Paulo Baldaia | Jornal
de Notícias | opinião
Tenho idade suficiente para ter
assistido em direto à conquista das medalhas olímpicas de Rosa Mota. Tenho
igualmente o privilégio de conhecer pessoalmente a mulher de ouro que ela é e
sempre foi. O país deve estar-lhe eternamente grato, a cidade do Porto deve-lhe
este Mundo e o outro, mas talvez não fosse mal pensado não misturar alhos com
bugalhos.
Houve uma grande dose de
populismo quando, bem lá atrás, se lembraram de homenagear a Super Rosa
emprestando o seu nome para rebatizar o Palácio de Cristal, já depois de
rebatizado Pavilhão dos Desportos, sem cuidar de garantir que aquela estrutura
estaria sempre em condições de honrar o nome que recebia. Nos jardins já não
habitam nem o leão Sofala, nem o Chico chimpanzé, mas o Palácio também deixou
de ser de Cristal a meio do século passado e andou por vários períodos ao
abandono até que alguém se lembrou de lhe dar mais uns anos de vida.
A recuperação desta sala de
espetáculos, desportivos ou culturais, só foi possível porque se encontrou um
mecenas disponível para pagar a empreitada. De outro modo, continuaríamos a
chamar Pavilhão Rosa Mota a um edifício onde acontecia muito pouca coisa. Quis
o destino que o financiador fosse a Super Bock, marca nortenha, orgulho de quem
está sempre a recordar o ADN industrial da gente do Norte. Sou confrade da
cerveja, "obrigado" a defender todas as marcas, mas quero confessar
que sou dos que em Portugal defende que, em matéria de cervejas industriais, há
a Super Bock e as outras.
Está-me a parecer que há uma
grande injustiça nesta polémica recente sobre o nome a dar ao pavilhão. Para um
lado e para o outro. Sugiro por isso que não se misturem duas coisas muito
boas, correndo o risco de ficar com uma coisa má. Melhor maneira de resolver
este problema? Rebaptizar, por exemplo, a Avenida dos Aliados. Ou passa a ser
Avenida Rosa Mota ou Avenida Super Bock, local onde o clube da cidade festeja
os títulos, bebendo a cerveja que patrocina oficialmente o brasão abençoado.
Em Lisboa, o Pavilhão Atlântico
passou a chamar-se Meo Arena, porque o espaço foi vendido a um privado que
financiou a compra com patrocínios, mas o Pavilhão Carlos Lopes, que também
andou aos caídos, acabou por ser totalmente restaurado com dinheiros públicos e
a concessão do espaço entregue por 50 anos, a troco de uma verba, à Associação
de Turismo de Lisboa, uma entidade privada sem fins lucrativos. Uns podem,
outros não. É tudo mais fácil quando se passa em Lisboa.
*Jornalista
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