Mariana Mortágua |
Jornal de Notícias | opinião
A greve dos motoristas chegou ao fim, na sequência de um pré-acordo assinado entre a associação
patronal e a Fectrans e da reabertura de negociações com o Sindicato dos
Motoristas de Matérias Perigosas. São boas notícias, se esse processo possibilitar
um acordo que respeite os direitos até agora negados aos trabalhadores.
É verdade que esta greve, como
todas, afetou a vida do país. Mas esse é o seu papel, e o seu poder: dar
visibilidade a profissões e abusos que de outra forma não seriam vistos, ouvidos
ou reconhecidos. São justas as reivindicações dos motoristas - horários seguros
ou salários justos e pagos por inteiro, sem esquemas dos patrões para fugir à
Segurança Social - e hoje sabemos que os graves problemas laborais, e mesmo
ilegalidades, por eles denunciadas são do conhecimento governamental há anos.
Esteve mal o Governo quando
definiu serviços mínimos que não o eram, e na forma desproporcionada como geriu
a requisição civil. A pensar nas eleições, o Governo do PS aplicou uma visão
restritiva do direito à greve e uma interpretação absurda da lei do trabalho.
Esteve mal, em particular,
António Costa, que ontem escolheu agradecer em primeiríssimo lugar, não à larga
maioria dos motoristas que exerceram o seu direito respeitando serviços mínimos
excessivos, mas aos militares chamados a intervir na requisição civil. Não está
em causa o desempenho destas forças, mas o sinal político dado pelas palavras
do primeiro-ministro e o precedente que abre a porta a que no futuro se
esvaziem formas semelhantes de luta através da imposição de serviços máximos.
Mas mal esteve também o porta-voz
do Sindicato dos Motoristas de Matérias Perigosas, quando isolou a greve
daqueles trabalhadores, tornando o processo e os objetivos negociais
incompreensíveis aos olhos das pessoas. Ambições profissionais e políticas de
Pardal Henriques terão prejudicado a condução de uma luta que é justa.
Agora, resta esperar uma real
disponibilidade para a negociação, de todas as partes, e em particular do
mediador, a quem se exige imparcialidade. O Governo é responsável por assegurar
soluções negociadas que corrijam injustiças há muito diagnosticadas e por
garantir a eficácia de medidas de fiscalização num setor onde ficaram evidentes
os sistemáticos abusos patronais.
*Deputada do BE
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