quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

Brasil | Financismo, ditadura sem máscara


O que choca, no Brasil, é não haver a menor preocupação em dourar a pílula, em amenizar a rapina dos bancos sobre todos os demais setores sociais. Reflexão sobre “A Era do Capital Improdutivo”, de Ladislau Dowbor

Paulo Kliass | Outras Palavras

Uma das maiores dificuldades para se transformar uma realidade portadora de injustiça e desigualdade é o seu processo de “naturalização” e sua aceitação de forma passiva por parte de setores expressivos da sociedade. Fenômeno semelhante tem ocorrido ao longo das últimas décadas com a tendência à financeirização em nossas terras.

É bem verdade que o movimento que assegura a consolidação da hegemonia dos interesses do setor financeiro no conjunto do sistema econômico não é exclusividade tupiniquim. A forma de organização do capitalismo contemporâneo globalizado apresenta essa característica por todos os continentes. As finanças dominam e impõem suas condições diante dos demais setores de atividade da economia e subjuga todas as classes sociais.

A evidência escandalosa do caso brasileiro, no entanto, é algo que chama atenção exatamente por não haver a menor preocupação em dourar a pílula ou minimizar o grau de espoliação praticada contra o conjunto dos demais atores e setores sociais. A dominância do financismo não se preocupa em pedir desculpas e nem busca argumentos mais palatáveis para justificar sua própria ação predadora.

A face mais visível desse movimento talvez seja a presença dos bancos e demais instituições de natureza financeira em nosso meio. Há décadas que tais conglomerados registram ganhos impressionantes em seus resultados operacionais. A cada exercício anual as poucas instituições de porte mastodôntico disputam entre si a primazia das cifras bilionárias. É o conhecido jogo para se posicionarem entre os primeiros lugares depois de divulgarem seus números contábeis. A expressão “lucro bancário” virou pleonasmo nesse campo minado dos oligopólios.

Ao longo de 2017, por exemplo, os lucros das instituições bancárias em seu conjunto atingiram o patamar de R$ 110 bilhões. Além de causarem espanto pelo volume, os resultados também surpreendem pela sua concentração. Os 5 maiores bancos atuantes no Brasil vem apresentando – há muitos anos e de forma sistemática – lucros anuais superiores a R$ 70 bi em valores atuais corrigidos pela inflação. Um descalabro! O sentimento de exploração e impotência é reforçado quando se leva em consideração a conjuntura do último triênio, marcado por recessão inédita no PIB, falências generalizadas e desemprego monumental.

Dowbor e o capital improdutivo

Ora, diante de quadro tão calamitoso, nada mais oportuno do que ampliar a discussão a respeito de tal fenômeno. Assim, recebi com muito orgulho o convite para participar de mesas de debaterealizadas ao longo da programação do Fórum Social Mundial 2018, sediado na cidade de Salvador, Bahia, durante os dias 13 e 17 de março.

Tratava-se de mais um momento para a necessária divulgação da importante obra do professor Ladislau Dowbor, intitulada A era do capital improdutivo. Apesar de abordar um tema complexo, o autor realizou um grande esforço nesse livro para traduzir os conceitos e o economês para uma linguagem mais acessível ao público não especializado.

Para além da introdução e da conclusão, a obra comporta 14 capítulos em que são analisados e esmiuçados os diferentes aspectos da dominação exercida pela dimensão do financeiro em nosso sistema econômico. Não por acaso, o título fala de um tempo em que a sociedade e o modelo econômico passam a ser dominados por um setor do capital que não realiza bens ou serviços de natureza agregadora de valor. Estamos no interior do reinado do rentismo e da apropriação parasitária da riqueza produzida pela maioria.

Por mais que a tendência à centralização e à concentração do capital em torno de sua dimensão financeira já estivesse apontada por clássicos como Rosa de Luxemburgo, Lenin e Hilferding, a verdade é que a evolução da realidade do capitalismo ofereceu trajetórias inusitadas e surpreendentes. A dominação do capital improdutivo é a marca de nossa era. E o livro de Dowbor nos mostra como esse fenômeno se dá na prática.

Há uma multiplicidade de faces desse verdadeiro Cérbero, a famosa criatura monstruosa que tratava de zelar pela porta do inferno. Isso vale para a ação oligopolizada dos bancos e demais instituições financeiras que se especializam em se apropriar do sobrevalor gerado pelos setores produtores de bens e serviços, além da renda extraída de forma direta e indireta dos que sobrevivem do próprio trabalho. Mas o processo de sofisticação do financismo evolui também para outras dimensões, superando a conhecida fusão e confusão dos interesses do capital bancário e industrial em torno do capital financeiro em sentido estrito.

Hipertrofia do financeiro

O fenômeno da financeirização vai muito além da hipertrofia do sistema financeiro em relação aos demais setores. Dowbor nos aponta o crescimento dos espaços e dos volumes de recursos depositados e/ou em trânsito nos chamados “paraísos fiscais”. A acumulação de capital e a multiplicação de patrimônio em tais locais são absolutamente estéreis do ponto de vista da geração de riqueza produtiva e criadora de empregos. O sigilo e a opacidade das informações de tais operações nos remetem na direção de atividades ilegais ou irregulares que estariam na base da gênese de tal tipo de acumulação primitiva.
O processo de sofisticação das atividades associadas ao setor primário também abre as portas para a dominação do financismo. A extração e produção de petróleo e do conjunto de minerais em escala global passam por uma etapa de financeirização relevante. O mesmo ocorre com a produção e comercialização dos principais produtos agrícolas em todos os continentes, também sujeitos a regras e ciclos de comercialização que se distanciam bastante das condições de plantio e colheita.

Estamos falando das chamadas “commodities”, que passam a operar em mercados financeiros muitas vezes desconectados da produção real. Essas mercadorias transformam-se em títulos negociados nos mercados financeiros globais e que estão sujeitos a flutuações em seus valores muitas vezes sem nenhuma correspondência com a dinâmica agrícola ou mineral. São as chamadas bolhas especulativas em mercados financeiros, fenômenos que criam e destroem riqueza sem nenhuma vinculação com eventos associados à dinâmica da economia real.

Além disso, a complexificação do sistema financeiro passa a ser objeto de desejo do próprio processo de acumulação de capital. Sob o frágil argumento de que o mercado precisaria criar mecanismos para se defender de riscos e incertezas quanto ao futuro, a partir da década de 1990 foi dada a largada irresponsável para a explosão descontrolada de espaços globais de transações financeiras sem nenhuma regulamentação. Trata-se daquilo que vem sendo chamado genericamente de mercado de derivativos ou mercado futuro.

Financismo descolado do real

As relações econômicas e financeiras ganham a aura de uma certa institucionalidade sofisticada, mas tudo não passa de mera especulação e da busca por ganhos com novos produtos completamente desvinculados da economia produtiva. São títulos de natureza financeira envolvendo previsão de valores e preços futuros de determinada mercadoria ou índice. Nesse verdadeiro vale-tudo, patrimônios bilionários incham ou são reduzidos em função de prospecção a respeito de comportamento de índices de bolsas de valores, evolução de taxas de câmbio, preços futuros do barril de petróleo, expectativas futuras de taxa de juros de algum Banco Central de país selecionado ou mesmo apostas em resultados de disputas eleitorais pelo mundo afora. Tudo pode ser precificado nos dias de hoje e as apostas são feitas em um enorme cassino global.

