Martinho Júnior, Luanda
Oito anos volvidos depois de se
erguer a bandeira da monarquia do rei Idris numa caótica Líbia, é a própria
monarquia arábica, de há tantas décadas semeadora de ventos de caos, de
terrorismo e de desagregação, que prova o desamparo. (http://pagina--um.blogspot.com/2011/04/inevitabilidades.html).
Jamais o cisma entre
sunitas-wahabitas e xiitas alcançou um patamar tão radicalizado de tensão e
confrontação, pelo que um conflito de maiores proporções pende sobre os
horizontes mais próximos por todo o Médio Oriente alargado e África, quando o
alinhamento de uns e de outros se implica nas disputas globais em curso, dando
azo a mais um episódio do âmbito da tão “transversalmente sistémica” quão “híbrida”,
IIIª Guerra Mundial. (http://paginaglobal.blogspot.pt/2015/11/iii-guerra-mundial.html; https://tudoparaminhacuba.wordpress.com/2016/10/17/iiia-guerra-mundial/).
Nos mares em redor (Golfo Pérsico
e Golfo de Omã no Índico Norte), as frotas de uns e de outros medem-se em
exercícios e exercícios de força (https://www.fort-russ.com/?p=73201?utm_medium=ppc&utm_source=wp&utm_campaign=push&utm_content=new-article).
A decadência institucional é
visível no campo do império da hegemonia unipolar, para além da ordem ética,
moral e civilizacional, apesar de sua colossal máquina de comunicação e da
tipologia dos seus artifícios e instrumentos. (https://theintercept.com/2017/09/26/o-fim-do-imperio-americano-em-perspectiva/).
Um dos maiores compradores
mundiais de armamento aos Estados Unidos, a Arábia Saudita, acaba de comprovar
o valor real das suas aquisições e dos mercenários que manuseiam sua máquina de
inteligência e militar. (https://www.dn.pt/mundo/interior/sauditas-sao-campeoes-mundiais-a-importar-armas-10691001.html).
Os houthis (https://pt.wikipedia.org/wiki/Rebeli%C3%A3o_Houthi_no_I%C3%AAmen)
do Iémen (de convicção xiita), que assumiram o controlo de Sanaa, a capital de
mais um país que a partir de 2015 prova caos, terrorismo, desagregação e guerra
assimétrica, têm sido combatidos pela coligação em reforço dos propósitos da
Arábia Saudita, quando as redes da Al Qaeda estão à vontade na parte oriental
do espaço nacional iemenita.
Os reveses sauditas no Iémen e
por tabela no seu próprio território vão-se multiplicando e o conflito está a
tornar-se internacional. (https://pt.euronews.com/2017/12/04/iemen-ali-abdullah-saleh-abatido-pelos-rebeldes-hutis).
Depois de mais de 140.000 mortos
e de milhões atingidos pela miséria e até pela fome, os hutis defendem-se
enquanto assimilaram a construção e a operacionalidade de mísseis e drones
capazes de, em ofensiva, escapar aos tão “sofisticados” (?) sistemas
de detecção saudita e seus coligados, pelas monarquias arábicas adentro… (https://southfront.org/the-saker-crises-the-middle-east-and-a-few-hopefully-useful-pointers/).
Duas das principais refinarias,
situadas entre Riad, a capital saudita e a costa do Golfo Pérsico, foram
atingidas com prejuízos significativos para a sua produção, num acto que
estremece o poder saudita.
Os conflitos encadeados que se
distendem no Médio Oriente alargado, atingiram a socialmente feudal monarquia
da casa Saud, apesar das garantias de segurança dos Estados Unidos, que advêm
do tempo da formação da Aramco, a poderosa transnacional saudita do petróleo,quando
os Estados Unidos passaram a ser o sucedâneo “natural” do império
britânico.
O tratado secreto sublinhado no
encontro no cruzador Quincy a 14 de Fevereiro de 1945, entre a casa Saud e o
Presidente dos Estados Unidos, Franklin Roosevelt, com esta demonstração nos
termos da resposta huti, deixa de ser exequível, pois deste modo a monarquia
deixa de estar segura nas “transversalidades” de sua atípica
conjuntura humana, como nos seus propósitos internacionais no âmbito duma
coligação que prova a sua cada vez maior imperícia, senão ineficácia! (http://pagina--um.blogspot.com/2011/03/iraque-iraque-75-anos-depois.html).
