segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

Primeira fase da resolução do conflito comercial entre a China e os EUA


David Chan | Plataforma | opinião

Após algum esforço conjunto das equipas de negociação dos dois países, parece que foi possível chegar a um consenso na primeira fase da criação do acordo económico e comercial entre a China e os EUA. Donald Trump parece feliz com este desenvolvimento, tendo pela primeira vez partilhado que "também quer" um acordo. A data para a nova ronda de tarifas era suposto ser a 15 de dezembro, o que fez com que todo o mundo estivesse atento às decisões dos dois países. Às 22 horas e 35 minutos (hora americana) do dia 12 de dezembro, não conseguindo dormir, Trump decidiu publicar um tweet em que revelou estar perto de chegar a um acordo com a China. "Eles querem acordo e nós também". Este septuagenário teimoso e desbocado insiste que a China quer muito um acordo, e acabou assim por revelar as suas verdadeiras intenções: Eles querem e nós também.

Não foi fácil para Donald Trump admitir tal coisa, foi a primeira vez que o disse, tanto em público como online. A guerra comercial sino-americana foi iniciada pelos EUA, e desde o início que a China tem demostrado oposição e insistido que não existem vencedores neste tipo de conflitos comerciais. Tanto a China como os EUA sairão prejudicados, afetando ainda toda a economia mundial. O lado chinês tem tentado resolver os conflitos através de negociações, todavia o Governo de Trump parece obcecado em voltar atrás com a palavra, forçando a China a aceitar as exigências e pondo em causa a dignidade do país. Esta atitude enfureceu claramente o povo chinês, e em resposta a Washington, a China impôs-se: "Aberta a negociações; Pronta a lutar até ao fim; Não se deixando enganar". Agora, mais de uma dezena de negociações depois, os EUA estão a perder a vantagem económica sobre a China. Os dois lados entraram numa nova fase que revelou a vantagem política que a China tem sobre os EUA, o que acaba por destruir a confiança de Trump na reeleição. A confissão de Trump parece por isso mais urgente para ele do que para a China. O processo de reeleição nos EUA já teve início, tal como o processo de tentativa de destituição do presidente americano. Assim sendo, se os EUA não chegarem a acordo com a China, o país irá sofrer consequências graves a nível interno e externo, incluindo no processo de reeleição. Aproximando-se a época natalícia, ao longo das negociações entre os dois países parecia que a imposição de tarifas sobre exportações chinesas no valor total de 165 mil milhões de dólares seria algo inevitável. Mas trata-se de produtos essenciais para os americanos. Tanto o Pai Natal como o próprio povo americano são contra estas taxas, e se Trump for contra a sua vontade, os eleitores irão revoltar-se. Por isso é que Trump, honestamente, também quer chegar a um acordo.

Trump passou de afirmar que não aceitaria nenhum acordo, e de que a China era a única impaciente a negociar, a aceitar esta primeira fase. Porém queremos ainda ver o presidente americano a diminuir as defesas gradualmente, pois a China nunca irá pôr em causa a soberania ou dignidade. O país irá sempre manter a calma, ao contrário de Trump. E quando a pessoa com quem se negoceia é desbocada e governa o seu país através do Twitter, é preciso estar sempre alerta. Todavia, mais uma vez, não existem vencedores numa guerra comercial, nem perdedores num acordo.

Oposição goesa questiona cidadania indiana oferecida a António Costa


O Partido do Congresso (oposição) acusou o primeiro-ministro indiano, Narenda Modi, de usar "dois pesos e duas medidas" ao oferecer a António Costa o estatuto de Cidadão da Índia no Estrangeiro e simultaneamente ameaçar os detentores goeses de passaportes portugueses.

Em declarações numa conferência de imprensa em Pangim, capital do Estado de Goa, o porta-voz estadual do Partido do Congresso, Trajano D'Mello, criticou a dualidade de critérios por parte do poder central, que restringe o direito dos indianos a terem dois passaportes.

Em causa está a decisão pelo ministro indiano do Interior, Amit Shah, de que o Registo Nacional de Cidadãos (NRC, na sigla em inglês) será implementado em toda a Índia, obrigando milhares de detentores do cartão de cidadão e passaporte portugueses emitidos em Goa a escolher entre um de dois registos.