Os efeitos econômicos e sociais da entrada nessa nova era do capital improdutivo se fazem sentir a cada nova crise financeira internacional. Graças ao extremo poder dos grandes oligopólios, os dirigentes da elite do financismo global conseguem transferir o ônus do ajuste para os países mais pobres e para as populações desprotegidas e que sobrevivem do trabalho. Com a chantagem explícita do “too big to fail”, pressionam os governos a priorizarem a ajuda direcionada às grandes corporações financeiras, com o intuito de impedi-las de falirem.

Dowbor apresenta alguns dados que refletem a gravidade da situação atual, uma vez que as consequências da crise 2008/9 parecem não ter contribuído para uma mudança no panorama sombrio. O próprio Banco de Compensações Internacionais (BIS – uma espécie de banco central dos bancos centrais) reconhece o descontrole do quadro. De acordo com as estatísticas do organismo multilateral, haveria um estoque de 540 trilhões de dólares de derivativos emitidos pelo mundo afora, circulando pelas praças financeiras globais e sem nenhum controle ou garantia de pagamento para os possuidores de tais títulos. Para se ter uma noção da ordem de grandeza, esse valor representa 7,5 vezes a estimativa do PIB global (US$ 75 trilhões).

O descolamento da esfera do financeiro em relação ao mundo real parece evidente. Em função dos riscos que tal movimento apresenta para a economia global é necessário que se promova uma profunda mudança de paradigma. Afinal, como dizia o poeta há quase 3 décadas atrás, “alguma coisa está fora da ordem, fora da nova ordem mundial”.

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Brasil | Bolsonaro aprova aumento do salário mínimo


O recém-empossado presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, aprovou, horas depois da sua investidura, o aumento do salário mínimo para 998 reais (cerca de 225 euros) em 2019, naquele que foi o seu primeiro ato legislativo.

O decreto fixa o salário mínimo dos trabalhadores brasileiros em 998 reais (224,8 euros) para 2019, o que representa um aumento de 4,61 % relativamente a 2018.

Em números absolutos, o salário mínimo cresce 44 reais (cerca de 9,9 euros) face aos atuais 954 reais (214,8 euros).

Apesar do aumento, o valor do salário mínimo fica abaixo dos 1006 reais (cerca de 227 euros) estimados pelo Governo cessante de Michel Temer no orçamento de Estado para este ano.

O reajuste do salário mínimo é tradicionalmente decretado nos últimos dias de dezembro, mas o presidente cessante Michel Temer decidiu delegar o assunto no novo chefe de Estado, investido no cargo a 01 de janeiro e que definiu o valor poucas horas depois da tomada de posse.

Jornal de Notícias

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Portugueses anedota votaram Bolsonaro


Portugal | Um ano de verdade


Vítor Santos | Jornal de Notícias | opinião

A natureza transcendente da entrada de um novo ano até pode fazer sentido. Mas o momento surge sempre associado a mudanças de hábitos menos bons, depressa transformas em apostas quiméricos que caem no esquecimento, à espera do próximo 1 de janeiro, ao ponto de fazerem mais sentido como decisões de 1 de abril.

Quando o tema é Portugal, a sociedade, a atualidade política, torna-se mais aconselhável mantermo-nos atentos ao que se passou em 2018 e reforçarmos a vigilância - no meio das 12 passas às 12 badaladas, o desejo é o de não repetir.

Arrancámos com esperança, pensávamos que o pior já tinha passado, depois das terríveis consequências dos incêndios de 2017, mas a tendência para a irresponsabilidade nos organismos públicos manteve-se, muitos problemas - na saúde, na educação e na proteção civil, só para citar alguns setores - agudizaram-se e, como bem assinalava o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, nas páginas do Jornal de Notícias, o clima de campanha eleitoral instalou-se muito cedo no país. Neste quadro, não repetir 2018 será, portanto, um desejo prudente para 2019. De olho no passado, bem sei, mas se chegássemos ao próximo dezembro com o problema dos professores e dos enfermeiros resolvido ou sem precisarmos de corar de vergonha com situações como a da falta de condições da Pediatria do Hospital de S. João, seguramente poderíamos fazer um balanço bem melhor.

Claro está, tudo vai depender, em boa medida, dos políticos. Se continuarem a acelerar em ritmo de campanha eleitoral, podemos contar com mais despistes, seguidos de aproveitamento e desorientação.

O melhor mesmo é percorrerem o caminho até à resolução dos problemas com verdade, sem olhar para as eleições, porque a mentira tem perna curta e o ano é longo. Qualquer tropeção pode ser irreparável.

*Editor-executivo

Portugal | O lobo que nunca existiu e o sapo que não chegou a vitelo


Jorge Rocha* | opinião

Quando se trata de política em Portugal é inevitável encontrar nas fábulas infantis, e nos provérbios populares, recursos oportunos para caracterizar os atos e as palavras dos que lideram as direitas. Passos Coelho protagonizou a sua própria versão de «Pedro e o lobo», apenas mudando de mau da fita: em vez do mamífero canídeo invocou tantas vezes a iminente chegada do Diabo, que depressa nele desacreditaram os crédulos dispostos a darem-lhe efémero benefício da dúvida.

Agora, à distância, fico a saber que, a pretexto das mensagens de Natal, normalmente emitidas pelos titulares dos principais órgãos de soberania, também outro Pedro, decidiu criar a sua em filme com oito minutos de duração, que tomava como imaginário interlocutor o primeiro-ministro.

Não sei quem teve a pachorra para desperdiçar esse tempo com o patético arrivista. Tantos anos passados, ele continua a ser o mesmo teleopinador que, convidado semanalmente a debater a realidade da semana com José Sócrates - quando ambos ainda não tinham liderado governos! -, pedia a quem cumpria moderar o confronto de opiniões para deixar ao socialista a despesa de iniciar a disputa, ciente de encontrar que dizer quando lhe ouvisse pronunciar substantivos argumentos, e pudesse utilizar a habilidosa retórica de advogado, embora sem jamais convencer quanto a possuir fundamentos bastantes para lhe ser dada qualquer razão.

Querendo medir-se com António Costa, este Pedro aliancista lembra  a estória do sapo disposto a tudo fazer para se vir a assemelhar a imponente boi. Fica, porém, a convicção de que, por muito que inche, nunca este anódino invejoso chegará sequer a comparar-se a humilde vitelo.

*jorge rocha | Ventos Semeados

Era uma vez um Bolsonaro...


Era uma vez um Bolsonaro, da laia fascista, eleito pelo eleitorado brasileiro. Tomou ontem posse da presidência da República Federativa do Brasil. Houve pompa e circunstância e muitos odores bolorentos vindos das antigas fossas de ditaduras e ditadores que já anteriormente pulularam por aquele país prantado na América do Sul e a falar português.

