Bolsonaro e os três filhos formam
a família mais poderosa e mais atormentada do Brasil. A mais acossada desde o
Império. Não há filhos mais assombrados por sombras e medos do que os três
filhos de Bolsonaro
Bolsonaro e os três filhos formam
a família mais poderosa e mais atormentada do Brasil. A mais acossada desde o
Império. Bolsonaro simula que manda em quem quiser mandar, mas desconfia do
porteiro do condomínio e teme os arquivos do major Olímpio, do delegado Waldir,
de Bebianno e de Joice Hasselmann.
Os filhos de Bolsonaro desconfiam
de todos que dizem confiar neles. Não há filhos mais assombrados por sombras e
medos do que os três filhos de Bolsonaro.
Eles temem traições entre os
milicianos. Desconfiam do Queiroz, dos parentes do Queiroz, dos laranjas
insatisfeitos com a partilha das rachadinhas, dos robôs das fake news.
Os Bolsonaros desconfiam do vice
Hamilton Mourão. Não podem confiar em Rodrigo Maia. Bolsonaro abandonou o
próprio partido por desconfiar dos gestores do cofre. E desconfia de Witzel.
Tudo do entorno dos Bolsonaros
gera desconfiança. Bolsonaro sempre soube que os grandes empresários não
confiam nele, muito menos os banqueiros. Os investidores estrangeiros sabem que
ele não sabe de nada.
A família Bolsonaro não dorme em
paz, como as famiglias da Sicília. Os Bolsonaros não sabem mais quem são seus
inimigos, porque não sabem há muito tempo quem são seus amigos.
Desde aquela noite em que Bolsonaro
comemorou a vitória gritando que eliminaria os marginais vermelhos na ponta da
praia, a maldição abateu-se sobre o pai e os filhos.
Não são mais os velhos
adversários que os Bolsonaros precisam abater. Desde aquele momento, desde a
comemoração com o alerta aos inimigos, que os amigos dos Bolsonaros são suas
verdadeiras ameaças.
Os Bolsonaros nunca temeram tanto
os inimigos que o pai ameaçou matar quanto temem os ex-amigos. Temem os acordos
não cumpridos com os coronéis do Congresso e os parceiros do Judiciário.
Temem a memória e a alma de
Marielle Franco e os rastros deixados pelos seus assassinos. Temem a presença
de Sergio Moro, mesmo que o ex-juiz e Bolsonaro precisem sobreviver abraçados,
até o dia em que um deles será obrigado a dar o bote. Pela frente mesmo, porque
já é um bote esperado.
Bolsonaro não tem tempo para
governar, porque é ocupado pela tensão permanente e pelo medo de ser traído.
Bolsonaro não confia em Trump, nem em Paulo Guedes, porque Guedes fala como
candidato e quer ocupar o lugar do chefe no coração do empresariado e dos
golpistas.
O governo já demitiu seis
generais, porque Bolsonaro não acredita na fidelidade deles. Ele, os filhos e
seus subalternos fiéis tentam cuidar de cada movimento dos 2.500 oficiais
empregados no governo.
Os Bolsonaros não confiam nos
bispos neopentecostais e não podem confiar em ninguém da direita, dentro ou
fora dos templos, porque a direita abandona seus perdedores, como abandonou
Collor, Aécio, Serra, Eduardo Cunha.
Os Bolsonaros só confiam em Olavo
de Carvalho, mas esse não tem poder real, não tem quartéis e nem votos. Olavo
de Carvalho é o rasputin dos Bolsonaros, só tem a poção da Terra plana.
Mas os Bolsonaros ainda não estão
diante de todos os seus medos. Um dia, daqui a pouco, eles poderão temer os
próprios Bolsonaros, quando uns terão medo dos outros, e aí talvez já nem
estejam mais no poder.
Imagem: Bolsonaro com seus filhos
(Foto: Roberto Jayme/Ascom/TSE)
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