terça-feira, 27 de agosto de 2019

Boris Johnson: ''Ainda podemos chegar a um acordo''


Recebido no Eliseu, Boris Johnson insiste no Brexit em 31 de Outubro

Primeiro-ministro britânico foi recebido por Emmanuel Macron, quase dois meses depois do prazo estabelecido para a saída de seu país da União Europeia

Quase dois meses antes da data oficial do Brexit - marcada para 31 de outubro - Emmanuel Macron e Boris Johnson adotaram quinta-feira, 22 de agosto, um tom mais conciliador durante a reunião no Eliseu. "Acho que podemos ter um acordo e um bom acordo", disse o primeiro-ministro britânico, lembrando:

"Devemos deixar a União Europeia em 31 de outubro, seja qual for a situação, com ou sem acordo. "

O presidente francês demonstrou mais prudência, mas declarou-se "confiante" de que uma solução possa ser encontrada "nos próximos trinta dias" entre Londres e os vinte e sete. O Sr. Macron alinhou-se com a chanceler alemã, Angela Merkel, que, ao receber Johnson na quarta-feira, achou possível encontrar "nos próximos trinta dias" um acordo para evitar um "Brexit duro".

"Como a chanceler Merkel, estou confiante de que a inteligência coletiva, nossa vontade de construir, deve permitir-nos encontrar algo inteligente em trinta dias se houver boa vontade de ambos os lados, e é nisso que quero acreditar", acrescentou ele à imprensa, avaliando que "o futuro do Reino Unido só pode estar na Europa".

Alemanha | Extrema direita planeou "caçar" estrangeiros em Chemnitz -- relatório


Após um ano dos violentos protestos anti-imigração, relatório policial citado pela imprensa alemã revela que extremistas trocavam mensagens se vangloriando de agressões cometidas contra pessoas de origem migratória.

Um ano depois da violenta onda de protestos contra estrangeiros na cidade alemã de Chemnitz, novas informações trazem detalhes sobre como os extremistas de direita planeavam uma "caça" a migrantes e indivíduos de aparência estrangeira na cidade.

Uma investigação realizada pelo jornal alemão Süddeutsche Zeitung e pelas emissoras públicas WDR e NDR, divulgada nesta segunda-feira (26/08), joga luz nos eventos de agosto de 2018.

A violência em Chemnitz colocou o crescimento do extremismo de direita no centro do debate na Alemanha e chegou a ameaçar a coligação do governo federal, resultando na demissão do chefe do serviço de inteligência do país.

Em 26 de agosto de 2018, o alemão Daniel Hilig, de 35 anos, foi morto a facadas na cidade por suspeitos de nacionalidade estrangeira, dando início a uma onda de protestos que atraiu extremistas e neonazis de várias partes da Alemanha, além de apoiantes do partido ultradireitista Alternativa para a Alemanha (AfD) e do movimento Pegida (sigla em alemão para "Patriotas europeus contra a islamização do Ocidente"). Pessoas de origem estrangeira foram perseguidos nas ruas da cidade.

Por que Reino Unido pede ao mundo que crie alternativa global para substituir dólar?


As maiores economias do mundo estão prontas para desistir da unidade monetária dos EUA como moeda de reserva, opina especialista.

Recentemente, o chefe do Banco da Inglaterra, Mark Carney, apelou aos bancos centrais mundiais para que criem uma “alternativa global” à moeda americana.

A colunista da Sputnik Natalia Dembinskaya explica o motivo pelo qual o dólar está perdendo influência para um número crescente de países e por que motivo o Reino Unido está fazendo esta proposta.

Substituto do dólar

Desde a crise financeira global de 2008, os bancos centrais mundiais reduziram em sete pontos percentuais a cota-parte do dólar dos EUA na estrutura das suas reservas financeiras. Em 2018, os países em desenvolvimento foram particularmente ativos na venda de dólares e de obrigações do Estado americano. Uns, para estabilizar suas próprias moedas, outros por causa de conflitos com Washington.