É dessa "novela" e atualidade que Pedro Candeias dispõe os “quadros” do Expresso Curto de hoje. Pode ler a seguir. Outros apontamentos e considerações que suscitam interesse também estão incluídos no Curto. Vá lá. Não adiantamos mais. Somos breves nesta espécie de apresentação. Acabamos a nossa tarefa por aqui. Bom dia. Bom ano… se deixarem e conseguirem. Duvidamos que o tal “bom” afague a maioria dos que aqui nos lêem. Avante. (PG)

Bom dia este é o seu Expresso Curto

Deus, bala e família

Pedro Candeias | Expresso

Já deve ter lido por aí que o 38.º presidente do Brasil se chama Jair Messias Bolsonaro, que o apelido é do lado paterno e que o primeiro e segundo nomes são homenagens a dois personagens queridos da família: Jair, um futebolista de quem o pai Bolsonaro era fã; e Jesus Cristo, a quem a mãe atribuía o... 38.º milagre pelo nascimento do filho no dia 21 de março de 1956, após uma gravidez complicada.

A fonte destas informações é o livro “Jair Messias Bolsonaro – Mito ou Verdade”, escrito por Flavio Bolsonaro, filho do presidente brasileiro cujo slogan orelhudo na campanha foi “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos” e a quem os seus brasileiros devotos simbolicamente tratam por “Mito, Mito, Mito”. Como um Messias, percebem?, divinamente ungido, pelo que tudo parece estar ligado e às tantas não se distinguem os factos presidenciáveis do fato presidencial.

É provável que esta ambiguidade tenha ajudado o triunfo inesperado da caminhada “mais barata” da história do Brasil, como disse o novo presidente na tomada de posse numa das poucas referências económicas do seu discurso no Planalto. Uma candidatura assente em palavras fáceis, diretas, amplificadas sem contraditório nas redes sociais – uma câmara, um candidato, alguém escreve a mensagem e outro alguém carrega no botão de upload do vídeo. Simples, rápido e assustadoramente eficaz.

Aliás, a expressão “economia” surgiu apenas três vezes no discurso, o que não surpreende, pois são conhecidas as fragilidades de Bolsonaro nesta e noutras matérias estruturais; o métier dele são as emoções e a religiosidade de um povo formidável traído pela corrupção, pela criminalidade e pelo “viés ideológico” que subverteu as boas “tradições”, destruindo “famílias, alicerce da nossa sociedade”. Tudo isto será combatido por ele e com a ajuda d'Ele, que o salvou de um esfaqueamento mortal, parafraseando a abertura do sermão, perdão, da comunicação.

Pois então, Bolsonaro prometeu o regresso a essas convenções e, por outro lado, garantiu, com mais ou menos eufemismos, um estado policial e militarizado, e uma sociedade civil literalmente armada com “meios para se defender” pelo “direito à legítima defesa”. A propósito, estiveram 12 mil elementos de forças de segurança, entre bombeiros, polícias, militares do Exército, Marinha e Força Aérea na musculada tomada de posse com agentes à paisana, snipers, arame farpado e revistas minuciosas.

Ou seja, Bolsonaro confirmou as balas para atacar o bandidoaté agora defendido por “uma ideologia” que ele diz ser “socialista” e que tingiu o país com uma certa cor “nefasta”. “A nossa bandeira jamais será vermelha. Só será vermelha se for preciso o nosso sangue para mantê-la verde e amarela”, atirou Bolsonaro, soltando o papão comunista do alçapão em plena Esplanada dos Ministérios. O Partido dos Trabalhadores, o Partido Socialismo e Liberdade e o Partido Comunista do Brasil não estiveram presentes.

Pelo meio do hino cantado com a mão no peito, ouviram-se frases de Trump em português do Brasil: “temos uma grande nação para reconstruir” e “trabalharei incansavelmente para que o Brasil se encontre com o seu destino e se torne a grande nação que todos queremos”. Trump reconheceu a sua própria voz na voz de Bolsonaro e foi obviamente ao Twitter dar-lhe os parabéns que rapidamente foram retribuídos na mesma rede social. Os falcões Viktor Órban (primeiro-ministro da Hungria) e Benjamin Netanyahu (primeiro-ministro de Israel), na primeira fila entre convidados, abraçaram-se energicamente e posaram para a posteridade com Bolsonaro.

O mundo já mudou.

OUTRAS NOTÍCIAS

Sobre a ubiquidade de Marcelo Rebelo de Sousa: o presidente esteve em Brasília na tomada de posse, mas a meio da noite entrou televisão dentro com a tradicional mensagem de Ano Novo aos portugueses. E deixou recados e alertas para os políticos dos novos partidos, que devem ser responsáveis na mensagem que passam, pois o populismo está à distância de um discurso demagógico – e o populismo não serve pois abre espaço a coisas bem piores. Tipo o partido de Bolsonaro. Mas o PR também pediu mais transparência e políticos “mais confiáveis”, uma declaração que tem um subtexto claro: senhoras e senhores, cuidado com as presenças-fantasma no Parlamento, com as viagens inventadas e com os currículos mal-amanhados que não ficam bem a ninguém. Está aqui a análise do Expresso e as reações dos partidos estão aquiaquiaquiaqui e aqui.

De Belém (mais ou menos) para o resto do mundo do poder, Macron, Merkel e Putin disseram os seus discursos de Réveillon, devidamente contextualizados pela realidade que os rodeia. O líder francês pediu tempo aos “Coletes Amarelos”, identificou-se com a impaciência deles e deixou uma certeza: renunciar ao cargo está fora de questão. Merkel, por sua vez, pediu união entre os alemães e dessacralizou o isolacionismo crescente no Velho Continente. E Putin... bem, Putin falou sobre a Rússia que não pode depender de ninguém, a não ser dela própria, e que isso exige a colaboração de todas as pessoas.

Algumas pessoas ficaram feridas em três ataques em três cidades de três países diferentes, Tóquio (Japão), Bottrop (Alemanha) e Manchester (Inglaterra) – nos dois primeiros, dois homens conduziram carros sobre transeuntes com a clara intenção de matar por motivos diferentes: o japonês terá querido marcar uma posição ideológica contra “a pena de morte” com o seu pequeno citadino de frente amolgada e pára-brisas arruinado; o alemão procurou atropelar sírios e afegãos ao volante de um Mercedes prateado. Em Manchester, um agressor empunhando uma faca de cozinha com uma longa lâmina esfaqueou três indivíduos; as autoridades estão investigar o caso como se de um atentado terrorista se tratasse. A violência não tem fronteiras.

O espaço é a última fronteira e Ultima Thule é um objeto que fica a 6,4 mil milhões de quilómetros da Terra; é, por definição, um vestígio congelado da formação do sistema solar e foi sobrevoado pela sonda espacial New Horizons da Nasa que fotografou 900 imagens nos curtos instantes em que o sobrevoou a 3.500 quilómetros. Nunca o Homem alcançou tão longe. Veja a viagem da New Horizons neste trabalho interativo do New York Times e perceba que o futuro é a tecnologia – para explorar o espaço sideral, mas também os jornais.

Por falar em jornais, aquele em que trabalho traz-vos um resumo sobre o que muda em 2019 com o novo Orçamento do Estado: custos de vida, IRS e IRC, função pública, fraude e evasão fiscal e saúde, está tudo aqui.