"Por um lado, o primeiro-ministro [Narenda Modi] fez um grande espetáculo em 2017 ao entregar o cartão de Cidadão da Índia no Estrangeiro (OCI, na sigla em inglês) ao primeiro-ministro de Portugal, António Costa, que é de origem goesa; por outro, o NRC está a criar o terror nas mentes de milhares de detentores de passaportes portugueses emitidos em Goa e às respetivas famílias", afirmou D'Melo, citado pela agência IANS.

O primeiro-ministro António Costa recebeu o OCI durante uma visita oficial à Índia em 2017.

Portugal | A Proteção Civil pode continuar a falhar?


Pedro Tadeu | TSF | opinião

A notícia de hoje do JN e da TSF sobre as falhas na organização das mensagens por sms dos alertas da Proteção Civil preocupa-me bastante.

Primeiro, quero sublinhar isto: temos de ser exigentes com o Estado, não só por ser nosso direito, não só por pagarmos quantias significativas de impostos, mas sobretudo porque os serviços que o Estado nos deve prestar só podem ter qualidade e quantidade suficientes se não tiverem como primeira prioridade a obtenção do lucro. Quando se trabalha para o lucro, como fazem as empresas privadas, a lógica de funcionamento é outra e o bem comum é, por isso, mais facilmente sacrificado, por muitas garantias que os contratos com o Estado assegurem, por muita fiscalização que se faça ou por muito ação regulatória que se prometa.

Além disso, fiscalizar a atividade de empresas privadas é mais difícil e menos transparente pois o direito de sigilo ou de reserva é, por definição, maior.

É por isso que não posso esquecer que a Proteção Civil falhou dramaticamente nos incêndios de 2017 e que tem na consciência o peso das quase 100 mortes que então se registaram.

Uma das deficiências da altura era o sistema de comunicações de emergência designado por SIRESP, que estava entregue a privados.

O SIRESP não funcionou como devia e acabou por voltar a ser nacionalizado. O Estado pagou pela nacionalização sete milhões de euros, apesar ter pago às empresas que tinham a concessão, de 2006 a 2018, 487 milhões de euros por um serviço claramente insatisfatório.

Mais tarde veio o escândalo das 70 mil golas de proteção contra fumos distribuídas por mais de mil aldeias e que, por um lado, não serviam para nada e, por outro, deram azo a que alguém ligado ao partido do governo ganhasse 125 mil euros, cuja justificação é mais do que discutível. O negócio está, aliás, a ser investigad pelo Ministério Público.

Quanto ao caso de hoje das falhas nos SMS de alerta à população, segundo a explicação do Jornal de Notícias, acontece que o Estado paga 900 mil euros por ano às operadoras de telecomunicações para ter o serviço disponível, usa-o com regularidade durante o período de incêndios mas este mês, com as cheias e inundações, não o utilizou.

Portugal | Sondagem: Livre em queda, PSD e Chega sobem

As intenções de voto no partido fundado por Rui Tavares caíram no último mês de 2,7% para 1,1%. Se as eleições legislativas fossem este mês, o Livre teria muitas dificuldades em eleger a deputada Joacine Katar Moreira. 

De acordo com uma sondagem da Intercampus, realizada para o “Correio da Manhã” e o “Jornal de Negócios”, as intenções de voto no partido fundado por Rui Tavares caíram no último mês de 2,7% para 1,1%. Esta inflexão ocorre após a sequência de várias polémicas que envolveram a deputada e o partido.

Durante o mesmo período, o eleitorado do PSD cresceu e o do PS encolheu. Neste momento, o PS reúne 33,9% das intenções de voto, contra 25,7% do PSD. os socialistas perderam um ponto percentual ao passo que os sociais-democratas subiram 0,8 pontos, o que, no conjunto dá uma redução de 1,8 ficando a uma distância de 8,2 pontos.

Em terceiro lugar continua o Bloco de Esquerda, com 10,7%, seguido pela CDU que caiu para 6,3% - aproximadamente o mesmo valor atingido em outubro. Já em quinto lugar mantém-se o PAN, conseguindo 6,1% das intenções de voto, o valor mais alto desde, pelo menos, os últimos três meses.