Segundo estimativas do Banco Central Europeu, a posição do dólar nos resultados financeiros do ano passado sofreu um grande abalo, com sua participação nas reservas cambiais mundiais caindo para 61,7 %, enquanto a participação do euro aumentou para 20,7 %.

Só em abril, o Reino Unido se livrou de US$ 16,3 bilhões (R$ 67,7 bilhões) em títulos do Tesouro dos EUA.

Durante um seminário econômico nos Estados Unidos, o chefe do Banco de Inglaterra, Mark Carney, afirmou que o dólar já não merece o estatuto de moeda de reserva mundial, propondo que os bancos centrais dos vários países se unam para encontrar um substituto.

Na opinião do chefe do regulador britânico, a importância da moeda americana no comércio mundial é “inadequadamente alta”, o que desestabiliza a economia global.

Existe uma guerra cibernética organizada pelos EUA contra Venezuela?


Entre um conjunto de 50 computadores analisados por uma empresa de segurança, 75% pertenciam a instituições estratégicas da Venezuela.

Em julho passado, uma empresa de segurança informática eslovaca apresentou um relatório onde era revelada a existência de atividades de ciberespionagem e ciberataques contra vários países latino-americanos.

A Venezuela era um dos principais visados, abrangendo os setores estratégicos do governo venezuelano, entre eles o setor militar.

Esta informação, que também foi partilhada pelo chanceler da Venezuela, Jorge Arreaza, indica a ação de um conjunto de ferramentas de ciberespionagem chamadas Machete, detectadas na Venezuela entre março e maio deste ano.

Surgem provas de ações norte-americanas de espionagem e ciberataques contra a Venezuela. Algumas delas foram aceitas e confessadas.

A Venezuela é o país mais afetado por esse malware (programa de software malicioso que atinge computadores, celulares e outros dispositivos eletrônicos), segundo uma análise feita pela empresa ESET a 50 computadores que sofreram ataques.

Contatos secretos EUA-Venezuela


Os Presidentes Donald Trump e Nicolas Maduro confirmaram, um e outro, em 20 de Agosto de 2019 a existência de contatos de alto nível entre os Estados Unidos e a Venezuela.

A agência Associated Press insinuara que o Presidente da Assembleia Constituinte, Diosdado Cabello, teria ido aos EUA para negociar. Esta informação parecia tanto mais fantasiosa porque Washington o acusa de tráfico de drogas e emitiu um mandado de prisão contra ele. Sua formulação levava a pensar que o número 2 do partido no Poder fazia um duplo jogo contra o Presidente Maduro para se salvar a si próprio.

Qualificando este estranho despacho de «mentira» e de «manipulação», Diosdado Cabello desmentiu parcialmente a Associated Press e indicou que o que ele fazia seguia três condições: 

- ter a autorização do Presidente constitucional Nicolas Maduro;
- não falar de seu destino pessoal, mas envolver os dois Estados;
- e se realizar em solo venezuelano.

Uma primeira reunião teria sido realizada em Julho, em Caracas. Estes contatos são distintos das negociações governo-oposição em Barbados.

Voltaire.net.org | Tradução Alva

Novas da Rede Voltaire


Thierry Meyssan*

Depois da colecta de fundos em favor da Rede Voltaire ter sido desviada ilicitamente por um banco, e de muitos outros bancos terem fechado ou recusado abrir uma conta para uma colecta, Thierry Meyssan faz o balanço sobre a situação legal e financeira da associação.

Há um mês, nós solicitamos a vossa ajuda a fim de pagar uma dívida que punha em risco a continuação do nosso trabalho. A quantia devida foi reunida em poucos dias, mas o "site" Internet que efectuava esta colecta não no-la encaminhou e de forma ilegal devolveu-a aos doadores.

Entretanto, recolhemos depois 26.000 euros numa conta aberta por Alain Benajam e na conta relacionada do PayPal.