MANCHETES

Correio da Manhã: “Negócios ruinosos da Caixa sem arguidos - em causa estão créditos na ordem dos 2,5 milhões de euros”

Jornal de Notícias: “Mortes na estrada atingem pior resultado em 22 anos - pelo menos 512 pessoas perderam a vida em 2018”

Público: “Bolsa de Lisboa sofre maior perda de empresas desde 2010”

A Bola: “A principal caraterística de um treinador é ser genuíno” – entrevista a Sérgio Conceição

Record: “Rafael Camacho a caminho do Sporting”

O Jogo: “Quero as 30 vitórias seguidas” – entrevista a Marega

FRASES

“Eu o que quis foi, apenas, apreciar a questão formal - mas toda a forma tem algum conteúdo - que era a aplicação da lei do Orçamento através de um processo negocial já agora no ano em que nos encontramos. Foi só isso”, Marcelo Rebelo de Sousa, críptico e evasivo, sobre a o veto ao diploma dos professores na chegada a Brasília para a tomada de posse de Bolsonaro

“Temos de ter segurança nas fronteiras e o muro [com o México] é muito importante para isso”, Donald Trump, em entrevista à amigável Fox, sobre o shutdown americano, os democratas, etc.

“Foi uma prestação fraca desde o primeiro minuto”, Marco Silva sobre a derrota do Everton diante do Leicester, a segunda consecutiva, terceira nos últimos cinco jogos disputados

“Estas alternâncias [de forma] acontecem connosco como também com outras equipas. Não sejamos líricos” Rui Vitória, lançando o Portimonense - Benfica desta noite

“Espero é que o Benfica não nos acuse da morte do adepto às portas do Estádio da Luz ou daquele com o very-light”, Pinto da Costa, em entrevista ao Jornal de Notícias

O QUE ANDO A LER

Cleo é apenas a Cleo e serve o Sr. Antonio e a Sra. Sofia, e os filhos deste casal, Toño, Paco, Pepe e Sofi, a avó Sra. Teresa, e, em certa medida, também serve o cão da família que faz o que os cães fazem nos sítios menos recomendáveis. Cleo é a criada desta ampla casa de dois andares e um anexo onde dormem as empregadas no chique barrio de Roma, na Cidade do México. Cleo é invisível, humilde, discreta e submissa, traços determinantes para conservar um trabalho desta natureza, e ela esforça-se por manter-se assim – ser destratada por patrões frustrados ou insatisfeitos, mas com um teto e o afeto das crianças, é melhor do que a vida miserável nas barracas em guetos enlameados.

E assim se apresenta “Roma”, o filme autobiográfico do mexicano Alfonso Cuarón que é uma homenagem à empregada que o viu crescer na Cidade do México. É uma história simples e dolorosa da separação de um marido e de uma mulher, de um namorico e do fim trágico de uma gravidez, de pobreza e de ostentação, de homens cobardes e mulheres corajosas, e de um amor difícil de explicar entre Cleo e quem lhe paga o salário. Está na Netflix e no cinema.

Quanto a leituras, recomendo o curtíssimo livro “A Angústia do Guarda-Redes Antes do Penalty” [Relógio D'Água], de Peter Handke, que é muito mais sobre o progressivo enlouquecimento de um homem socialmente alienado – com consequências irreversíveis para uma das suas amantes – do que sobre aquilo que o título poderá sugerir.

Por hoje é tudo, espero que o seu ano tenha começado da melhor forma e, se estiver ainda de férias, demore-se um bocadinho mais do que o costume nos sites Expresso, Tribuna, Blitz e Vida Extra. Pela parte que me toca, há muita bola para ver e sobre a qual ler nestes próximos dois dias. A cobertura mais original estará na Tribuna, à distância de um clique: Portimonense - Benfica (hoje, 20h), Sporting - Belenenses (quinta-feira, 18h),Manchester City - Liverpool (quinta-feira, 20h) e Aves - FC Porto (quinta-feira, 21h15).

O fascismo por ele mesmo: Adolf Hitler


Nesta entrevista ao jornal Liberty, em 1932, Hitler diz: 'Nos meus planos para o Estado alemão, não haverá lugar para os estrangeiros, os perdulários, os usurários, os especuladores ou qualquer um que não seja capaz de fazer um trabalho produtivo'

Opera Mundi publica, nesta semana, um especial sobre fascismo - contado pelos próprios fascistas. São discursos e entrevistas de Adolf Hitler (Alemanha), António Salazar (Portugal), Francisco Franco (Espanha), Rafael Videla (Argentina), Benito Mussolini (Itália), Emílio Garrastazu Médici (Brasil) e Philippe Pétain (França) que mostram como estas figuras pensavam as sociedades que governavam e justificavam os atos de seus regimes.

Adolf Hitler (1889-1945), o ditador alemão, nasceu na Áustria, filho de um oficial de alfândega. Ainda estudante, sonhava em se tornar arquiteto ou pintor – mas seu insucesso acadêmico o levou à política. Com a Primeira Guerra Mundial deflagrada, ele se alistou no Exército da Baviera. Condecorado por heroísmo, Hitler terminou os combates na condição de inválido: atingido por um ataque de gás, perdeu parte de sua visão. Frustrado com a derrota bélica, atribuída por ele aos judeus e aos socialistas, fundou o Partido Alemão Nacional-Socialista dos Trabalhadores. Em 1923, participou do putsch da cervejaria de Munique, numa tentativa de golpe de Estado contra o governo republicano da Baviera. Encarcerado durante nove meses, Hitler aproveitou esse período para ditar seu credo político, o Mein Kampf (Minha Luta), para Rudolf Hess. Depois de sua libertação, ele começou a atrair o interesse popular para as ideias nazistas, manipulando a paranoia antissemita, utilizando recursos de propaganda e construindo uma coalizão de trabalhadores, empresários e senhores do campo. Em 1933, um ano depois de ter sido derrotado nas eleições presidenciais, foi nomeado chanceler da Alemanha. Novas eleições gerais foram convocadas e o partido de Hitler chegou ao poder. Hitler se suicidou com sua amante, Eva Braun, em 1945, quando as tropas russas se preparavam para invadir seu bunker em Berlim, nos derradeiros dias da Segunda Guerra.

George Sylvester Viereck já havia entrevistado Adolf Hitler em 1923, quando ele ainda era um obscuro personagem da vida política europeia. Naquela oportunidade, Viereck anotou: “Este homem, se sobreviver, fará história, para o bem ou para o mal”.

Quando eu dominar a Alemanha, vou pôr fim ao bolchevismo em nosso país e às homenagens a ele no exterior.” Adolf Hitler bebeu todo o conteúdo da xícara como se não fosse chá, mas o sangue dos bolcheviques.

“O bolchevismo”, continuou o chefe dos camisas-marrons, dos fascistas alemães, olhando-me ameaçador, “é a nossa grande ameaça. Quando o bolchevismo na Alemanha estiver morto, setenta milhões de pessoas voltarão ao poder. A França deve toda a força que tem não aos seus exércitos, mas às forças do bolchevismo e à dissensão entre nós. O Tratado de Versalhes e o Tratado de Saint-Germain sobrevivem graças ao bolchevismo na Alemanha. O Tratado de Paz e o bolchevismo são cabeças do mesmo monstro. Temos que decapitá-las.”

