Rui Sá | Jornal de Notícias |
opinião
Se há coisa que me chateia é ver
as organizações políticas a correrem atrás "do que está a dar",
naquilo que não se pode considerar sentido de oportunidade política mas mero
oportunismo político.
Nos últimos tempos, PAN e BE
empurram-se mutuamente para ver quem ganha o pódio das causas ambientais a que,
convenhamos, deram pouca importância ao longo da sua relativamente curta vida.
Mas, se há manifestações de jovens com elevada mobilização em defesa do
ambiente, se a Comunicação Social está rendida à sua cobertura (como não faz de
quaisquer outras manifestações com mais mobilização...), então toca a virar as
agulhas para o assunto, até porque, dizem, o PAN e o BE disputam o mesmo
"segmento" de voto... Confesso que não é esta a forma de fazer
política que me seduz, embora reconheça que a mesma pode render votos no curto
prazo. Mas, com um bocado de inteligência e de atenção, vemos como o gigante
tem pés de barro e as incoerências são evidentes.
E assim vemos que o PAN, nas
contas da campanha eleitoral para o Parlamento Europeu, na rubrica de
transportes, apresenta como maior valor o transporte em carro próprio do seu
líder... E Catarina Martins, tão preocupada com o ambiente, mostra que, sobre a
matéria, tem ideias coladas com cuspo que a fazem dizer que temos barragens a
mais porque elas fazem com que a água se evapore...
Mas, deixando a espuma dos dias,
temos de facto um problema ambiental grave. Que temos de combater. Mas, sendo
sérios, não podemos deixar de constatar que a origem do problema está no
sistema económico em que vivemos - o capitalismo. Que, e isso está mais do que
provado (não sendo necessário recorrer a Marx, que tão bem e de uma forma
pioneira o caraterizou), precisa que a economia cresça para permitir acumular
capital - a sua razão principal de ser.
E esse crescimento faz-se com a
proliferação de produtos e serviços, com tempos de vida cada vez mais curtos,
que fazem com que se extraiam cada vez mais recursos do planeta, exaurindo-o.
Ao mesmo tempo que a ânsia do lucro faz com que a produção se efetue sem
preocupações ambientais (veja-se o caso da Amazónia e da primazia do negócio da
madeira que Bolsonaro incentiva). Simultaneamente surgem as teses de que a
culpa é dos cidadãos (mais ou menos como aconteceu aquando da última crise
económica, em que nos procuraram fazer crer que a culpa era nossa porque
vivíamos acima das nossas posses).
De facto, o capitalismo não é
verde e a sustentabilidade do ambiente contraria mesmo a sua essência. Não quer
isto dizer que os cidadãos não se devam mobilizar para defender o ambiente e,
em particular e no momento que vivemos, que se mobilizem contra as alterações
climáticas. Mas atacar as consequências sem ir às causas não costuma dar bom
resultado...
*Engenheiro
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