domingo, 6 de outubro de 2019

“Paz e democracia” levada pelos EUA e Aliados ao Iraque é morte e falsa libertação


Protestos contra o governo no Iraque somam dezenas de mortos

Onda de manifestações populares denuncia corrupção estatal, alta taxa de desemprego e serviços públicos precários no país. Em quatro dias, confrontos violentos deixam quase 4 mil feridos, e centenas são detidos.

Apesar da intensa repressão, manifestantes voltaram às ruas de várias cidades do Iraque neste sábado (05/10), enquanto autoridades do país tentam chegar a um consenso sobre como reagir às violentas manifestações antigoverno, que já deixaram quase cem mortos.

A onda de protestos em Bagdá e no sul do Iraque teve início na última terça-feira, inicialmente contra o desemprego crônico e os serviços públicos precários no país, mas acabou se transformando num movimento mais amplo, exigindo o fim da corrupção e uma mudança de governo.

Segundo a comissão de direitos humanos do Parlamento iraquiano, quase 4 mil pessoas ficaram feridas em confrontos com forças de segurança desde a terça-feira. Mais de 500 pessoas foram detidas. A cifra de mortos, de acordo com a comissão, é de 94 pessoas, sendo 55 em Bagdá. Na capital do país, 250 pessoas foram tratadas por ferimentos de bala.

A agência de notícias Reuters, por sua vez, fala em ao menos 81 mortos desde a terça-feira, sendo cinco nos protestos deste sábado. O veículo usa informações de fontes policiais e médicas e diz que não pôde verificar os números divulgados pela comissão do Parlamento.

Ao longo do dia, dezenas de pessoas se reuniram em torno do prédio do Ministério do Petróleo, no centro de Bagdá, enfrentando disparos efetuados por oficiais contra elas, segundo relataram correspondentes da agência de notícias AFP.

Os novos confrontos seguiram um dia de relativa calma, após autoridades terem levantado um toque de recolher na manhã deste sábado, com o tráfego voltando a correr normalmente no centro da capital iraquiana. Uma praça onde se reuniram manifestantes anteriormente amanheceu lotada com centenas de policiais e outros oficiais de segurança.

Tiros também foram disparados contra manifestantes na cidade de Nassiriya, onde ao menos 18 pessoas foram mortas durante a semana, segundo a Reuters.

Os distúrbios são os mais mortais no Iraque desde a declarada derrota do grupo jihadista "Estado Islâmico" (EI), em 2017, e têm abalado o governo do primeiro-ministro Adil Abdul-Mahdi, há apenas um ano no poder. Enquanto isso, o governo tem respondido com promessas vagas de reformas que dificilmente apaziguarão os iraquianos.

Em discurso na sexta-feira, visando restaurar a calma após dias de agitação civil, Abdul-Mahdi descreveu como "legítimas" as reivindicações dos manifestantes e prometeu que seu governo não faria "promessas vazias".

"Suas demandas por reformas e a luta contra a corrupção chegaram até nós", disse o premiê. "As demandas para combater a corrupção e a preocupação com o futuro dos jovens são demandas legítimas, e nós responderemos a todos os pedidos legítimos."

Ao mesmo tempo, Abdul-Mahdi usou seu discurso na televisão para pedir aos iraquianos que não sigam nenhum "defensor do desespero" e que não permitam que os protestos pacíficos se tornem violentos.

O Parlamento deveria se reunir às 13h (horário local) deste sábado para discutir a questão. O presidente da Casa, Mohamed al-Halbousi, disse que "a voz dos manifestantes estava sendo ouvida" e esperava debater temas como geração de empregos e esquemas de assistência social com os deputados.

Contudo, o Parlamento não conseguiu alcançar quorum, após o bloco de 54 parlamentares do clérigo Moqtada al-Sadr e outras bancadas terem boicotado a sessão. Sadr expressou apoio às manifestações com um pedido de renúncia do primeiro-ministro Abdul-Mahdi, e adiantou que seu bloco só retornará ao Parlamento quando o governo lançar um programa a favor do povo iraquiano.

Mas muitos manifestantes, principalmente homens jovens, insistem que seu movimento não está ligado a nenhum partido ou grupo religioso e menosprezam as recentes iniciativas de políticos. "Esses homens não nos representam. Não queremos mais partidos. Não queremos que ninguém fale em nosso nome", disse um manifestante na sexta-feira.

Segundo o Banco Mundial, a taxa de desemprego entre jovens no Iraque é de cerca de 25%. O país é classificado como a 12ª nação mais corrupta do mundo pela ONG Transparência Internacional.

Deutsche Welle | EK/afp/ap/dpa/rtr/ots

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