Quando Adolf Hitler anunciou esse programa, o advento do Terceiro Reich ainda parecia distante. Com o tempo, o poder de Hitler foi crescendo a cada eleição. Embora incapaz de tirar Hindenburg da presidência, Hitler, no momento, lidera o maior partido da Alemanha. A não ser que Hindenburg instaure medidas ditatoriais ou que os acontecimentos tomem um rumo inesperado e frustrem todas as atuais previsões, o partido de Hitler conquistará o Reichstag e dominará o governo. Hitler não lutou contra Hindenburg, mas contra o chanceler Brüning. Será difícil para o sucessor de Brüning manter-se no poder sem o apoio dos nacional-socialistas.

Muitos dos que votaram em Hindenburg estavam, no íntimo, do lado de Hitler, mas um senso de lealdade arraigado impeliu-os, entretanto, a votar no velho marechal-de-campo. A não ser que um novo líder apareça do dia para a noite, não há ninguém na Alemanha, com exceção de Hindenburg, capaz de derrotar Hitler – e Hindenburg tem 85 anos! Só o tempo, a obstinação da luta francesa contra Hitler, algum erro cometido por ele próprio ou uma dissensão nas fileiras do partido pode privá-lo da oportunidade de desempenhar o papel de Mussolini da Alemanha.

O Primeiro Império alemão chegou ao fim quando Napoleão forçou o imperador austríaco a renunciar à coroa imperial. O Segundo Império terminou quando Guilherme II, a conselho de Hindenburg, procurou refúgio na Holanda. O Terceiro Império está emergindo aos poucos, mas com firmeza, embora talvez dispense cetros e coroas.

Encontrei Hitler não em seu quartel-general, a Casa Marrom em Munique, mas no seu próprio lar – a residência de um almirante reformado da Marinha alemã. Discutimos o destino da Alemanha bebendo chá.

“Por que”, perguntei a Hitler, “o senhor se diz um nacional-socialista, já que o programa do seu partido é a própria antítese do que geralmente se acredita ser o socialismo?”

“O socialismo”, replicou agressivo, deixando de lado a xícara de chá, “é a ciência de lidar com o bem-estar geral. O comunismo não é o socialismo. O marxismo não é o socialismo. Os marxistas roubaram o termo e confundiram seu significado. Vou tirar o socialismo dos socialistas. “O socialismo é uma antiga instituição ariana e alemã. Nossos ancestrais alemães tinham algumas terras em comum. Cultivavam a ideia do bem-estar geral. O marxismo não tem direito de se disfarçar de socialismo. O socialismo, diferentemente do marxismo, não repudia a propriedade privada. Diferentemente do marxismo, ele não envolve a negação da personalidade e é patriótico. Poderíamos ter chamado nosso partido de Partido Liberal. Preferimos chamá-lo de Nacional-Socialista. Não somos internacionalistas. Nosso socialismo é nacional. Exigimos o atendimento das justas reivindicações das classes produtivas pelo Estado com base na solidariedade racial. Para nós, o Estado e a raça são um só.”

O próprio Hitler não é um alemão puro. Os cabelos escuros denunciam a presença de algum ancestral alpino. Durante anos, ele se recusou a ser fotografado. Era parte de sua estratégia – ser conhecido apenas pelos amigos para que, em um momento de crise, pudesse aparecer em qualquer lugar sem ser descoberto. Hoje em dia, ele não poderia mais passar despercebido pela mais obscura das aldeias da Alemanha. Sua aparência cria um contraste estranho com a agressividade de suas opiniões. Nenhum outro reformista de maneiras tão suaves afundou um navio do Estado ou cortou gargantas na política.

“Quais são os princípios fundamentais da sua plataforma?”, continuei meu interrogatório. “Acreditamos em uma mente sã em um corpo são. A nação tem que ser sadia para que a alma também o seja. Saúde moral e física são sinônimos.” “Mussolini”, interrompi, “disse-me a mesma coisa.”

Hitler sorriu. “Os bairros miseráveis”, acrescentou, “são responsáveis por nove décimos, e o álcool, por um décimo de toda a depravação humana. Nenhum homem saudável é marxista. Os homens saudáveis reconhecem o valor da personalidade. Lutamos contra as forças da desgraça e da degeneração. Se fizermos uma comparação, a Baviera é saudável porque não está completamente industrializada. No entanto, toda a Alemanha, incluindo a Baviera, está condenada à industrialização intensiva pelo tamanho reduzido do nosso território. Se quisermos salvar a Alemanha, temos que nos assegurar de que os fazendeiros continuem fiéis à terra. Para tanto, eles precisam ter espaço para respirar e para trabalhar.”

“Onde o senhor encontrará espaço para trabalhar?”

“Precisamos manter nossas colônias e expandir em direção ao leste. Houve um tempo em que podíamos dividir o domínio do mundo com a Inglaterra. Agora, só podemos expandir-nos em direção ao leste. O Báltico é necessariamente um lago alemão.”

“A Alemanha”, perguntei, “não poderia reconquistar o mundo do ponto de vista econômico sem expandir seu território?”

Hitler moveu a cabeça, negando com veemência.

“O imperialismo econômico, assim como o imperialismo militar, depende de poder. Não pode haver comércio mundial em larga escala sem poder mundial. Nosso povo não aprendeu a pensar em termos de poder e comércio mundiais. Entretanto, a Alemanha não pode expandir o seu comércio e o seu território até reconquistar o que perdeu e encontrar-se.

“Estamos na mesma situação de um homem que perde a casa em um incêndio. Ele precisa ter um teto antes de entregar-se a planos mais ambiciosos. Conseguimos criar um abrigo de emergência que nos mantinha protegidos da chuva. Não estávamos preparados para o granizo. Entretanto, infortúnios caíram sobre nós. A Alemanha vive sob uma verdadeira tempestade de catástrofes nacionais, morais e econômicas.

“Nosso sistema partidário desmoralizado é um sintoma de nossa desgraça. As maiorias parlamentares flutuam ao sabor do vento. O governo parlamentarista abre as portas para o bolchevismo.”

“O senhor não é a favor de uma aliança com a União Soviética como alguns militares são, não é verdade?”

Hitler esquivou-se de uma resposta direta a essa pergunta. Há pouco tempo, ele esquivou-se outra vez quando o Liberty pediu que respondesse à declaração de Trótski de que a tomada do poder por Hitler na Alemanha envolveria uma batalha de vida ou morte entre a Europa, liderada pela Alemanha, e a Rússia Soviética. Hitler talvez não tenha interesse em atacar o bolchevismo na Rússia. Talvez ele até mesmo considere uma aliança com o bolchevismo como a última cartada se estiver perdendo o jogo. Se, como ele insinuou certa vez, o capitalismo recusar-se a reconhecer que os nacional-socialistas são a última trincheira da propriedade privada, se o capital impedir a luta deles, a Alemanha pode ser obrigada a jogar-se nos braços tentadores da Rússia Soviética. Mas ele está determinado a não permitir que o bolchevismo se estabeleça na Alemanha.

No passado, ele respondeu com cuidado as tentativas de negociação do chanceler Brüning e de outros que desejavam formar uma frente política unida. Não é provável que o mesmo ocorra no momento, em vista do crescimento constante dos votos dos nacional-socialistas. Hitler estará propenso a fazer acordos sobre quaisquer princípios básicos com outros partidos.