O banco que gere (gerencia-br) essa conta, enervou-se com o ruído em torno da nossa conta-colecta e bloqueou qualquer transação, já que a lei lhe permite isso. Por fim, recuperamos este dinheiro e essa conta foi encerrada.

Negociamos com nosso credor. Transferimos-lhe o dinheiro já recolhido e obtivemos um adiamento para o restante, sabendo que os nossos leitores estão prontos para contribuir e que o problema não é de tesouraria, mas de transferência.

Estes repetidos problemas confirmam-nos a existência de uma lista negra internacional que nos impede por motivos políticos de beneficiar de serviços bancários.

Brasil | “Não são as Forças Armadas, estúpido”


Sete medidas certeiras que o Brasil poderia adotar para defender a Amazônia, se o governo não fizesse apenas teatro. E uma questão intrincada: como enfrentar, além de um presidente primitivo, o projeto que se esconde por trás dele?

Antonio Martins | Outras Palavras | Imagem: Cristopher R. W. Nevinson,  Returning to the Trenches (1914)

Mais uma vez, os militares teriam contido o delírio do governo Bolsonaro. Na quinta-feira, especula hoje o Valor, em texto bem apurado e verossímil, os ministros Fernando Azevedo e Silva, da Defesa, e Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional, interromperam o surto que levava o Palácio do Planalto a negar o forte aumento das queimadas na Amazônia. Uma reunião ministerial de emergência definiu que era preciso mudar o discurso, para salvar as aparências. Vinte e quatro horas depois, o ex-capitão reconhecia, em rede nacional de TV, que o problema é real. Contudo, anunciava resposta controversa: em vez de medidas estruturais em defesa da floresta, nova ampliação dos atributos das Forças Armadas, em operação aparatosa de “garantia da lei e da ordem” (GLO).

Apesar de precária ao extremo, a fala teve algum efeito midiático, por dois motivos. Os meios de comunicação tradicionais comportam-se, diante de Bolsonaro, como o grande poder econômico. Embora incomodem-se com o comportamento protofascista do presidente e possam, em certas circunstâncias, alfinetá-lo, não estão dispostos a corroer seu poder: veem nele o único personagem hoje capaz de realizar seu programa de contrarreformas. Segundo, e igualmente importante: o Estado e a sociedade brasileira têm, a seu dispor, um leque de políticas plenamente capaz de frear os incêndios, reduzir a devastação da Amazônia de modo drástico e alcançar, em algum tempo, o desmatamento zero. Contudo, elas contrariam não apenas a truculência e as patetadas do presidente mas, também, o desmanche dos serviços públicos, propugnado pelo projeto neoliberal hoje hegemônico. Por isso, quase não há debate sobre tais políticas na velha mídia. Resgatá-las é um primeiro passo para enxergar que há – também em relação à Amazônia e ao Ambiente – outro país possível. Eis algumas delas:

Brasil rejeita dinheiro do G7 para a Amazónia


"Usem-no para reflorestar a Europa"

O anúncio da rejeição da ajuda financeira do G7 foi feito pelo ministro brasileiro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni. O número de incêndios no Brasil aumentou 83% este ano,

O ministro brasileiro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, afirmou esta segunda-feira que o Governo rejeitará a ajuda de 20 milhões de dólares (17,95 milhões de euros) oferecida pelo G7 para combater os incêndios na Amazónia.

A informação foi obtida pelo portal de notícias G1 , tendo sido confirmada pela assessoria do Palácio do Planalto, sede do Governo brasileiro.

"Agradecemos, mas talvez esses recursos sejam mais relevantes para reflorestar a Europa. Macron (Presidente francês) não consegue sequer evitar um previsível incêndio numa igreja que é património da humanidade (incêndio na Catedral de Notre-Dame) e quer ensinar o quê para nosso país? Ele tem muito o que cuidar em casa e nas colónias francesas", disse Onyx ao G1.

Brasil | Um demente no poder


Se não o meterem antes numa camisa-de-forças, Bolsonaro vai tirar as calças pela cabeça em público a qualquer momento.

