71 anos após a promulgação da
Declaração Universal dos Direitos Humanos, ainda há muito por fazer neste
capítulo na Guiné-Bissau. Faltam hospitais, as aulas são interrompidas e a Justiça
é morosa e "corrupta".
A situação dos Direitos Humanos
na Guiné-Bissau é preocupante, queixam-se vários cidadãos ouvidos pela DW
África, sobretudo porque tem havido recuos nos últimos tempos.
"Não há escola, não há
justiça, não há saúde, não há nada", resume uma enfermeira de Bissau.
"Estamos no zero".
As aulas nas escolas públicas
guineenses têm sido constantemente
interrompidas por causa das greves dos professores, há falta de
hospitais, centros de saúde, técnicos e material sanitário, e a Justiça é vista
como morosa e "corrupta".
Um professor lamenta que
a Justiça, ao nível da Guiné-Bissau, seja "um pouco coxa, porque
a corrupção fala mais alto".
Dificuldades para ir à escola
A inacessibilidade aos serviços
básicos é ainda mais evidente no interior do país.
Bubacar Djaló, secretário
executivo da Estrutura Comunitária de Animação e Sensibilização para o
Desenvolvimento (ECASD), explica que nem todas as aldeias têm escola e
isso faz com que muitas crianças tenham dificuldades em ir às aulas.
A organização não-governamental
tem atuado nas regiões de Bafatá e Gabú, no leste do país, onde, muitas
vezes, o acesso às escolas é "difícil", não só pela distância
"grande", como também devido às "péssimas condições das
estradas".
Há aldeias sem ambulâncias
No interior, o acesso aos
serviços de saúde também é complicado, segundo Formosinho da Costa, ativista
dos direitos humanos na região de Quinará, no sul do país.
"Não é fácil para a pessoa
que tiver uma doença grave, porque todas as povoações estão longe dos centros
de saúde. Ainda há aldeias onde a ambulância do hospital não pode chegar devido
à má condição da estrada e as pessoas transportam os doentes em
motorizadas".
"Isso é grave",
continua o ativista. "Imagine uma pessoa que não se pode mexer, porque
está doente, como é que pode sentar na motorizada?"
Em julho, a Liga Guineense dos
Direitos Humanos publicou um relatório, em que pintou um quadro
negro do sistema nacional de saúde da Guiné-Bissau, considerando-o de
"ineficiente e corrupto". Segundo o documento, a corrupção
deve-se sobretudo a má gestão nos hospitais, falta de transparência nos centros
de saúde e à fraca fiscalização.
Em junho, o bastonário da Ordem
dos Advogados, Basílio Sanca, denunciou casos de corrupção no próprio
aparelho judicial do país, falando numa alegada "venda de despachos"
por parte de magistrados.
"Temos que lutar"
Perante os vários obstáculos ao
acesso dos cidadãos a serviços básicos, o presidente da Liga Guineense dos
Direitos Humanos (LGDH), Augusto Mário da Silva, defende a adoção de políticas
claras, por parte do Governo, para fazer face aos problemas,
oferecendo-se para ajudar: "Por exemplo, vamos poder colocar à
disposição do Parlamento dados estatísticos específicos, que possam
justificar a adoção de determinados diplomas legais para efetivamente fazer
face à situação com que nos deparamos".
Uma estudante de Direito ouvida
pela DW nas ruas de Bissau também dizia que não é só o Executivo guineense que
tem a responsabilidade de resolver os problemas no país - a população
também tem de colaborar.
"Temos que lutar para que
isso seja possível, mudar a situação", afirmou.
A Guiné-Bissau está na
lista dos países com baixo desenvolvimento humano, segundo um relatório do
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), divulgado na
segunda-feira (09.12). Entre os motivos apontados para a classificação estão as
persistentes "desigualdades e falta de acesso aos serviços de saúde e
educação".
Iancuba Dansó (Bissau) | Deutsche
Welle
Sem comentários:
Enviar um comentário