“As alianças políticas das quais depende uma frente unida”, observou Hitler, “são muito instáveis. Elas tornam quase impossível uma política claramente definida. Vejo, por toda parte, o caminho tortuoso dos acordos e concessões. Nossas forças construtivas são detidas pela tirania dos números. Cometemos o erro de aplicar a aritmética e a mecânica do mundo econômico ao modo de vida. Somos ameaçados pelo constante crescimento dos números e abandonos dos ideais. Meros números não têm importância.”

“Mas vamos supor que a França faça retaliações contra o senhor, invadindo suas terras mais uma vez. Ela já invadiu o Ruhr. Poderia invadi-lo de novo.”

“Não importa”, respondeu Hitler exaltado. “Quantos quilômetros quadrados os inimigos podem ocupar se o espírito nacional estiver vigilante? Dez milhões de alemães livres, prontos para morrer para que o país sobreviva, são mais fortes do que cinquenta milhões cuja força de vontade está paralisada e cuja consciência de raça está infectada por estrangeiros.

“Queremos uma Alemanha maior, que una todas as tribos germânicas. Mas a nossa salvação pode começar em uma pequena região. Mesmo se tivéssemos apenas dez acres de terra, mas estivéssemos determinados a defendê-los com nossas próprias vidas, os dez acres iriam se tornar o foco da regeneração. Nossos trabalhadores têm duas almas: uma é alemã e a outra é marxista. Temos que acordar a alma alemã. Temos que extirpar o tumor do marxismo. O marxismo e o germanismo são antíteses.

“Nos meus planos para o Estado alemão, não haverá lugar para os estrangeiros, os perdulários, os usurários, os especuladores ou qualquer um que não seja capaz de fazer um trabalho produtivo.”

Hitler franziu o cenho ameaçador. Sua voz dominou a sala. Ouvimos um barulho na porta. Seus seguidores, que estão sempre por perto como guarda-costas, lembraram ao líder o seu compromisso de falar em uma reunião.

Hitler bebeu o chá às pressas e levantou-se.

George Sylvester Viareck | Opera Mundi

(*) Esta entrevista foi publicada no livro 'A Arte da entrevista' (Editora Boitempo, 2004), organizado por Fábio Altman e com ilustrações de Cássio Loredano. As traduções são de Inês Antonia Lohbauer, Maria dos Anjos Santos Rouch e Rosanne Pousada. O texto se encontra entre as páginas 129 e 133.

EUA e Israel deixam oficialmente a Unesco


Aliados, governos Donald Trump e Benjamin Netanyahu alegam postura anti-israelense por parte da agência de educação e cultura da ONU.

Os Estados Unidos e Israel deixaram oficialmente nesta terça-feira, primeiro dia de 2019, a Unesco, a agência de educação e cultura da ONU. Ambos apontam como motivo o que denunciam ser uma postura anti-israelense por parte da organização.

A saída oficial coroa um processo iniciado há mais de um ano, quando os governos Donald Trump e Benjamin Netanyahu anunciaram quase simultaneamente a decisão de deixar o órgão.

Na época, a decisão americana não surpreendeu: em 2011, ainda sob o governo Barack Obama, os EUA já haviam cancelado sua contribuição financeira para a Unesco em protesto contra a decisão da agência de conceder aos palestinos o status de membros plenos.

Em 2011, o fim da contribuição americana representou um corte de mais de 20% (80 milhões de dólares) no orçamento da instituição, que teve que adotar medidas de austeridade. Houve redução, por exemplo, em pesquisas sobre tsunami e em programas de educação relacionados ao Holocausto.

Em julho passado, a Unesco causou irritação em Israel – firme aliado dos EUA – ao declarar Hebron e os dois santuários adjacentes – a judaica Tumba dos Patriarcas e a muçulmana Mesquita de Ibrahimi – um patrimônio palestino.

A decisão levou Israel a reduzir ainda mais seu financiamento à ONU. Na ocasião, tratou-se do quarto corte no último ano: a contribuição do país foi de 11 milhões para só 1,7 milhão de dólares no intervalo de um ano. Cada redução foi antecedida de uma decisão da Unesco relacionada a locais históricos em territórios palestinos.

O governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, ao anunciar a saída israelense da Unesco, classificou a decisão americana como "brava e moral".

A Unesco emprega mais de 2 mil funcionários, a maioria em Paris, e busca por relevância num momento que enfrenta dificuldades devido a rivalidades regionais e falta de dinheiro
A saída americana enfatiza o ceticismo expressado por Trump sobre a real necessidade de o país permanecer em organizações multilaterais. Ele chegou ao poder com a política protecionista "América em primeiro lugar", ou seja: os interesses nacionais estariam acima de compromissos internacionais.

Desde que assumiu a presidência, Trump abandonou a Parceria Transpacífico (TPP), um acordo comercial assinado por 12 países que criaria a maior área de livre-comércio do mundo, o Acordo do Clima de Paris e o Conselho de Direitos Humanos da ONU, o qual também acusa de ser anti-Israel.

Deutsche Welle

Milhares de britânicos querem se tornar irlandeses


A poucos meses da saída do Reino Unido da União Europeia, cidadãos britânicos procuram garantir passaportes de países que vão permanecer no bloco.

A menos de três meses da saída do Reino Unido da União Europeia, mais e mais britânicos estão solicitando passaportes irlandeses.

Com um total de mais de 183.000 pedidos, o número acumulado em 2018 atingiu um novo recorde, disse o Departamento de Estado Irlandês nesta segunda-feira (31/12). Cerca de 84.850 desses pedidos foram apresentados na Irlanda do Norte, que faz parte do Reino Unido – 2% a mais do que no ano anterior. No restante do Reino Unido, foram 98.500 pedidos - um aumento de 22% em relação ao ano passado.

Em 2017, o número de pedidos de cidadania irlandesa apresentados na Irlanda do Norte e no Reino Unido combinados já havia registrado um aumento de 20% em relação a 2016, o ano em que o Brexit  foi aprovado em referendo.

Qualquer pessoa nascida na Irlanda ou Irlanda do Norte ou cujos pais ou avós sejam originários da Irlanda pode solicitar um passaporte irlandês. O ministro das Relações Exteriores da Irlanda, Simon Coveney, mostrou satisfação com o aumento no número de pedidos. "O passaporte irlandês é um documento valioso", disse ele.

O Reino Unido deve deixar a União Europeia no final de março de 2019, segundo o resultado do referendo do Brexit em 2016. Não está claro se o parlamento em Londres ainda vai conseguir aprovar o acordo de saída negociado pela primeira-ministra Theresa May com a UE. Caso a saída ocorra sem aprovação de um acordo, existe a possibilidade de um Brexit "duro", que pode ter consequências caóticas.

Na Alemanha, o número de britânicos naturalizados aumentou de maneira acentuada recentemente. Cerca de 7.493 britânicos solicitaram um passaporte alemão em 2017 – o maior número já registrado. A maioria dos solicitantes eram descentes de pessoas que fugiram para o Reino Unido durante o regime nazista. Para se naturalizar, elas contam com uma disposição especial para repatriamento que consta no artigo 116 da Lei Fundamental, a Constituição alemã.

JPS/dpa/ots | Deutsche Welle

Mas onde estão os líderes da esquerda francesa nas lutas actuais?

