Paulo Baldaia* | Jornal
de Notícias | opinião
É consensual que as
reivindicações dos motoristas de mercadorias perigosas são justas. Não o negam
os patrões, nem o contradiz o Governo, e mal se percebe, portanto, que esta
paralisação possa ser considerada injusta. Ao decretar a requisição civil, o Governo
responde da única forma que podia responder perante o não cumprimento dos
serviços mínimos, mas a justiça desta luta já está perdida. A partir daqui, só
pode piorar para os trabalhadores em greve.
Uma luta com uma desigualdade em
relação às armas usadas que é tão gritante, a mostrar que o interesse do
Governo - um país a funcionar sem grandes dificuldades - o torna aliado dos
patrões. A maior injustiça, no entanto, é que a falta de apoio popular - que
esta greve nunca poderia ter tido, porque ninguém gosta que lhe estraguem as
férias - seja agora justificada pela enorme desconfiança que suscita o
"sindicalista" Pardal Henriques. Na visão datada deste advogado, um
Governo em véspera de eleições cede o que tiver de ceder. A soberba anda muitas
vezes de mãos dadas com a ignorância. Na primeira greve, o Governo e o
primeiro-ministro foram apanhados desprevenidos e deixaram o país em pânico, só
que António Costa anda na política há muitos anos e nunca comete o mesmo erro
duas vezes.
Como bem notou Ana Sá Lopes, no
Público, a semana que antecipou a paralisação dos motoristas foi de
"agitprop" para levar a opinião pública a virar-se contra os
motoristas e os sindicalistas que os representam. Não cumprir os serviços
mínimos foi mais um erro de um sindicato que deu ao Governo o último trunfo. A
justiça das reivindicações desses trabalhadores passou a valer zero, exatamente
porque se aproximam eleições e para as ganhar com maioria absoluta todos os
meios se justificam. O líder do Governo mais à esquerda, pós-25 de Novembro,
chega às eleições com um curriculum de fazer inveja a qualquer político de
direita: é o primeiro-ministro das contas certas e da ordem pública.
Pardal Henriques quis ganhar um
jogo que nunca jogou e António Costa venceu em toda a linha, mesmo tendo de
sacrificar as justas reivindicações daqueles trabalhadores. O que se viu foi um
pardal a voar contra o vento em direção às garras de um falcão. A Esquerda assiste
embevecida e a Direita de mãos atadas!
P.S. É igualmente notável que o
presidente da República faça saber que teme uma maioria absoluta do Partido
Socialista, mas que toda sua ação política se conjugue para esse objetivo.
* Jornalista
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