terça-feira, 17 de setembro de 2019

O CAPITALISMO NÃO É VERDE!


Rui Sá | Jornal de Notícias | opinião

Se há coisa que me chateia é ver as organizações políticas a correrem atrás "do que está a dar", naquilo que não se pode considerar sentido de oportunidade política mas mero oportunismo político.

Nos últimos tempos, PAN e BE empurram-se mutuamente para ver quem ganha o pódio das causas ambientais a que, convenhamos, deram pouca importância ao longo da sua relativamente curta vida. Mas, se há manifestações de jovens com elevada mobilização em defesa do ambiente, se a Comunicação Social está rendida à sua cobertura (como não faz de quaisquer outras manifestações com mais mobilização...), então toca a virar as agulhas para o assunto, até porque, dizem, o PAN e o BE disputam o mesmo "segmento" de voto... Confesso que não é esta a forma de fazer política que me seduz, embora reconheça que a mesma pode render votos no curto prazo. Mas, com um bocado de inteligência e de atenção, vemos como o gigante tem pés de barro e as incoerências são evidentes.

E assim vemos que o PAN, nas contas da campanha eleitoral para o Parlamento Europeu, na rubrica de transportes, apresenta como maior valor o transporte em carro próprio do seu líder... E Catarina Martins, tão preocupada com o ambiente, mostra que, sobre a matéria, tem ideias coladas com cuspo que a fazem dizer que temos barragens a mais porque elas fazem com que a água se evapore...


Mas, deixando a espuma dos dias, temos de facto um problema ambiental grave. Que temos de combater. Mas, sendo sérios, não podemos deixar de constatar que a origem do problema está no sistema económico em que vivemos - o capitalismo. Que, e isso está mais do que provado (não sendo necessário recorrer a Marx, que tão bem e de uma forma pioneira o caraterizou), precisa que a economia cresça para permitir acumular capital - a sua razão principal de ser.

E esse crescimento faz-se com a proliferação de produtos e serviços, com tempos de vida cada vez mais curtos, que fazem com que se extraiam cada vez mais recursos do planeta, exaurindo-o. Ao mesmo tempo que a ânsia do lucro faz com que a produção se efetue sem preocupações ambientais (veja-se o caso da Amazónia e da primazia do negócio da madeira que Bolsonaro incentiva). Simultaneamente surgem as teses de que a culpa é dos cidadãos (mais ou menos como aconteceu aquando da última crise económica, em que nos procuraram fazer crer que a culpa era nossa porque vivíamos acima das nossas posses).

De facto, o capitalismo não é verde e a sustentabilidade do ambiente contraria mesmo a sua essência. Não quer isto dizer que os cidadãos não se devam mobilizar para defender o ambiente e, em particular e no momento que vivemos, que se mobilizem contra as alterações climáticas. Mas atacar as consequências sem ir às causas não costuma dar bom resultado...

*Engenheiro

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