Rémy Herrera

Numerosos coletes amarelos dizem e repetem: eles não têm líderes – e também não querem. O espontaneísmo tem as suas virtudes e os encantos, com certeza, mas igualmente os seus limites e as suas ilusões, portadores dos perigos mais terríveis. A história contemporânea já o mostrou reiteradamente, desde a Revolução Espartaquista alemã até os recentes levantamentos a "Primavera árabe". Se pretendem desembocar em avanços sociais concretos, todo levantamento popular precisa – além da energia, determinação e coragem do povo – uma certa unidade, uma organização partidária, um programa político. Ora, o mínimo que se pode dizer é que, na França actual, em rebelião generalizada, o desmembramento das forças progressistas é extremo e é mantido por querelas de chefes muitas vezes mais pessoais do que políticas. Na tragédia da divisão da esquerda francesa, que a enfraquece por completo, acrescenta-se ainda o paradoxo de que esta situação ocorre no preciso momento em que se construiu uma unanimidade popular para rejeitar não só as políticas neoliberais, mas também o próprio presidente Macron.

Actualmente o mais bem colocado na batalha interna da esquerda é sem dúvida o líder da França Insubmissa, Jean-Luc Mélenchon. Este realiza efectivamente o verdadeiro feito de chegar a reunir no seu nome cerca de 20% dos votos aquando da primeira volta das eleições presidenciais de Abril/2017 – ou seja, quatro pontos e algumas decimais menos do que o candidato autorizado finalmente a mudar-se para o Palácio do Eliseu. O Partido Comunista, apesar de dissensões persistentes, tomou a opção de se alinhar sob a sua bandeira. Na realidade, para terminar à frente os votos que lhe faltaram – ironia da sorte – foram os dos seus "velhos amigos": socialistas por um lado (Benoît Hamon obteve 6%)... e trotskistas (Nathalie Arthaud [do Lutte ouvrière] e Philippe Pouton [do Nouveau Parti anticapitaliste], registaram respectivamente 1% e 0,6% dos votos).

Após esta derrota eleitoral consumada e dolorosamente digerida, J.-L. Mélenchon não perdeu a oportunidade que se lhe apresentava com o surgimento da mobilização dos coletes amarelos. É verdade que ele precisava recuperar uma popularidade seriamente maculada por uma série de processos judiciais (relativos a suas contas de campanha, nomeadamente, em que os media dominantes se deleitaram), mas também por uma insurreição afectando a direcção do seu próprio movimento (provocando a demissão de vários dos seus lugar-tenentes). Em consequência, e após hesitação, ele postou nas redes sociais, já em Novembro, seu apoio aos coletes amarelos e sua intenção de desfilar entre eles – mas "discretamente", segundo disse.

O papel político de Jean-Luc Mélenchon foi, nestes últimos anos, eminentemente positivo para o conjunto da esquerda francesa. E mesmo para além dela. Seus talentos reais de tribuno souberam reunir as multidões, remotivá-las, recolocá-las em movimento, dar nova esperança, insuflar novamente a ideia de que uma mudança progressista para o país é não só necessário mas, sobretudo, possível. Correctamente, e melhor do que ninguém, ele formulou, sistematizou, radicalizou as críticas contra "o sistema". Teve o mérito de falar novamente no internacionalismo, especialmente em relação à América Latina em luta. Nestes tempos particularmente difíceis, é uma felicidade para a esquerda francesa que um homem político como ele estivesse actuante.

Alguns não esquecem que Jean-Luc Mélenchon foi, durante mais de 32 anos, membro (conselheiro geral, senador, ministro!) de um Partido Socialista que traiu absolutamente tudo quanto podia quanto às expectativas do povo de esquerda e que, além disso, escravizou o país a uma União Europeia ultraliberal, atlantista, antidemocrática, destruidora das conquistas sociais e da soberania nacional. O anticomunismo exacerbado de alguns de seus próximos recorda que ele militou algum tempo na Organização Comunista Internacional, grupo trotskista de choque que doou à França homens tão "notáveis" como Lionel Jospin – o primeiro-ministro socialista que privatizou tanto quanto a direita havia feito antes dele – ou Jean-Christophe Cambadélis – ex-braço direito do "lamentado" Dominique Strauss-Kahn. Como ele próprio gosta de repetir, o modelo de J.-L. Mélenchon permanece sempre François Mitterrand – antigo presidente da República (condecorado em sua juventude com a Ordem da Francisque pelo marechal Pétain), o qual foi o introdutor do neoliberalismo em França, tal como uma Margaret Thatcher ou um Ronald Reagan. Esta tarefa suja foi cumprida em 1983 graças aos cuidados de um primeiro-ministro, Laurent Fabius – ou seja, o "socialista" tornado ministro das Relações Exteriores trinta anos depois que queria ir à guerra contra a Síria! E foi este "camarada Fabius" que J.L. Mélenchon optou por apoiar como candidato do PS nas eleições presidenciais de 2007... Como será compreendido, há muito pouco risco de que o líder da França Insubmissa tome a iniciativa de uma eventual ruptura anti-capitalista. Ele que, em 1992, apelava a votar "sim" ao Tratado de Maastricht porque acreditava nela perceber "um começo da Europa dos cidadãos". Pode-se enganar durante a vida, mas não quase toda a vida.

Herdeiro de uma longa história feita de resistências anti-fascistas e anti-colonialistas heróicas, o Partido Comunista Francês conserva bases militantes significativas e ainda administra, o melhor que pode, várias municipalidades com perfis sociológicos populares e complicados. Mas o apagamento da sua direcção actual, amplamente reformista e com estratégia demasiado estreitamente eleitoralista, conduziu o PCF ao seguidismo mais raso e sem brilho, substituindo a luta das classes pela "luta dos lugares". Outrora "na vanguarda do proletariado", o PCP encontra-se agora, sob a batuta dos seus dirigentes sem convicções, a reboque de sociais-democratas que estão eles próprios completamente desorientados e transformados na maior parte em medíocres neoliberais. A miríade de minúsculos partidos comunistas (que permanecem autênticos) que gravita em torno do PCF – e contra a sua direcção – está dilacerada entre os "por" e os "contra" os coletes amarelos. O que equivale a dizer que as suas diversas tomadas de posição sobre as mobilizações em curso passam dramaticamente desapercebidas.

Os líderes dos partidos trotsquistas – singularmente numerosos em França – estão pelo seu lado amuralhados em rivalidades e sectarismos que beiram o ridículo, que os dividem profundamente e os afastam cada vez mais da perspectiva de uma responsabilidade política qualquer, mesmo local. No comment sobre sua ausência de posições internacionalistas. E os ecologistas? Conduzidos por fervorosos neoliberais, grosseiramente maquilhados (tais como Nicolas Hulot, que foi ministro de Emmanuel Macron até Setembro/2018, ou o indescritível Daniel Cohn-Bendit...), eles nem sempre compreenderam que a causa mais fundamental das devastações sofridas pelo ambiente se encontra no próprio sistema capitalista. Ainda precisam de tempo para isso. Finalmente, os chefes dos movimentos anarquistas permanecem encerrados nas contradições entre um activismo útil (aquando dos movimentos de ocupação da última Primavera, nomeadamente) e um programa de acção extraordinariamente confuso – para não dizer contraproducente.