Também o Chega consegue um bom desempenho em dezembro, vendo as suas intenções de voto passarem de 4,8% para 5,7%. Por sua vez, o CDS recupera ligeiramente para 3,9%; a Iniciativa Liberal desliza para 2,4.

Expresso

Nyusi quer conversar com representantes de grupos armados em Cabo Delgado


Presidente falou durante inauguração das novas instalações da Igreja Anglicana no Niassa: "Não sabemos quem são nem o que querem." Ataques ocorrem em Cabo Delgado (Norte) desde outubro de 2017.

O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, manifestou-se disponível para dialogar com os grupos armados que têm protagonizado ataques na província de Cabo Delgado, no norte do país. 

"Nossos irmãos estão a ser mortos em algumas zonas de Cabo Delgado por pessoas que não sabemos quem são nem o que querem. Se nos dissessem, sentar-nos-íamos com essas pessoas para poderem falar", disse o chefe de Estado moçambicano, citado hoje pela Agência de Informação de Moçambique (AIM).

Filipe Nyusi falava no distrito de Lagos, na província de Niassa, durante a inauguração das novas instalações da Igreja Anglicana. No seu entender, a paz, condição para o desenvolvimento em Moçambique, deve ser vista sempre como algo em construção e todos os atores sociais devem estar envolvidos no processo, incluindo as igrejas.

"O bispo do Niassa que apele a todos para trabalharem para a construção da paz. A paz é uma obra que não termina", declarou Nyusi.

Maior parte do dinheiro transferido ilegalmente continua fora de Angola


Lei que regulamenta repatriamento de recursos transferidos ilicitamente para o exterior foi aprovada há cerca de um ano em Angola. Mas até agora recuperação desse capital por parte do governo foi ínfima, diz economista.

Um ano depois de o Governo angolano ter dado início à fase coerciva do repatriamento de capitais, especialistas como Jonuel Gonçalves dizem que o volume de recursos recuperado é inferior ao que ainda pode ser repatriado. "Mesmo com um cálculo muito por baixo, os ativos de angolanos no exterior, e mesmo simples depósitos, são incomparavelmente maiores com o pouco que se recebeu" até agora, afirma o economista.

"Tirando os 500 milhões de dólares de Londres, não há nenhum volume deste tamanho que tenha voltado para Angola", sublinha o investigador, referindo-se ao processo de transferência indevida de 500 milhões de dólares (450 milhões de euros) para um banco em Londres, em 2017, em que é coarguido o ex-governador do banco central angolano Valter Filipe.

O julgamento teve início a 9 deste mês no Tribunal Supremo de Angola, que tem também como coarguidos Jorge Gaudens Pontes Sebastião, empresário angolano, José Filomeno dos Santos, ex-presidente do Fundo Soberano de Angola, e António Samalia Bule Manuel, antigo diretor do departamento de Gestão e Reservas do Banco Nacional de Angola (BNA).
Segundo Jonuel Gonçalves, "o desvio foi na ordem das dezenas de biliões de dólares", de maneira que "esse capital está mantido no exterior por duas razões": primeiro porque "aqueles que desviaram não têm confiança de o fazer regressar, têm peso na consciência, têm medo que possa haver algum tipo de perseguição de caráter judicial", alega. E, em segundo lugar, "os países que receberam os depósitos têm esses depósitos como importantes para o seu próprio sistema bancário", explica o economista.

São Tomé | Ex-ministro acusa o Governo de prática de perseguição política


Américo Ramos foi ex-Ministro das Finanças no anterior governo da ADI, e desempenhava as funções de assessor económico e financeiro do Presidente da República Evaristo de Carvalho, quando foi detido pela polícia judiciária no dia 4 de Abril passado.

Foi detido para explicar ao país o paradeiro de dois créditos financeiros, que o mesmo ex-ministro das finanças assinou. Primeiro com uma empresa chinesa cujo patrão foi apanhado pela polícia internacional na pratica de vários crimes, e o segundo acordo de crédito foi assinado com o fundo soberano do Kuwait.

