As sondagens prevêem que o Vox
consiga mais de 40 deputados nas próximas eleições. Seria a terceira força
política do país.
Primeiro conseguiram 12 deputados
na Andaluzia, depois 24 no Congresso e, agora, o Vox, partido de
extrema-direita espanhol pode conseguir mais de 40 representantes. As sondagens
prevêem uma subida espetacular do partido de extrema-direita, que poderia ficar
à frente do Ciudadanos, o partido que mais votos perderia nestas eleições.
Para Rafael Escudero, professor
de Filosofia do Direito da Universidade Carlos III de Madrid estes números não
são mais que a expressão de uma parte do eleitorado espanhol que sempre foi de
extrema-direita e estava camuflado no Partido Popular. "Sempre houve
votantes de extrema-direita em Espanha. O que acontece é que esse segmento do
eleitorado esteve durante muito tempo confortável no PP e agora tem uma sigla
própria. Votantes de extrema-direita sempre houve, mas nunca de forma tão
pública como agora, com essa maneira de reivindicar e de se sentirem orgulhosos
de serem de extrema-direita", explica. "Isso é que me parece
perigoso".
De caráter nacionalista,
anti-imigração e antifeminista, o Vox entrou na política espanhola apoiado na
questão catalã e na unidade de Espanha. Nas últimas semanas, a sentença do
Supremo Tribunal, que condena alguns dos responsáveis catalães a mais de 10 anos
de prisão, e os protestos violentos nas ruas de Barcelona, impulsionaram o seu
crescimento. Os partidos endureceram então o seu discurso e, na hora dos
cidadãos decidirem o voto, o politólogo Xavier Peytibi explica que muitos
resolveram optar por aquele que propõe as medidas mais duras.
"No tema catalão quem propõe
sempre medidas mais duras é o Vox. Numa sociedade super polarizada o Vox passa
mensagens populistas mas dirigidas ao seu público que vê que o Vox dá muito
melhor muitas das mensagens que antes eram do Ciudadanos. E em vez de votar
Ciudadanos que era o que votava antes, agora vota Vox", analisa. O partido
de Albert Rivera é o que mais tem caído nas sondagens e pode passar dos 57
deputados de abril para menos de 20 agora.
No único debate antes das eleições, o líder de extrema-direita, Santiago Abascal, fugiu de confrontos com os adversários e centrou-se apenas em repetir as mensagens chave para o seu eleitorado, muitas delas baseadas em dados falsos. Assim, culpou os imigrantes da maioria de agressões sexuais, quando as condenas de espanhóis por esses delitos são mais do triplo e afirmou que mais de 80% das denuncias por violência de género são falsas, quando as estatísticas provam que não chegam nem ao 1% do total. No entanto, nenhum dos seus adversários o corrigiu.
"Normalizaram-se mensagens
impensáveis há um ano. E agora disseram-se sem nenhum problema, na televisão e
em prime time. Nenhum dos outros cadidatos desmentiu nada do que disse o Vox,
como se fosse verdade, como se tivesse razão", diz Peytibi. "É um
velho debate, se o fascismo tem de se combater ou se é melhor deixar que essas
mensagens se anulem por si mesmas. Mas eu acho que têm de se combater, até
porque o Vox já não é um outsider, já está dentro do jogo político. E desde o
ponto de vista jurídico, político e económico são muito fracos e dizem muitas
mentiras, muitas frases que não têm justificação e é preciso sublinhar essas
deficiências", completa Escudero.
Se as previsões se confirmarem, o
Vox vai entrar no Congresso como terceira força política. A maioria de
sondagens preveem entre 40 e 46 deputados, quase o dobro do que conseguiu em
Abril. Numa altura em que as previsões económicas não são as mais favoráveis,
Escudero avisa do risco de uma maior expansão da extrema-direita. "Por
agora o Vox não se nutre do voto da classe trabalhadora desencantada, como
passou com Le Pen em França, onde muita gente humilde, em zonas onde
tradicionalmente se votava no Partido comunista francês, passou a votar na
extrema-direita. Isto não está a acontecer em Espanha mas pode chegar a
acontecer em algum momento", declara.
"Irresponsabilidade"
PP e Ciudadanos mantêm uma
posição discreta no que respeita ao Vox porque podem precisar dos seus votos
para governar, como já aconteceu em Madrid e na Andaluzia. A estratégia é
arriscada e o Vox parece estar a comer terreno aos dois rivais da direita. "É
uma irresponsabilidade por parte do Casado e do Rivera, continuarem a alimentar
o monstro. E vamos ver se não se volta o feitiço contra o feiticeiro... o
Ciudadanos parece que já está a sofrer as consequências", lembra Escudero.
Também do lado da esquerda, a
resposta aos delírios do partido de extrema-direita foi escassa. "O Vox
não é adversário do PSOE, o PSOE nunca vai conseguir esses votos", diz
Peytibi. "E na verdade, interessa-lhe que o Vox suba. O medo à extrema-direita
e é o que pode fazer com que os votantes de esquerda votem em massa no domingo,
como aconteceu em abril", conclui.
A abstenção é outra das
protagonistas das sondagens, que preveem uma queda de pelo menos quatro pontos
na participação. No caso de se concretizar, a esquerda seria a mais prejudicada.
Joana Rei | TSF
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