Ruy Castro* | Diário de Notícias | opinião

Já não me lembro o motivo, mas o presidente Jair Bolsonaro recomendou noutro dia ao povo brasileiro que só faça cocó - caca - dia sim, dia não. Não me consta que, alguma vez, em toda a história, um governante tenha descido a esses detalhes na condução de seus governados. Teria talvez alguma influência no sistema de águas e esgotos das cidades, na produção de estrume, no bom funcionamento dos intestinos?

Não. Bolsonaro é apenas assim - gosta de usar imagens fecais, anais ou urinárias para dizer o que pensa. No Carnaval passado, em sua página na internet, ele divulgou um vídeo em que mostrava um homem urinando em outro. No domingo passado, um influente jornalista brasileiro chamou-o, no título de sua coluna, de coprófilo - aquele que, segundo os dicionários, "tem atração patológica por fezes ou pelo ato de defecação". Eu próprio já escrevi, há algumas semanas, que ele tem "fezes na cabeça". E Bolsonaro não pode se queixar porque é ele quem provoca essas imagens.

E, afinal, de que adianta ao povo brasileiro seguir sua recomendação de só fazer cocó dia sim, dia não, se o próprio presidente faz todo dia - e em público, sem o menor pudor, diante das câmaras e dos microfones? Estou falando figuradamente, claro. Não é que Bolsonaro abaixe as calças, fique de cócoras e despeje à vista dos outros - pelo menos, até agora não fez isto. Basta-lhe abrir a boca.

Portugal | "Tempo de Cristas acabou no dia em que cedeu à agenda dos tarados do CDS"


Líder do CDS disse que despacho sobre identidade de género "gera uma onda de ruído". Isabel Moreira responde: "Quanto a ruído, a líder que albergou fanáticos deve ter dado conta de quem o provocou".

Isabel Moreira considera que o tempo de Assunção Cristas acabou. Num texto publicado na sua página no Facebook, a deputada 'atacou' as declarações da líder do CDS sobre a aplicação nas escolas do despacho de identidade de género.

"Cristas lá apareceu e veio dizer que o CDS rejeita o despacho (identidade de género) em absoluto e que a esquerda lida mal com a diversidade de opiniões. Mais acrescenta que o despacho veio criar ruído", começa por afirmar Isabel Moreira. 

Considera a deputada socialista que "Cristas tinha de aparecer. Imagino que esteja contrariada."

"Mas há limites. É jurista, há de ter lido o despacho, vergou-se ao bolor do CDS e atreve-se a dizer que a esquerda não lida bem com outras opiniões. Sabe? Nós não lidamos bem com a mentira", atirou. 

Portugal | Armas mortíferas à solta atropelam e matam que se fartam


Mário Motta | opinião

No Público de hoje (27.08) deparamos com o título que nos dá conta de que o número de mortes nas estradas cresceu 12% em 2018. Foram mais 73 do que no ano anterior. Na peça assinada por Rita Marques Costa podemos  perceber que as “Estatísticas constam do relatório da Autoridade Nacional para a Segurança Rodoviária sobre a sinistralidade nos 30 dias após o acidente. Foi nas ruas dentro das localidades que o número de vítimas mortais mais aumentou.”

Se há quem tenha sido surpreendido pelos números a responsabilidade de tal facto é da ignorância e inobservância de como e quanto selvagens estão os automobilistas/motociclistas a circularem nas estradas e nas cidades. É visível que as viaturas a circularem nas aldeias, vilas e cidades fazem-no em frequente excesso de velocidade, sem consideração pelos caminhantes, estacionando nos passeios ou onde lhes der na real gana – que é onde lhes dá mais jeito.

