quarta-feira, 13 de novembro de 2019

Guiné-Bissau prepara-se para eleições em clima de incerteza


Boletins de voto para presidenciais de 24 de novembro já chegaram à CNE, numa altura em que o Presidente José Mário Vaz ainda não se pronunciou sobre o pedido de demissão de Faustino Imbali do cargo de primeiro-ministro.

A caminho das presidenciais de 24 de novembro, as autoridades guineenses receberam neste fim de semana os boletins de voto e os restantes materiais eleitorais necessários para a realização do pleito na data marcada.

"Com a recepção desses materiais, quero assegurar a todos que a lógica eleitoral está garantida para que o ato eleitoral possa decorrer", garantiu José Pedro Sambú, presidente da Comissão Nacional Eleitoral.

"Convido todos os atores políticos implicados no processo para juntos, de forma concertada, franca e em observância dos princípios e valores da integridade eleitoral, fazermos do dia 24 de novembro o dia da festa da democracia", acrescentou.

Os materiais eleitorais, produzidos em Portugal, foram entregues à CNE pelo embaixador de Portugal na Guiné-Bissau, naquela que é a tradicional participação de Portugal em garantir apoio logístico às eleições guineenses. António Alves de Carvalho pediu obediência à ordem constitucional para cumprir o calendário eleitoral: "As eleições presidenciais devem efetivamente decorrer em 24 de novembro próximo, encerrando o ciclo eleitoral deste ano".

O diplomata português exortou ainda os atores políticos guineenses no sentido de garantirem a transparência, clareza e inquestionável validação do ato eleitoral.


CEDEAO a postos

O Presidente cessante da Guiné-Bissau, José Mário Vaz, ainda não se pronunciou sobre o pedido de demissão apresentado na sexta-feira (08.11) por Faustino Imbali, a poucas horas de terminar o prazo dado pela CEDEAO para a demissão do Governo nomeado pelo chefe de Estado guineense. A nomeação de Faustino, contestada pela comunidade internacional, não se efetivou devido à resistência do Governo no poder, liderado por Aristides Gomes, resultante das eleições legislativas de 10 de março. 

Entretanto, seis chefes de Estado dos países membros da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) chegam a Bissau no próximo sábado, 16 de novembro, para avaliar a situação política no terreno, antes das eleições presidenciais do dia 24. 

Os chefes de Estado do Níger,  da Nigéria, da Costa do Marfim, de Gâmbia e da Guiné-Conacri devem reafirmar a posição da comunidade internacional de sancionar quem perturbar o processo eleitoral em curso. A visita será antecedida de uma missão dos chefes do Estado-Maior das Forças Armadas da CEDEAO, segundo uma fonte do ministério dos Negócios Estrangeiros do país ouvida pela DW. A CEDEAO já fez saber, na cimeira extraordinária de sexta-feira passada, que vai reforçar os militares da sua força de manutenção de paz  na Guiné-Bissau para garantir a segurança ao processo eleitoral.

A campanha eleitoral em curso na Guiné-Bissau termina a 22 de novembro e a votação está marcada para o dia 24. O Governo guineense liderado por Aristides Gomes tem denunciado alegada tentativa por parte dos partidos de oposição e do Presidente cessante de  adiar a votação.

A comunidade regional lembra a José Mário Vaz que é um Presidente interino desde 23 de junho, quando terminou o seu mandato, e que todos os seus atos devem ser validados pelo primeiro-ministro, Aristides Gomes, a fim de lhe conferirem legalidade. A CEDEAO acusa o Presidente cessante de violar a Constituição ao nomear Faustino Imbali como novo primeiro-ministro à revelia das leis do país.

Jomav sem medo

O candidato às presidenciais de 24 de novembro José Mário Vaz disse este domingo (10.11) não ter medo de ninguém e que entrega a sua cabeça "à Virgem Maria" e aos guineenses. Falando num comício em Canchungo, localidade perto da terra onde nasceu, em Caliquisse, José Mário Vaz acusou o atual primeiro-ministro guineense, Aristides Gomes, natural de Canchungo, de estar a pedir à comunidade internacional que sancione o Presidente cessante. 

O político guineense disse não ter ódio e nem querer vingar-se de ninguém, que apenas quer ficar na história da Guiné-Bissau, daí que pede um segundo mandato para desenvolver o país. José Mário Vaz voltou a avisar que a Guiné-Bissau "está ameaçada" e desta vez acusou "um filho de Canchungo" (Aristides Gomes) de ser um dos culpados pela situação.

O Presidente cessante afirmou ainda que "os adversários já estão com medo" depois de terem dito que era ele quem temia ir às eleições presidenciais. "As eleições deviam ser já amanhã", preconizou José Mário Vaz, salientando o que disse ser "grande adesão popular" à sua candidatura. 

Braima Darame, Agência Lusa | Deutsche Welle

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