Quando a NATO prova com a Turquia
rupturas intestinas, (http://mediterraneanaffairs.com/post-coup-turkey-nato-relations/)
a monarquia saudita está comprimida geo-estrategicamente pela tenaz xiita a
norte e a sul e isso muito embora o 11 de Setembro de 2011 e o facto de há 8
anos continuar a impulsionar e a participar na disseminação de caos, terrorismo
e desagregação um pouco por todo o mundo, naquela altura particularmente na
Líbia e por tabela em África… (http://pagina--um.blogspot.com/2011/03/uma-libia-esmagada-em-nome-da.html).
Nunca o(s) rei(s) arábicos
provaram estar tão desamparados quanto hoje!... (https://southfront.org/aramcos-operation-disrupted-worse-than-initially-presented-report/).
…Desamparados e à mercê de surpreendentes
capacidades assimétricas que com tanta acuidade foram manifestadas no poderoso
efeito “boomerang” que estão a experimentar! (https://br.sputniknews.com/oriente_medio_africa/2019092314547177-chanceler-iraniano-explica-como-houthis-conseguiram-atacar-refinarias-sauditas/).
Conseguirão ser mesmo salvo(s)
o(s) Rei(s), quando a “petrificada” monarquia saudita estremece nos
fundamentos de seu tão feudalmente artificioso carácter de poder?
Mais que a dura prova dos drones
e mísseis xiitas, há intestinos sinais de degradação que podem conduzir à
génese de implosão da monarquia saudita… quem semeia ventos tão sulfurosos e
assimétricos, corre sempre o risco de colher sulfúricas e assimétricas
tempestades!
Martinho Júnior -- Luanda, 22 de Setembro de 2019
Imagens:
01- A Arábia Saudita é o maior
comprador de armas no mundo e compra-as quase todas aos Estados Unidos;
conformam ao mais alto nível as autoridades dos dois países; Tratado Quincy a
quanto obrigas;
02- A FEUDAL MONARQUIA
WAHABITA-SUNITA DA ARÁBIA SAUDITA É CAMPEÃ MUNDIAL, EM DOIS ÍTENS APARENTEMENTE
CONTRADITÓRIOS!- - Campeã global na compra de armamento;
- Campeã global por provocar um
dos maiores desastres humanitários contemporâneos no Iémen.
Sob os nossos olhos, o império da
hegemonia unipolar é, uma vez mais e comprovadamente, o grande campeão dos
crimes contra a humanidade!
Demonstração gráfica da síntese
estatística de 2018, sobre a compra e vendas de armas no mundo (último
relatório do SIPRI);
03- Quadro da expansão do
movimento houthi no Iémen, entre Janeiro de 2014 e Março de 2015, imediatamente
a sul da fronteira da Arábia Saudita com o Iémen;
04- Aponta-se um total de 140.000
mortos iemenitas, vítimas dos bombardeamentos e ataques de forças da coligação
que se entrosam com o exercício militar saudita no Iémen; são muitos mais os
feridos, as vítimas da miséria e da fome e isso torna-se patente desde logo nos
índices das destruições;
05- As refinarias estratégicas da
Arábia Saudita, Buqayq y Khurais, foram atacadas pelos houthis do Movimento
Ansarolah; os media que escondem o desastre humanitário do Iémen que se
desencadeou a partir do início do conflito em 2014, foram os primeiros a
garantir o alarido sobre o ataque a essas refinarias e acusar o Irão, em
conformidade com os alvos preferenciais do império da hegemonia unipolar e sem
explicar como o poderio militar dos sauditas foi completamente surpreendido,
demonstrando tanta ineficácia, como agora; o Tratado Quincy deixou de poder
estar exequível, na prática pode começar-se a assistir ao começo da sua
ruptura!
EM MARÇO DE 2011, LOGO NO INÍCIO
DOS ACONTECIMENTOS QUE DESABARAM SOBRE A LÍBIA, O ERGUER DA BANDEIRA DO REI
IDRIS SIGNIFICAVA POR SI QUANTO, PARA O IMPÉRIO DA HEGEMONIA UNIPOLAR, ERA PREMENTE “SALVAR
O(S) REI(S)”… (http://pagina--um.blogspot.com/2011/03/salvar-os-reis.html)
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SALVAR O(S) REI(S)
Martinho Júnior
No momento em que o petróleo dos países árabes (Médio Oriente e Norte de
África), segundo o que numerosos analistas vão sustentando, inicia a curva
descendente após o “pico de Hubert”, interligando-se ao encadeado da crise
global provocada pelo neoliberalismo, a todo o transe a hegemonia procura
salvar o(s) rei(s)!