Principalmente nas cidades, onde há mais barafunda e não existe fiscalização policial, onde as queixas dos cidadãos - que se movimentam a penantes - caem em saco roto na PSP, Juntas de Freguesia ou nas Câmaras Municipais, a selva dos automóveis de automobilistas criminosos, especialistas em condução arrogante e agressiva, andam praticamente sem controlo. O desrespeito pelos que se deslocam nas passagens de peões é quase total, excepto onde circulam muitos peões para testemunharem em caso de atropelamentos.

Portugal | Maioria às cavalistas da "geringonça"


Paulo Baldaia* | Jornal de Notícias | opinião

A mais recente entrevista de António Costa serviu para o primeiro-ministro confessar que a resistência eleitoral do Bloco de Esquerda o chateia. Não apenas pelas razões por ele evocadas mas, sobretudo, porque a maioria absoluta ainda não está garantida. A ânsia de ser notícia ao meio-dia, crítica feita pelo líder do PS aos bloquistas, é uma coisa que cola muito bem a este Governo que vive na ânsia de comunicar tudo que corre bem e desculpabilizar-se de tudo o que corre mal. O BE pode até estar convencido que comunica muito bem, mas nesse campo é completamente amador ao lado do PS. O que o BE sempre teve, e talvez agora tenha menos, são redações muito amigáveis.

O abraço de urso que António Costa dá ao PCP e a Jerónimo de Sousa faz parte da estratégia para tentar chegar à maioria absoluta. Se os votos de um Bloco em crescimento são maioritariamente de um eleitorado flutuante e jovem e que pode, por isso, ser disputado palmo a palmo, os votos do PCP são de eleitores pouco avessos a mudanças e com muitos anos de antipatia aos socialistas. Convencê-los de que agora PS e PCP são dois partidos irmãos é um passo essencial para receber o voto útil dos comunistas.

O que havia para os socialistas conquistarem à Direita já está conquistado, dificilmente ganham ali mais alguma coisa que se veja. Ora, fica evidente que ainda se vão passar coisas em campanha, entre as esquerdas que se uniram no Parlamento, que não serão bonitas de se ver. António Costa sente-se seguro para tentar chegar à maioria absoluta encavalitado na "geringonça" e se não chegar também não tem problema nenhum. Todos vão oferecer dote para governar com o PS .

*Jornalista

Abaixo o caviar, viva o kebab


Há muitos anos que o jornalismo está a ser cozinhado em lume brando. Quando deixou de questionar o poder e passou a servir de apêndice dos grandes grupos económicos e financeiros, os principais jornais, rádios e televisões entraram numa espiral decadente que preferem atribuir às recentes transformações tecnológicas. Em momento algum lhes ocorre questionar se por acaso não terá algo a ver com a crise do sistema político e económico.

Bruno Carvalho*

Sejamos claros. Durante décadas, venderam-nos falsas verdades e agora que outros seguem o mesmo caminho apontam-lhes o dedo e defendem o monopólio da mentira. Foi a imprensa que serviu de comissária política na cruzada neoliberal pela precarização do trabalho e pela privatização dos serviços públicos. Agora espantam-se que as redes sociais se assumam como fonte prioritária de conhecimento para muitos. É certo que é um mar agitado de mentiras por onde sopram os perigosos ventos da extrema-direita mas é justamente por não haver uma imprensa livre de interesses privados que o discurso destravado do fascismo volta a estar em cima da mesa.

Há umas semanas, a filósofa belga Chantal Mouffe afirmava, em entrevista ao Público, que “a melhor forma de combater o populismo de extrema-direita é com o de esquerda”. Como qualquer pós-marxista, tem um perigoso gosto por transfigurar conceitos que o próprio Pacheco Pereira fez questão em desfazer. Não há populismo de esquerda. Mas, ainda assim, Chantal Mouffe tocou no sensível nervo do campo das armas do nosso tempo para combater o fascismo. Na verdade, de todos os tempos. Só a radicalização do discurso em defesa da ruptura com o capitalismo pode fazer com que os trabalhadores voltem a confiar na esquerda. 

