Medidas pelo meio ambiente ganham
mais força com aumento significativo do preço das emissões de carbono, após
resultados decepcionantes da Conferência do Clima em Madri – também por culpa
do Brasil.
Não se trata de uma conquista
obtida na 25ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas
(COP25) de Madrid, mas parece se tratar de um caso de "Ou vai ou
racha!". O governo alemão deverá reforçar em um ponto importante seu
amplamente criticado pacote
climático: o preço da tonelada de dióxido de carbono emitida deverá ser de
25 euros a partir de 2021, e não de apenas dez euros, como planeado
inicialmente.
O governo atingiu esse resultado
em árduas conversações com o Partido Verde, de quem depende urgentemente na
votação dos representantes estaduais no Bundesrat (câmara alta do Parlamento
alemão). Até 2025, o preço deverá aumentar para 55 euros, ao invés dos 35 euros
previstos anteriormente.
A imposição de preços para as
emissões de gases causadores do efeito estufa vinha sendo exigida há muito por
especialistas e cientistas. Na Alemanha, por exemplo, Ottmar Edenhofer, diretor
do prestigiado Instituto Potsdam para Pesquisa sobre Impactos no Clima, já
defendia essa medida há vários anos.
Ele reagiu com satisfação à
notícia: "Aumentar o preço do CO2 é um avanço corajoso por parte do
governo federal e dos estados. As metas de preços visadas poderão, de fato,
reduzir as emissões em tempo hábil. Elas se aproximam agora daquilo que as
pesquisas económicas designaram economicamente eficiente para o pacote
climático. Tendo em vista especialmente os fracos
resultados da Conferência do Clima de Madrid, é positivo a Alemanha querer
dar sua contribuição para estabilizar o clima."
Os verdes, naturalmente, se
apressam em enfatizar seu papel na melhora do clima político na Alemanha:
"O governo não promoveu esse acordo. Isso veio através da persistência,
inteligência ao negociar e firmeza dos verdes junto ao governo. É um passo à
frente, os preços aumentaram significativamente", comemorou o líder do
partido, Robert Habeck.
Coligação cede à pressão
O acordo sobre o preço das
emissões abre caminho para uma parte do abrangente pacote climático do governo.
Os custos para os mais ecológicos trens de longa distância devem ser reduzidos
já o início de 2020. Contudo, para assegurar que os moradores das áreas rurais
não sofram desvantagens por um previsível aumento no preço da gasolina, deverá
ser aumentada a dedução de impostos sobre as viagens de trabalho.
O novo preço sobre as emissões
ainda está longe do que os cientistas e ambientalistas afirmam ser ideal.
"Para reduzir rapidamente as emissões de CO2, precisamos de um preço que
seja baseado em resultados científicos, de ao menos 80 euros!", reivindica
Martin Kaiser, especialista da ONG Greenpeace, que acaba de testemunhar o quase
fracasso da conferência da ONU em Madri. Por outro lado, a medida pelo menos
serve para demonstrar que Berlim está disposto a reagir às fortes críticas dos
especialistas, admite Kaiser.
Como era de se esperar, os
representantes do setor dos negócios criticaram a medida. "O aumento
planeado no preço do CO2 ameaça deteriorar drasticamente a competitividade
doméstica", afirma Holger Lösch, da Federação das Indústrias da Alemanha
(BDI). Para ele, muitas empresas de médio porte poderão ficar em desvantagem no
país e no exterior, ao ponto ter sua existência seriamente ameaçada.
O governo evita por enquanto
comentar sobre o acordo, que deverá ser selado oficialmente nesta quarta-feira
(18/12) e votado no Bundesrat na sexta-feira. "O fato de que a União
Democrata Cristã (CDU), a União Social Cristã (CSU), o Partido Social-Democrata
(SPD) e os Verdes chegaram a um acordo é um sinal importante. E talvez possa
ser visto como um pequeno presente. Mas o trabalho ainda está por vir",
alertou o especialista em clima dos social-democratas, Matthias Miersch.
Poucos progressos na COP25
Na segunda-feira, Steffen
Seibert, porta-voz da chanceler federal alemã, Angela Merkel, comentou o
resultado da Conferência do Clima da ONU: "O governo federal compartilha a
decepção que muitos sentiram e expressaram com os resultados em Madrid. Também
gostaríamos de ter visto mais avanços."
De fato, no último domingo, na
capital espanhola, com 40 horas de atraso, os representantes dos governos
internacionais só conseguiram atingir um comprometimento mínimo para evitar o
fracasso total da conferência. O principal ponto de discórdia eram exatamente
as complicadas negociações sobre como o direito de emitir gases causadores do
efeito estufa deve ser estruturado no futuro.
Em 2020, entra em efeito o Acordo
de Paris sobre o Clima de 2015, que obriga os países signatários a aumentarem
os esforços de proteção ao clima. Se dependesse de alguns governos refratários,
as regras teriam sido delineadas de tal modo que praticamente não seria preciso
reduzir gases do efeito estufa.
Essa questão, na qual não houve
progressos, foi adiada para a próxima conferência em Glasgow, daqui a um ano,
uma vez que a União Europeia, em particular, se recusou a aceitar uma resolução
mais fraca. A decisão gerou protestos por parte dos ambientalistas.
Sabine Minninger, especialista em
clima da ONG alemã Brot für die Welt (Pão para o mundo), expressou seu
descontentamento à DW: "O espírito de Paris ainda está vivo, mas o
batimento cardíaco está fraco. Alguns países desempenharam papéis bastante
destrutivos, como os Estados Unidos, Brasil e Austrália".
Na Alemanha, porém, a proteção ao
clima conseguiu pelo menos dar um pequeno passo à frente com as novas medidas.
Jens Thurau (rc) | Deutsche Welle
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