos escuros,
os ombros cobertos com seu eternokeffiyeh palestiniano, toma o seu lugar
na Assembleia, dá-se uma bronca. Representantes do Centro Democrático exibem
cartazes "Fora com Santrich !". Mesmo os chamados "Verdes" exibem
faixas: "Defendemos a paz, não Santrich".
Não é preciso um meteorologista para saber em que direção sopra o vento. Em tal
contexto, com tais pressões de todos os lados, que hipóteses tem Santrich para
escapar das nuvens negras que se acumulam sobre a sua cabeça? Um julgamento e
um veredicto muito incertos do Supremo Tribunal de Justiça? Ao iniciar os seus
procedimentos contra ele, descobriu que não era "necessário,
proporcional ou razoável" encarcerá-lo durante esta etapa, porque a
sua possível privação de liberdade poderia ser decidida após tê-lo ouvido no
enquadramento da informação judicial("indagatória") de 9 de
Julho. Com o risco, em caso de prisão seguida de condenação, de vê-lo
extraditado, uma vez que a JEP tinha sido afastada! Não havia a certeza se o
rebelde queria jogar à roleta russa ...
Quando deixou La Picota, tinha declarado claramente o seu alinhamento com
alguns dos seus camaradas: "[Iván] Márquez assumiu uma posição
autocrítica, mas reiterou o seu desejo de paz; envio-lhe uma mensagem de amor e
fraternidade. (...) O que fazem Márquez e El Paisa é insistir na necessidade de
respeitar o acordo, e é também o que vou fazer". [14]
Já que estamos a falar de Márquez, notemos de passagem que, em 14 de junho, o
Conselho de Estado decretou a sua perda de lugar no Senado, por não o ter
tomado dentro do tempo requerido e "sem apresentar qualquer
prova"do que ele considera "uma ausência de garantias".
A enumeração dos possíveis esconderijos de Santrich varia até o infinito:
alguns veem-no em casa do diabo mais velho, protegido pelo ELN; outros, na
Venezuela, com (ou sem) o seu camarada Márquez, ajudado pelo seu"cúmplice" Maduro;
outros ainda, com um dos grupos armados remanescentes das FARC; ou à procura de
asilo político num país garante dos acordos de paz (Noruega e Cuba). Seusis
José Hernández, seu filho, mostra-se muito preocupado: "Duvido que o
desaparecimento do meu pai tenha a ver com um ato de rebeldia ou qualquer coisa
que vá contra a paz", diz ele, não descartanto que o ex-guerrilheiro
tenha sido sequestrado e se tenha juntado à longa lista dos "desaparecidos". [15]
Onde quer que esteja, a situação não é boa para ninguém. Exceto, talvez, para
os adversários da paz e da JEC, a começar por Duque, que dizem fanfarronadas,
comem do bom e do melhor e gozam a vida. Assim que a notícia foi dada, o
movimento cidadão "Defendamos a Paz", temendo as
consequências previsíveis, pediu a Santrich que informasse as autoridades sobre
o seu paradeiro e comparecesse perante o CSJ, em 9 de julho, como estava
previsto.
Nesse dia, em que apenas os seus advogados compareceram e Santrich não
reapareceu, o Supremo Tribunal de Justiça emitiu um mandado de prisão e ordenou
a sua captura. Ei-lo agora mascarado com o estatuto de "fora da
lei".Sem surpresa, o centro, a direita e a extrema direita reagiram de
forma mecânica e com ódio, como robôs. Da esquerda moderada de Gustavo Petro –
candidato do Pólo Democrático Alternativo (PDA), na última eleição presidencial
(41,8% dos votos) – até ao altamente comprometido senador Iván Cepeda, veio uma
reprovação unânime. Alguns claramente vituperaram, maldisseram, culparam e
condenaram o rebelde. "O que aconteceu é triste", disse
Cepeda, que tinha acompanhado Santrich quando foi libertado da prisão e que
estava preocupado pelos danos causados ao processo de construção da paz.
Numa declaração pública, o Conselho Político Nacional da FARC esclareceu que a
conduta de Santrich "é de sua única responsabilidade" e
que, "tal como fez com outras decisões pessoais, não [consultou] o
partido nem a sua direção". Olhando para o movimento como um todo, a
declaração concluiu expressando a sua confiança em que "a comunidade
internacional e a justiça saberão fazer a diferença entre as determinações de
indivíduos ou grupos que rejeitam o que foi assinado nos Acordos de Havana, e a
grande maioria de nosso partido FARC, que se mantém leal e firme no seu projeto
de paz com justiça social".