O capitalismo em debate


Depois de várias décadas de cozidos requentados pós-modernos, sopas “pós-marxistas”, saladas reformistas e sobremesas pós-coloniais à la carte, a discussão sobre o capitalismo mundial volta ao centro da mesa.

Néstor Kohan*

Nos movimentos sociais, nas organizações políticas e no mundo cultural. Já ninguém se conforma com os “microrrelatos”, os “micropoderes”, a “micro-história”. Todos os pretextos e malabarismos para não encarar as crises selvagens que atravessam o sistema capitalista são afastados, como migalhas sujas, para fora da toalha.

O incêndio da crise de 2008 não se apaga. O fogo estende-se. O planeta range. Cada vez se tornam mais inadiáveis as explicações totalizantes sobre o que atravessamos.

Estaremos, por fim, numa época de capitalismo “desterritorializado” e interdependente, sem imperialismo, metrópoles, dependências nem periferias, onde um grupo de vendedores ambulantes de um bairro perdido do Haiti desempenha o mesmo papel no sistema mundial que o Bundesbank alemão, uma aldeia longínqua da Indonésia tem a mesma categoria de poder financeiro e político-militar que a Wall Street ou o Pentágono? Ou talvez continuemos localizados, ainda que não percebamos, no antigo capitalismo keynesiano do pós-guerra, com cadeias produção de valor ancoradas em cada país e capitais regulados em escala puramente nacional? Terá sido totalmente inócua a contraofensiva capitalista iniciada em setembro de 1973 no Chile, estendida a seguir à Argentina de 1976 e finalmente aplicada durante 1979-1980 na Londres de Margaret Thatcher e na Washington de Ronald Reagan? Que alguém avance uma explicação por favor e nos esclareça o panorama!

Não estaremos vivendo, talvez, uma nova fase do capitalismo, na qual se combinam as revoluções tecnológicas do capitalismo tardio estudadas por Erneste Mandel, os cinco monopólios mundiais explicados por Samir Amin e a reconquista planetária por expropriação (desposesión) sobre a qual nos alertou David Harvey?

Grécia: o suicídio ou o assassínio de um país


Muitos “analistas” continuam a lamentar em vários tons as condições gregas, mas nenhum deles ousa defender a única solução que poderia ter retirado (e ainda pode) a Grécia desta situação dramática: sair do euro e recomeçar a reconstruir a nação com uma economia nacional, moeda própria, bancos públicos ao serviço do país e um banco central soberano decidindo sobre a política monetária mais adequada à Grécia e, sobretudo, ao programa de recuperação.


Analistas ditos de esquerda, de direita ou do centro estão de acordo sobre a miséria que devasta a Grécia. E com razão. Porque a esmagadora maioria do povo grego vive com dificuldades económicas profundas. O desemprego está oficialmente em 18%, mas a sua taxa real é da ordem dos 25% a 30%. As pensões sociais foram reduzidas dez vezes desde que o partido Syriza – que se define como sendo de “esquerda” – assumiu o poder em 2015 e carregou o país ainda com mais dívida e mais austeridade. Em termos de serviços públicos, os que tinham algum valor foram privatizados e vendidos a empresas ou oligarcas estrangeiros. Hospitais, escolas, transportes públicos – e até algumas praias – foram objecto de privatizações, tornando-se inacessíveis a pessoas comuns.

Enquanto esses analistas – mais ou menos sempre os mesmos – continuam a lamentar as condições gregas em vários tons, nenhum deles ousa defender a única solução que poderia ter retirado (e ainda pode) a Grécia desta situação dramática que se alimenta de si própria: sair do euro e recomeçar a reconstruir a nação com uma economia nacional, moeda própria, bancos públicos ao serviço do país e um banco central soberano decidindo sobre a política monetária mais adequada à Grécia e, sobretudo, ao programa de recuperação.

E porque não? Porque não se debruçam sobre essa solução óbvia? Porque seriam censurados devido ao facto de a oligarquia grega controlar os meios de comunicação – tal como os oligarcas fazem em todo o chamado “mundo ocidental”.

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