Em primeiro lugar o rei e a monarquia da Arábia Saudita, depois os reis e as monarquias da Jordânia e de Marrocos, os senhores e as monarquias “periféricas” dos Emiratos Árabes Unidos, de Bahrein, de Mascate e Oman… (1)
… Por fim e ali onde houve monarquias mal paradas que passaram à história, começam por “ressuscitar a bandeira”, conforme à expressão histórica colonial da Líbia…
É evidente que sobre aqueles que nada têm a ver com monarquias, emiratos, sultanatos e outros “derivados”, os riscos são maiores: enquanto nos regimes feudais e manifestamente anti democráticos (ainda que tisnados com os benefícios das sociedades de consumo modernas) as elites estão consolidadas de geração em geração com as “sucessões naturais” mobilizando as tribos à boa maneira de Lawrence da Arábia (o Cecil John Rhodes do petróleo), nas “repúblicas bananeiras” da região a cosmética de democracia “não chegou para as encomendas”…
Assim é que na Tunísia, no Egipto, na Argélia, no Iémen e no Irão, sem deixar de descurar as características diferenciadas das respectivas sociedades, bem como as características dos poderes respectivos, as vocações para a revolta se instalaram num multiplicado “efeito dominó” e ainda sem quaisquer prejuízos para as conveniências da hegemonia (que integram as multinacionais do petróleo anglo-saxónicas).
Na Líbia uma revolta redundante da cisão do poder vai assumindo contornos tribais e divisionistas, pondo em causa a soberania nacional, com indícios de regresso ao estágio colonial do Rei Idris…
No que toca à monarquia saudita já por diversas vezes fui chamando a atenção para a evidência dum Tratado jamais declarado, o “Tratado Quincy”.
Ainda há um ano publiquei o “Zip Zip 22 – Iraque, Iraque, 75 anos depois” (voltei a publicá-lo recentemente com notas adicionais) em que entre outras coisas reflectia sobre o papel do encontro entre o Presidente Franlin D. Rossevelt e o rei Ibn Saud, a 14 de Fevereiro de
É fundamental para os procedimentos da hegemonia garantir a vitalidade política e social da “casa Saud” e isso levando em consideração as pressões humanas que se vão arquitectando. (3)
Efectivamente, em 75 anos, quatro ou cinco gerações volvidas, há profundas transformações humanas em todos os países onde há matérias-primas (petróleo e minerais) e a Arábia Saudita não foge à regra, ainda que as monarquias conservadoras e devotadamente anti-democráticas, monarquias que arrastam uma clientela “sem limites”, estejam aparentemente consolidadas e aferidas aos interesses da aristocracia financeira mundial ao ponto das finanças do reino terem sido em parte entregues a apêndices discretamente conectados a Israel.
Na Arábia Saudita as políticas de portas abertas aos investimentos externos, privilegiando os de origem norte americana no sector do petróleo e do gás, não esperaram pelo advento neo liberal: essas políticas são parte integrante das orientações seguidas à risca pela “casa Saud” e podem-se constatar na própria história da ARAMCO, como nos dispositivos de algumas multinacionais norte americanas, entre as quais destaco o “Carlyle Group”, onde até as famílias Bush e Bin Laden têm capitais associados. (4)
É evidente que o tandem James Baker – George Soros também tem interesses próprios na Arábia Saudita, mas a “Open Society” nas Arábias abstém-se na proliferação das “revoluções coloridas”: não há “revolução colorida” na Arábia Saudita, por que as manipulações dialécticas do “modelo” não podem pôr em causa a “casa Saud”, muito pelo contrário, obedientemente há que alinhar com a cultura monárquica e feudal, “sem limites”. (5)
A monarquia da Jordânia é outro dos “tabus”: o facto da Jordânia ter encaixado dentro dos limites do reino hachemita uma parte substancial de palestinos, obriga a que o “modelo” não seja tocado, ou submetido a desestabilização, em benefício dos interesses do artifício que constitui Israel e particularmente dos interesses dos seus falcões. (6)
Sinais de alarme tocaram mesmo assim em Aman, pois as divisões e insatisfações tribais acabam por ir afectando um equilíbrio “executivo” precário que condiciona rei e monarquia, mas não põe em causa os seus alicerces.
O rei substituiu o Primeiro-Ministro na Jordânia logo que surgiram esses sinais de alarme. (7)
Há um aumento de riscos, mesmo assim a monarquia, para pelo menos alguns analistas (entre eles alguns próximos do Itamaraty do Brasil), sobreviverá sem grandes sobressaltos. (8)
A situação em Marrocos é económica e socialmente complexa, por razões inerentes ao país e pelo facto de Marrocos ter assumido o ónus colonial sobre o Sahara; mesmo assim, Marrocos teve na Argélia uma “almofada amortecedora” do choque que se estabeleceu na tríade Tunísia-Líbia-Egipto. (9)
Protegido pela interposição argelina da vaga de revoltas que se instalou a leste em “efeito dominó”, os protestos em Marrocos, que não beneficiaram duma cisão no poder, existem de forma “relativamente moderada” sem interferência dos tentáculos distendidos pela “Open Society” que não põem logicamente em causa a monarquia que tem exercido essencialmente a repressão sobre o povo saharaui e também sobre seu próprio povo.