«É minha convicção e de uma grande maioria da população que o que aconteceu neste fatídico dia 4 de Abril configura-se numa perseguição política sem precedentes, engendrada pelo actual poder. Essa convicção é ainda mais reforçada quando os representantes do Fundo Kuwait vêm publicamente dizer que ainda encontra-se disponível o financiamento destinado a reabilitação e ao apetrechamento do Hospital Central Ayres de Menezes», afirmou o ex-Ministro Américo Ramos.

FMI alerta que Guiné Equatorial tem longo caminho a percorrer contra a corrupção


O Fundo Monetário Internacional (FMI) defende que a Guiné Equatorial tem longo caminho a percorrer para melhorar a gestão das finanças públicas e combater a corrupção, condições essenciais para o crescimento económico.

"Fortalecer a governação e as medidas de combate à corrupção na Guiné Equatorial é um pré-requisito necessário para a política governamental conseguir desbloquear um crescimento nacional inclusivo e sustentável", lê-se num documento do FMI intitulado "Relatório de Diagnóstico sobre Transparência, Governação e Corrupção na Guiné Equatorial".

Ao longo de 52 páginas, divulgadas no âmbito do anúncio de um programa de ajuda financeira no valor de 282,8 milhões de dólares, cerca de 250 milhões de euros, o FMI lança muitos avisos sobre a situação neste país lusófono africano e alerta que "há um amplo caminho a percorrer para fortalecer a governação na gestão das finanças públicas e para lidar com as vulnerabilidades à corrupção" no país.

O relatório, que resulta de um conjunto de visitas realizadas este verão a Malabo, alerta que apesar da "boa cooperação genérica das autoridades", falta um conjunto de dados que resultou em dificuldades de quantificação de vários aspetos relacionados com as finanças públicas deste país, o terceiro maior produtor de petróleo na África subsaariana e que enfrenta uma recessão desde 2016, e que se prolongará, segundo as previsões do FMI, até 2024, interrompida apenas em 2021 com um crescimento de 1%.

Guiné-Bissau | Segunda volta das presidenciais vai afetar a quadra festiva?


Pela primeira vez, Guiné-Bissau acolhe eleições na quadra festiva de Natal e do ano novo. Opiniões dos guineenses divergem quanto à eventual influência das eleições nas festas de Natal, que unem várias famílias no país.

Apesar da Guiné-Bissau ser um Estado laico, o Natal é celebrado em quase todo país, tanto por famílias cristãs como de outros credos religiosos, que se juntam aos festejos. Entretanto, o Natal deste ano vai ser marcado pelas fortes movimentações políticas, na medida em que, quatro dias depois dos festejos, o país vai realizar a segunda volta das eleições presidenciais, um facto inédito na Guiné-Bissau.

Guineenses opinam

Sobre a eventual influência do processo eleitoral nas festas do Natal, os guineenses têm opiniões diferentes.

Ussumane Camará, estudante na escola de formação de professores de Bissau, considera que se vai manter a tradição de se festejar sem nenhuma anormalidade: "Não vai influenciar nada na quadra festiva, porque nós costumamos festejar o Natal e o final do ano de uma forma tranquila, pelo que penso que as eleições não vão ter influência no Natal".

A opinião é partilhada por Mustafa José Januário, também estudante. Contudo, espera que os guineenses saibam separar as coisas: "Depois da festa de Natal, temos quatro dias para as eleições, logo é só sabermos o que devemos fazer. Festejar bem o Natal e fazer uma boa escolha nas eleições."

Mas, também há quem pense de outra forma. A vendedeira Diana Cá acredita que "as eleições vão influenciar os festejos e deveriam ser antes de 25 de dezembro, pelo menos no dia 23. Também depois da transição do ano, poderá não haver o clima de irmandade entre as pessoas, com abraços, porque um ou outro candidato perdeu as eleições".  

Cabo Verde | Janira Hopffer Almada espera PAICV mais fortalecido após eleições internas


A deputada Janira Hopffer Almada espera que o Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV, oposição) saia "cada vez mais fortalecido" após as eleições internas em que é candidata única à sua própria sucessão.

"O importante é que o partido saia cada vez mais fortalecido", disse este domingo (22.12) aos jornalistas a recandidata a presidente do maior partido da oposição cabo-verdiana, após votar numa mesa instalada numa escola no bairro de Achada de Santo António, cidade da Praia. 

