domingo, 15 de setembro de 2019

Portugal | Erros capitais


Domingos de Andrade | Jornal de Notícias | opinião

O PSD cometeu dois erros capitais, que podem marcar o partido, e por arrasto o centro direita, por mais do que um par de bons anos.

Um, o maior, é de Rui Rio, que não soube, ou não teve o engenho de perceber que o país é diferente daquele em que ele foi deputado e presidente da Câmara do Porto. Que o famoso tempo político de que se outorgava dono e senhor, do homem providencial que não anda ao sabor das marés, foi sugado pela voragem do instantâneo.

Não há hoje tempo para o tempo de Rui Rio.

Do ponto de vista programático, nenhuma bandeira resiste à memória, não há uma única ideia que seja de efetiva alternativa ao PS, a não ser a de que ele é um homem sério, desprendido das coisas mundanas da política, cujo epílogo fatal é, por muita genuinidade que tenha, assumir não pretender ser deputado e com isso desvalorizar a casa da democracia.


O outro erro é do próprio partido, que não lhe deu tempo para fazer um caminho. Pretender o quanto pior melhor, com alinhamentos permanentes dos críticos, desde a ansiedade de Luís Montenegro, à eventual criação de uma "junta" de salvação para o pós-6 de outubro com Jorge Moreira da Silva, Poiares Maduro e Carlos Moedas, agradando assim a todas as correntes do PSD, é acentuar a desmoralização da máquina partidária, que já só quer que o pesadelo passe. E rapidamente.

Rio dificilmente ficará, tenha 23, 24, 25, ou 26 por cento dos votos. Mas para os socialistas essa diferença é relevante. É a margem da maioria absoluta, de ter tempo para se instalar definitiva e calmamente nos vários domínios do Estado, enquanto os sociais-democratas e a Direita tentam refazer-se da queda, de poder ainda alcançar acordos com Rio antes de ele sair, e preparar a sucessão de António Costa.

Estas eleições não definem apenas as opções dos portugueses para os próximos anos. Nem só o futuro do centro-direita e, por consequência, da reorganização do espaço político português. Definem muito de como o PS vai preparar os próximos anos de poder. Interna e externamente.

*Diretor

Sem comentários:

Mais lidas da semana