As bases destas diversas forças progressistas estão portanto, por assim dizer, entregues a si próprias. E convidadas pelas suas respectivas lideranças a entreter entre si todas as desconfianças. Os ódios. Isto é certamente totalmente absurdo e suicida. Esta triste constatação é tanto mais terrível quando segmentos inteiros da população francesa pauperizada hoje não são mais representados por todas estas organizações de esquerda. Dentre outros: "novos pobres", como são chamados, imensamente numerosos, batidos pelo desemprego e pela precariedade; pequenos agricultores familiares crivados de dívidas, isolados, desesperados; jovens dos arrabaldes, sem objectivos, guetizados, abandonados por todos (excepto os polícias, os traficantes de drogas e salafistas ricos...) – ainda que estes jovens constituam muito provavelmente o mais forte baluarte contra o racismo no país, e que já se tenham levantado durante os motins de 2005-2007 –; famílias saídas da imigração, deixadas à margem da sociedade; gente sem domicílio fixo, sem tecto e direito, "intocáveis" do nosso país, desumanizados, espectros errantes com rostos distorcidos pela miséria que se vêem por toda parte, mas que já não olhamos... Tantos outros ainda. Um lumpem-proletariado? São sobretudo milhões de franceses cuja existência foi sacrificada no altar do capitalismo moderno. Como os responsáveis dos nossos partidos progressistas puderam desistir de se baterem também por todos eles? O que aconteceu nas nossas fileiras para que abdicarmos até este ponto?

Face ao espectáculo lamentável apresentado por esta esquerda-nebulosa pulverizada, a burguesia francesa jogo sobre veludo. Por enquanto, pelo menos. A direita certamente implodiu. Sua componente que chamaremos "centrista" – neste caso, o Partido Socialista – vendeu sua alma desde há mais de três décadas (e com a presidência de F. Mitterrand) convertendo-se aos dogmas do neoliberalismo e alinhando-se em posição de combate atrás dos exércitos da NATO, como se viu. Quanto ao outro componente da direita, que chamaremos de "tradicional" – representado no momento por Les Républicains –, ela liquidou (sob a presidência de Nicolas Sarkozy) seus antigos ideais intervencionistas e nacionalistas para se prosternar aos pés da alta finança globalizada e do hegemonismo belicista dos EUA.

Da deliquescência inevitável destes dois componentes desnaturados – a "falsa esquerda" que era o PS do presidente François Hollande e a "nova direita" sarkozista –, com visões do mundo e programas intercambiáveis, surgiu logicamente a sua síntese: a "ficção Macron". Ou seja, o ideal da renovação impossível da burguesia. Será que esta última será constrangida a lançar contra o povo francês em revolta, quando chegar o momento, tal como soube fazer alhures um milhar de vezes no século XX, o cão de guarda do capitalismo que para ela sempre foi a extrema-direita? Este molosso que o poder burguês alimenta com xenofobia e aversão, mantendo-o firmemente na trela.

O quadro sombrio da esquerda francesa que aqui se desenha não proporcionará amizades, smileys e polegares para cima. Sem dúvida. Infelizmente, é provável que seja compartilhado por muitos coletes amarelos, assim como pelo grupo desavergonhado de camaradas que, por nojo ou esgotamento, deixaram de militar para se dissolverem na invisibilidade dos 50% de franceses que preferem se abster de votar nas eleições. Este inventário não pretende ofender, muito menos desmoralizar; ele recorda a exigência de uma ultrapassagem das divisões e da união dos progressistas ao serviço de um povo que luta e mostra o caminho; visa compreender a raiva que hoje anima este povo e as razões da sua rejeição dos próprios partidos de esquerda. Isto, deixando bem claro que as razões profundas da rebelião francesa não se resumem, longe disso, apenas às insuficiências das forças progressistas, por mais patentes que elas sejam. O que é reclamado é uma mudança completa de sistema. Na esquerda, contudo, ainda são raros aquelas e aqueles que o dizem muito claramente: é uma saída do capitalismo destruidor que se impõe.

Nestas condições, no fundo não há nada de espantoso em que os coletes amarelos – e com eles grandes porções das bases sindicais – lutem sozinhos. E frequentemente contra "os políticos", infelizmente. Também não é surpresa – uma vez que as forças de esquerda não têm o menor programa de saída do capitalismo (nem mesmo do euro!) – que as reivindicações dos coletes amarelos sejam díspares, vão em todas as direcções: rever em baixa todos os impostos, mas restabelecer o imposto sobre a riqueza; diminuir as contribuições patronais e aumentar a ajuda financeira do Estado às empresas; mas desenvolver o Estado social; revalorizar as pensões, mas uniformizar os diferentes sistemas de reforma (como o governo quer!); suprimir o Senado (como se o problema estivesse [apenas] nele!), mas contabilizar os votos brancos nas eleições; criar assembleias de cidadãos que decidam leis por democracia directa, mas permitir referendos por iniciativa dos cidadãos; aumentar os salários, mas o que quanto aos dos quadros superiores e dirigentes?; aumentar as despesas sociais, mas reduzir o assistencialismo; adoptar uma verdadeira política de protecção ambiental, mas abandonar o imposto sobre o carbono; diminuir os preços do gás e da electricidade, mas sem nacionalizar os sectores de energia?, suprimir os ágios bancários, mas deixar intacto o poder ditatorial das finanças?, recuperar a soberania nacional, mas permanecer na União Europeia?, etc. Esta bela desordem é ridicularizada pelos "peritos" da burguesia, que se divertem a apontar contradições demasiado gritantes. Mas o importante está alhures: um ponto de não retorno parece ter sido atingido; a inteligência popular saiu da masmorra ou era mantida agrilhoada; um povo de coletes amarelos se ergueu; uma palavra libertada, democrática, oh quanto salutar, invadiu as telas da televisão, e exige que as regras do jogo sejam alteradas. Finalmente.

Em 1789, a igualmente óbvia dispersão das reivindicações formuladas nos "Cadernos de queixas" ("Cahiers de doléances") do campesinato e dos sans-culotte que produziram a Revolução Francesa não contribuiu de modo algum para travar a inevitabilidade da mesma. Porque – coisa incongruente? – nesta cólera que sobe e que se generaliza por toda parte em França, chega-se aqui e ali a falar novamente de... revolução. Em rotundas bloqueadas, nos piquetes de greve, nas redes sociais..., é mesmo de uma revolução que se fala. Estamos muito longe, certamente. Sem um líder de envergadura e sincero, sem partido organizado, sem programa consequente e, dever-se-ia acrescentar, sem teoria, a grande noite da revolução certamente não é para amanhã.

"E ao mesmo tempo" (conforme a fórmula afectada de Emmanuel Macron), os tablóides populares ficam maravilhados com o gosto requintado da "primeira-dama", Brigitte, cujos vestidos Louis Vuitton, penteados da moda e generosas recepções elísianas fazem "a alegria de todos"... É como estar de volta à epoca da rainha Maria Antonieta que, ao ver o populacho parisiense aglomerado diante do Palácio de Versalhes a gritar que não tinha mais pão, lança: "que comam brioches!".

28/Dezembro/2018

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