Por estas linhas, compreendeu-se facilmente a lógica dos líderes de um partido
já impopular na opinião publica, diretamente afetado pela reprovação geral que,
por ricochete, recai sobre eles. Os líderes estão também preocupados com o
sinal negativo que esse regresso à clandestinidade envia a milhares de
guerrilheiros de base que, tanto respeitam Iván Marquez ou "El
Paisa", como apreciam e admiram Santrich. No entanto, a dureza do tom
em relação a este último chocou muitos "camaradas". Em
particular, o tom do senador das FARC, Carlos Antonio Lozada, ex-negociador em
Havana, particularmente virulento nas suas observações: "Não há
nenhuma justificação para que Santrich se tenha ido embora assim!". [16]
Curioso, mesmo assim ... Porque é esse mesmo Lozada que, no dia 10 de julho,
informará no Twitter e através de vários média que vai apresentar uma queixa,
em nome do partido, e trará "provas, ou pelo menos pistas" de
que"está em marcha um plano para assassinar os [altos] dirigentes das
FARC". No dia anterior, dois novos ex-guerrilheiros foram executados
no distrito de Cauca, elevando para 137 o número de "camaradas" assassinados.
Poucos dias antes (6 de julho), numa carta enviada ao presidente Duque, três
civis que nunca pegaram numa arma (mas da oposição e muito envolvidos na
implementação dos Acordos de Paz!), os senadores Iván Cepeda, Roy Barreras e
Antonio Sanguino, denunciaram ser vítimas de escutas ilegais da Direção
Nacional de Inteligência (DNI), destinadas a neutralizá-los através de "montagens
judiciais". Como Santrich? De qualquer forma, este é um bom e velho
retorno às "chuzadas", escutas e investigações clandestinas
sobre ativistas, sindicalistas, políticos, partidos tradicionais, jornalistas e
membros do Supremo Tribunal efetuadas pelo Departamento Administrativo de
Segurança (DAS), dependendo diretamente de uma presidência da República ocupada
por Álvaro Uribe, entre 2002 e 2010. O mesmo DAS – mas quem se lembra? – que
passava as informações aos paramilitares, para assassinarem oponentes
políticos. [17]
Nestas condições, vamos esperar para saber mais para nos pronunciarmos
definitivamente sobre o "caso Santrich".Afinal de contas, a sua
decisão de escapar pode ter boas razões. O futuro o dirá. Infinitamente
mais preocupantes são, para a Colômbia, as ameaças que pairam sobre os
oponentes e o processo de paz.
Notas
[11] El Tiempo, Bogotá, 10 de setembro de 2018.
[12] De seu verdadeiro nome Pedro Antonio Marin, Manuel Marulanda, aliás " Tirofijo " (tiro certeiro), foi fundador e dirigente das FARC, de 1964, ano do seu nascimento, até à sua morte, em 26 de março de 2008, de morte natural. Tinha abraçado a guerrilha em 1948, nas milícias de autodefesa camponesas, durante o período chamado " la Violencia ".
[13] Advogado da sociedade de serviços financeiros Corficolombiana, ele próprio associado à Odebrecht, na Colômbia, Martinez estava ao corrente das irregularidades do grupo de construção, ascendendo a 6,5 milhões de dólares, e não as denunciou.
[14] www.elheraldo.co/politica/los-tres-escenarios-para-santrich-tras-su-fuga-647828
[15] Digital BLU Radio, 2 de julho de 2019.
[16] Semana, Bogotá, 7 de julho de 2019.
[17] Hernando Calvo Ospina, " Quand l'Etat colombien espionne ses opposants [Quando o Estado colombiano espia os seus opositores]", Le Monde diplomatique, avril 2010.
[*] Jornalista.
O original encontra-se em www.medelu.org/La-Colombie-sous-la-coupe-des-criminels-de-paix
e a tradução em pelosocialismo.blogs.sapo.pt/a-colombia-sob-a-pressao-de-criminosos-73011
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/
[11] El Tiempo, Bogotá, 10 de setembro de 2018.
[12] De seu verdadeiro nome Pedro Antonio Marin, Manuel Marulanda, aliás " Tirofijo " (tiro certeiro), foi fundador e dirigente das FARC, de 1964, ano do seu nascimento, até à sua morte, em 26 de março de 2008, de morte natural. Tinha abraçado a guerrilha em 1948, nas milícias de autodefesa camponesas, durante o período chamado " la Violencia ".
[13] Advogado da sociedade de serviços financeiros Corficolombiana, ele próprio associado à Odebrecht, na Colômbia, Martinez estava ao corrente das irregularidades do grupo de construção, ascendendo a 6,5 milhões de dólares, e não as denunciou.
[14] www.elheraldo.co/politica/los-tres-escenarios-para-santrich-tras-su-fuga-647828
[15] Digital BLU Radio, 2 de julho de 2019.
[16] Semana, Bogotá, 7 de julho de 2019.
[17] Hernando Calvo Ospina, " Quand l'Etat colombien espionne ses opposants [Quando o Estado colombiano espia os seus opositores]", Le Monde diplomatique, avril 2010.
[*] Jornalista.
O original encontra-se em www.medelu.org/La-Colombie-sous-la-coupe-des-criminels-de-paix
e a tradução em pelosocialismo.blogs.sapo.pt/a-colombia-sob-a-pressao-de-criminosos-73011
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