quarta-feira, 2 de outubro de 2019

Portugal | Outra vez as sondagens

Rui Sá* | Jornal de Notícias | opinião

Decidiram o JN, a TSF e a TVI apresentar diariamente os resultados de sondagens baseadas no conceito de "tracking poll".

Esta expressão não tem uma tradução direta para português mas, no fundo, estamos a falar de uma sondagem que é feita diariamente, com amostras muito pequenas (150 pessoas!), cujos resultados se vão juntando aos anteriores, ao mesmo tempo que são retirados da amostra os resultados mais antigos (o que significa que a amostra total nunca é superior a 600 entrevistas).

Estas sondagens, feitas ao longo do período eleitoral, visam, essencialmente, aferir a evolução de tendências e, principalmente, medir o efeito que factos relevantes ocorridos durante a campanha eleitoral podem ter na tendência de voto dos eleitores (como, por exemplo, a decisão do Ministério Público sobre os roubos de Tancos).

Apesar destes objetivos, que até podem parecer positivos, e da "cientificidade" com que esta metodologia é apresentada, confesso que olho para os seus resultados com muito ceticismo. Mantendo a posição de que, mais do que estudar comportamentos do eleitorado, as sondagens, e principalmente a forma como os respetivos resultados são "interpretados" e divulgados, visam influenciar os eleitores.

Sendo que esta metodologia dá títulos diários que mais parecem de quem acompanha as provas de ciclismo... Vejamos os títulos de 1ª página aqui no JN: "Rio encurta distância para Costa" (22/9); "PS perde dois pontos de um dia para o outro" (23); "PS, Bloco e CDU sobem, PS continua a descer" (24); "Rui Rio recupera sete pontos em quatro dias" (25); "PSD quebra e a distância para o PS volta a aumentar" (26); "Depois da queda do PSD, o novo fôlego dos socialistas" (27); "Pequenos partidos recuperam terreno" (28); "PS fragilizado com PSD à espreita" (29).


Ou seja, e como se constata, há evoluções brutais de dia para dia (o que não deixa de ser curioso para quem afirma que as campanhas eleitorais pouco decidem...). Mas, apesar da diversidade dos títulos, parece evidente uma forte aposta numa tentativa de forçar a bipolarização (Helena Garrido, na Antena 1, disse que estas eleições "estão muito renhidas")!.. Apesar de, hoje, todos sabermos que ela não existe (o PSD não tem quaisquer hipóteses de ganhar as eleições e até Rio já fala em "resultado honroso")...

O objetivo desta aposta na bipolarização é claro e o que se passou nas eleições da Madeira demonstra-o: defender o bloco central de interesses e esvaziar os partidos ditos pequenos. Empobrecendo, artificialmente, a democracia. Espero que os portugueses tenham maturidade suficiente para não irem na cantiga da inexistente bipolarização. E que tenham consciência, como escreve Rafael Barbosa aqui no JN, "que todos os votos contam"!


*Engenheiro

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