Protestos contra o governo no
Iraque somam dezenas de mortos
Onda de manifestações populares
denuncia corrupção estatal, alta taxa de desemprego e serviços públicos
precários no país. Em quatro dias, confrontos violentos deixam quase 4 mil
feridos, e centenas são detidos.
Apesar da intensa repressão,
manifestantes voltaram às ruas de várias cidades do Iraque neste sábado
(05/10), enquanto autoridades do país tentam chegar a um consenso sobre como
reagir às violentas manifestações antigoverno, que já deixaram quase cem mortos.
A onda de protestos em Bagdá e no
sul do Iraque teve início na última terça-feira, inicialmente contra o
desemprego crônico e os serviços públicos precários no país, mas acabou se
transformando num movimento mais amplo, exigindo o fim da corrupção e uma
mudança de governo.
Segundo a comissão de direitos
humanos do Parlamento iraquiano, quase 4 mil pessoas ficaram feridas em
confrontos com forças de segurança desde a terça-feira. Mais de 500 pessoas
foram detidas. A cifra de mortos, de acordo com a comissão, é de 94 pessoas,
sendo 55 em Bagdá. Na capital do país, 250 pessoas foram tratadas por
ferimentos de bala.
A agência de notícias Reuters,
por sua vez, fala em ao menos 81 mortos desde a terça-feira, sendo cinco
nos protestos deste sábado. O veículo usa informações de fontes policiais e
médicas e diz que não pôde verificar os números divulgados pela comissão do
Parlamento.
Ao longo do dia, dezenas de
pessoas se reuniram em torno do prédio do Ministério do Petróleo, no centro de
Bagdá, enfrentando disparos efetuados por oficiais contra elas, segundo
relataram correspondentes da agência de notícias AFP.
Os novos confrontos seguiram um
dia de relativa calma, após autoridades terem levantado um toque de recolher na
manhã deste sábado, com o tráfego voltando a correr normalmente no centro da
capital iraquiana. Uma praça onde se reuniram manifestantes anteriormente
amanheceu lotada com centenas de policiais e outros oficiais de segurança.
Tiros também foram disparados
contra manifestantes na cidade de Nassiriya, onde ao menos 18 pessoas foram
mortas durante a semana, segundo a Reuters.
Os distúrbios são os mais mortais
no Iraque desde a declarada derrota do grupo jihadista "Estado
Islâmico" (EI), em 2017, e têm abalado o governo do primeiro-ministro Adil
Abdul-Mahdi, há apenas um ano no poder. Enquanto isso, o governo tem respondido
com promessas vagas de reformas que dificilmente apaziguarão os iraquianos.
Em discurso na sexta-feira,
visando restaurar a calma após dias de agitação civil, Abdul-Mahdi descreveu
como "legítimas" as reivindicações dos manifestantes e prometeu que
seu governo não faria "promessas vazias".
"Suas demandas por reformas
e a luta contra a corrupção chegaram até nós", disse o premiê. "As
demandas para combater a corrupção e a preocupação com o futuro dos jovens são
demandas legítimas, e nós responderemos a todos os pedidos legítimos."
Ao mesmo tempo, Abdul-Mahdi usou
seu discurso na televisão para pedir aos iraquianos que não sigam nenhum
"defensor do desespero" e que não permitam que os protestos pacíficos
se tornem violentos.
O Parlamento deveria se reunir às
13h (horário local) deste sábado para discutir a questão. O presidente da Casa,
Mohamed al-Halbousi, disse que "a voz dos manifestantes estava sendo
ouvida" e esperava debater temas como geração de empregos e esquemas de assistência
social com os deputados.
Contudo, o Parlamento não
conseguiu alcançar quorum, após o bloco de 54 parlamentares do clérigo Moqtada
al-Sadr e outras bancadas terem boicotado a sessão. Sadr expressou apoio às
manifestações com um pedido de renúncia do primeiro-ministro Abdul-Mahdi, e
adiantou que seu bloco só retornará ao Parlamento quando o governo lançar um
programa a favor do povo iraquiano.
Mas muitos manifestantes,
principalmente homens jovens, insistem que seu movimento não está ligado a
nenhum partido ou grupo religioso e menosprezam as recentes iniciativas de
políticos. "Esses homens não nos representam. Não queremos mais partidos.
Não queremos que ninguém fale em nosso nome", disse um manifestante na
sexta-feira.
Segundo o Banco Mundial, a taxa
de desemprego entre jovens no Iraque é de cerca de 25%. O país é classificado
como a 12ª nação mais corrupta do mundo pela ONG Transparência Internacional.
Deutsche Welle | EK/afp/ap/dpa/rtr/ots
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