Deputado abandona Partido
Conservador por discordar da política do primeiro-ministro para o Brexit. Ida
de parlamentar para a oposição aumenta as chances de aprovação de moção pedindo
adiamento da saída da UE.
O primeiro-ministro do Reino
Unido, Boris Johnson, perdeu nesta terça-feira (03/09) sua maioria no
Parlamento britânico, com a ida de um deputado do seu Partido
Conservador para o Liberal Democrata, de oposição.
Philip Lee, parlamentar desde
2010, anunciou num comunicado sua mudança de partido, por não concordar com a
postura do governo em relação ao Brexit. Em carta endereçada a Johnson e
divulgada no Twitter, Lee afirmou que Londres está "perseguindo
agressivamente um Brexit prejudicial". Ele acusou o governo de "usar
manipulação política, bullying e mentiras".
Johnson tinha até então uma
maioria apertada, de apenas uma cadeira, incluindo seus parceiros de coligação,
o Partido Unionista Democrático (DUP), da Irlanda do Norte.
Os legisladores retomaram os trabalhos
nesta terça-feira após o recesso parlamentar de verão, em um dia que pode ser
crucial para o confuso processo do Brexit: entre dez e 20 conservadores
dissidentes, incluindo o ex-ministro das Finanças Philip
Hammond, planearam votar com a oposição e aprovar uma moção
suprapartidária visando impedir uma saída da União Europeia (UE) sem
acordo em 31 de outubro.
O projeto de lei exige que
Johnson peça ao bloco europeu que adie o Brexit para 31 de janeiro, a menos que
o Parlamento britânico aprove um novo acordo ou vote por um Brexit sem acordo
até 19 de outubro. A renúncia de Lee reduziu ainda mais as chances de Johnson
ganhar a votação.
Fontes do governo afirmam que o
primeiro-ministro pedirá ao Parlamento a aprovação de eleições gerais antecipadas, a
serem realizadas em 14 de outubro, caso ele perca a votação da moção
suprapartidária pedindo um adiamento do Brexit. A aprovação de
eleições antecipadas exigiria um mínimo de dois terços do Parlamento.
Um desafiador Johnson garantiu
aos legisladores que nunca se renderá. "Nunca vou abrir mão do controle de
nossas negociações, como está exigindo o líder da oposição", disse o PM ao Parlamento, referindo-se ao líder do Partido Trabalhista, Jeremy
Corbyn. Johnson acusou os apoiantes do projeto de lei de
querer "frustrar o vontade do povo" e "derrubar o resultado
do referendo do Brexit de 2016".
No momento em que o
primeiro-ministro britânico começara a discursar, o deputado Phillip Lee
atravessou o plenário da Câmara dos Comuns (câmara baixa do Parlamento) e, num
gesto carregado de simbolismo, sentou-se junto à bancada pró-UE dos
liberais democratas.
Por sua vez, Jeremy Corbyn
afirmou em seu discurso que o governo de Johnson é "sem mandato,
sem moral e, agora, sem maioria".
Na
segunda-feira, Johnson ameaçou
expulsar os parlamentares do Partido Conservador que se unirem à
oposição trabalhista para tentar bloquear uma provável saída sem acordo do
país da UE.
O primeiro-ministro insiste em
manter em aberto a opção do no deal (divórcio sem acordo com a UE),
na tentativa de forçar Bruxelas a fazer concessões de última hora e
aceitar um acordo que seja mais favorável economicamente ao Reino Unido.
A decisão do PM, na
semana passada, de suspender
as atividades do Parlamento britânico por cinco semanas, a partir de
10 de setembro, acirrou ainda mais as tensões e gerou uma onda de protestos pelo
país. Muitos acusam Johnson de atentar contra a democracia.
A manobra deixa os parlamentares
pró-UE com poucos dias para tentar impedir uma ruptura dolorosa com a União
Europeia. Em recesso de verão desde 25 de julho, o Parlamento britânico retomou
suas atividades nesta terça-feira e será suspenso novamente na próxima
terça-feira.
Desde que assumiu o cargo em
julho, após a renúncia de sua antecessora, Theresa May, Johnson
promoveu uma reviravolta nas tradições políticas do país e inflamou os ânimos
tanto das correntes favoráveis quanto das contrárias ao Brexit.
Deutsche Welle | MD/dpa/rtr
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