O facto da situação em Marrocos poder-se reflectir sobretudo no canto sudoeste da Europa, na península Ibérica, incentiva a OTAN e a Espanha a um conjunto de medidas especiais sob cobertura da luta contra o terrorismo e luta contra a emigração ilegal, tal como a Itália em relação aos acontecimentos na Tunísia e na Líbia.
As monarquias árabes, apesar das revoltas que vão eclodindo no norte de África e no Médio Oriente, estão ainda para durar: as explosões sociais em estados republicanos ou em países periféricos da Arábia Saudita, possibilitam à hegemonia anglo-saxónica, pelo menos por agora, “salvar o(s) rei(s)”, fazendo muitas contas à vida para manter o espectro colonial.
Um dia que as revoltas estalem na Arábia Saudita, todo o mundo será economicamente afectado, menos aqueles que se têm dedicado há dezenas de anos à especulação financeira, entre eles George Soros! (10)
Por isso mesmo não é por acaso que os revoltosos da Líbia se estejam a propiciar rever na bandeira do Rei Idris: por muitos erros que Kadafi tenha cometido, uma revolta conservadora só poderá perfilhar os interesses das multinacionais anglo-saxónicas, aquelas que menos representatividade tiveram com o regime que querem agora apear, ou seja, “salvar o(s) rei(s)” por que com eles “salvam” o que lhes vai na alma – uma ilimitada, obsessiva e opressiva vontade de domínio absoluto nos acessos e nas vias disponíveis para a exploração e transporte do petróleo em todas e por todas as latitudes da Terra. (10)
Os “reis” estão a salvo, com o sacrifício de “torres” como Ben Ali e Mubarak!
Martinho Júnior - 3 de Março de 2011
Notas:
- (1) – Iraque, Iraque, 75 anos
depois – Martinho Júnior – Página Um – http://pagina--um.blogspot.com/2011/03/iraque-iraque-75-anos-depois.html
- (2) – Ibn Saud – Wikipedia – http://en.wikipedia.org/wiki/King_Abdul_Aziz
- (3) – King of Saudi Arabia –
Wikipedia - http://en.wikipedia.org/wiki/Kings_of_Saudi_Arabia
- (4) – Les liens financiers
occultes des Bush et des Ben Laden – Thierry Meyssan – Reseau Voltaire – http://www.voltairenet.org/article7613.html ;
Le Carlyle Group, une affaire d’initiées – Réseau Voltaire – http://www.voltairenet.org/article12418.html ;
Carlyle Group - Réseau Voltaire – http://www.voltairenet.org/mot120862.html?lang=fr ;
Saudi Aramco – Wikipedia – http://en.wikipedia.org/wiki/ARAMCO#History
- (5) – Amizade de risco – Joshua
E. Keating – http://blog.controversia.com.br/2011/03/02/amizade-de-risco/
; As elites e os estados árabes – Reginaldo Nasser – Carta Maior – http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=17496&boletim_id=847&componente_id=13846
- (6) – História da Jordânia –
Wikipedia – http://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_da_Jord%C3%A2nia
- (7) – Na Jordânia, a
insatisfação toma conta das tribos, pilar da monarquia hachemita – http://www.controversia.com.br/index.php?act=textos&id=8090 ;
Após protestos o Rei da Jordânia nomeia novo 1º Ministro – O Globo – http://g1.globo.com/mundo/noticia/2011/02/apos-protestos-rei-da-jordania-nomeia-novo-primeiro-ministro.html
- (8) – Especialistas em Oriente
Médio vêem limites à “primavera árabe” – Itamarati – http://www.itamaraty.gov.br/sala-de-imprensa/selecao-diaria-de-noticias/midias-nacionais/brasil/o-estado-de-sao-paulo/2011/02/07/especialistas-em-oriente-medio-veem-limites-a
- (9) – La poudriere Maroc –
Ignatio Ramonet – http://www.medelu.org/spip.php?article111 ; Queda dos
regimes árabes pode influenciar reformas no Marrocos - deputado – http://pagina--um.blogspot.com/2011/02/queda-dos-regimes-arabes-pode.html
- (10) – George Soros,
spéculateur et filantrope – Réseau Voltaire – http://www.voltairenet.org/article11936.html#article11936
- (11) – Quand flottent sur les
places libyennes les drapeaux du roi Idris – Manlio Dinucci – Réseau Voltaire – http://www.voltairenet.org/article168674.html
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