Apesar do Presidente José Mário
Vaz ter demitido, na segunda-feira, o Executivo de Aristides Gomes, este
continua em funções. Situação atual do país levanta dúvidas sobre realização de
presidenciais.
A situação política na
Guiné-Bissau, provocada pelo decreto do Presidente José Mário Vaz, que demitiu
o Governo de Aristides Gomes e nomeou
um novo primeiro-ministro, está a levantar dúvidas sobre a realização das
eleições presidenciais, previstas para 24 de novembro.
Apesar da comunidade
internacional não reconhecer a nomeação do novo primeiro-ministro, Faustino
Imbali tomou posse, esta terça-feira. Agora, no país, parece haver dois chefes
de Governo em funções.
Os membros do Executivo de
Aristides Gomes continuaram, esta quarta-feira, a frequentar os seus gabinetes,
enquanto Faustino Imbali, primeiro-ministro indigitado pelo chefe de Estado
cessante, está a trabalhar no processo da constituição do elenco do novo
Governo, segundo informações apuradas pela DW África.
O momento que se vive no país
levanta, por isso, dúvidas sobre a realização das eleições presidenciais,
previstas para 24 de novembro.
Ouvido pela DW África, Gabriel
Fernando Indi, candidato presidencial do Partido Unido Social Democrático
(PUSD), defende a realização das presidenciais na data marcada, mas sublinha
que, para já, não estão reunidas as condições para a ida às urnas nesse dia.
"Acho que não há condições
para o dia 24 [de novembro] ser uma realidade, porque estamos numa incerteza e
ninguém sabe o que pode acontecer daqui a dois ou três dias". Portanto,
acrescenta Gabriel Indi, "os atores políticos têm que pôr os interesses da
Guiné-Bissau acima de tudo. Temos que conversar e procurar a solução
internamente".
Em comunicado, a Liga Guineense
dos Direitos Humanos alerta que a demissão do Executivo de Aristides Gomes
"pode mergulhar o país numa nova crise" política e "comprometer
o processo eleitoral em curso".
Guineenses convictos na ida às
urnas
Também os cidadãos dizem
estar preocupados com a situação no país. Ainda assim, acreditam que é possível
realizar eleições na data prevista.
Ouvida pela DW, uma estudante
guineense diz "ter fé que Deus vai sentir misericórdia e pena deste
país", e que as eleições se vão realizar.
A mesma convicção tem um outro
guineense entrevistado pela DW, que é funcionário público: "Registo com
preocupação esta situação. Conhecendo a realidade guineense, há muita
imprevisibilidade e não se sabe o desenrolar das coisas, mas, apesar de tudo o
que está a passar, tenho a certeza que as coisas se vão normalizar e
haverá eleições", diz.
Campanha arranca sábado
Entretanto, a Comissão Nacional
de Eleições (CNE) fez saber esta quarta-feira que a campanha
eleitoral só terá início no sábado, e não na véspera, como anunciado
anteriormente.
"A campanha eleitoral terá
início no dia 02 de novembro próximo, sábado, e não no dia 01 de novembro, que,
por lapso, ficou consignado no Cronograma de Atividades e termina a 22 de
novembro", refere em comunicado.
A situação mantém-se calma na Guiné-Bissau,
mas houve um reforço da segurança no Palácio do Governo e em outros
departamentos governamentais, guardados pela ECOMIB, a força militar da
Comunidade Económica de Desenvolvimento dos Estados da África Ocidental
(CEDEAO).
Esta quarta-feira, a União
Africana manifestou "total apoio" à CEDEAO, que considera que a
demissão do Governo liderado por Aristides Gomes é ilegal.
Também a União Europeia condena a
"tentativa ilegal" do Presidente guineense em demitir
o "único e legítimo poder executivo" no país.
Numa declaração a propósito dos
desenvolvimentos políticos na Guiné-Bissau, a porta-voz da diplomacia europeia,
Maja Kocijancic, vincou que, "a fim de preservar a estabilidade e o
desenvolvimento sustentável, o ciclo eleitoral deve ser continuado com as
eleições presidenciais previstas para 24 de novembro".
Deutsche Welle | Iancuba Dansó
(Bissau), Agência Lusa
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