Janira Hopffer Almada salientou que o partido está num "momento muito particular", próximo de um período eleitoral, que começa no próximo ano com as eleições autárquicas e no ano seguinte com as legislativas. 

"O importante é que cada militante, amigo e simpatizante do PAICV tenha a consciência exata que o partido será tanto ou mais forte quanto maior e melhor for a contribuição que cada um der. É esse o apelo que faço, que cada um de nós tenha a entrega, o empenho de colocar os interesses de Cabo Verde sempre em primeiro lugar, de dar a sua contribuição para um partido cada vez mais forte para que possamos resgatar Cabo Verde, na perspetiva de construirmos um país que seja para todos", pediu.

FMI revê em alta previsão de crescimento de Cabo Verde em 2019


O Fundo Monetário Internacional reviu esta segunda-feira em alta a previsão de crescimento económico de Cabo Verde em 5,2% para 2019. Elogiou reformas em curso, mas avisou que receitas fiscais estão aquém do desejado.

A missão do Fundo Monetário Internacional (FMI) esteve em Cabo Verde nas duas últimas semanas em contactos com o Banco Central, membros do Governo, deputados, responsáveis autárquicos, do setor privado e de organizações não-governamentais (ONG).

No final da missão, a chefe da delegação, Kabediy Mbuyi Malangu, mostrou-se satisfeita com o que viu, tendo revisto em alta as previsões do crescimento económico.

"O crescimento para 2019 acreditamos que poderá atingir 5,2%, um pouco acima das projeções iniciais. A inflação mantém-se baixa, o que é bom. O setor da agricultura que sofreu muito com dois anos de seca consecutivos está a recuperar e isso para o crescimento este ano", anunciou.

Em maio deste ano, o FMI previu um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em torno de 4,7%. A chefe da missão do FMI afirmou que todas as metas acordadas com as autoridades cabo-verdianas foram atingidas com excepção das receitas fiscais que ficaram aquém das expectativas, "porque as importações aumentaram", explicou.

Portugal | Um Governo de minoria em bicos de pés


Joana Mortágua | Jornal i | opinião

Não, este não é um Orçamento de continuidade. Porquê? Porque o Orçamento do Estado para 2020 foi desenhado sem espaço para acolher ou negociar propostas da esquerda e realinhou totalmente pela obsessão do superávite.

“0,2% de superávite”, é isso que o Governo acha que o país quer ouvir. Mário Centeno deixou claro que este é um Orçamento feito à medida do número à direita da vírgula e não das necessidades do país. O economista Ricardo Cabral chamou-lhe uma irracionalidade económica, e com razão. Mas os erros do Governo minoritário do Partido Socialista são também políticos.

O primeiro é achar que o país não nota que se está a descontinuar o caminho de recuperação de rendimentos de uma população que só agora começou a sentir que saiu da crise. Durante quatro anos houve Orçamentos com medidas socialmente eficazes, tanto na extinção dos cortes da troika como em políticas diretas ou indiretas de aumento de salários e pensões. Recordemos exemplos como a tarifa social da energia, manuais escolares gratuitos, diminuição das propinas, aumento do salário mínimo e de pensões, revisão das tabelas do IRS, diminuição do IVA em algumas atividades e redução histórica do preço dos passes sociais.

A continuidade natural desse caminho seria o englobamento de rendimentos para um regime fiscal mais justo, como o Bloco propôs e o PS chegou a incluir no seu programa, embora em termos diferentes. Mas, neste Orçamento, nem sinal dessa proposta ou de qualquer alívio fiscal generalizado sobre o trabalho. É um recuo sem razão aparente, talvez para promover um encontro com o PSD a meio do caminho.

Estratégias e Custos na Guerra dos Gasodutos, sanções dos EUA


Manlio Dinucci*

Enquanto se atacam num confronto inflexível sobre o ‘impeachment’ do Presidente Trump, Republicanos e Democratas depõem as armas para votar no Senado, quase por unanimidade, a imposição de sanções pesadas contra as empresas que participam na construção do North Stream 2, a duplicação do gasoduto que, através do Báltico, leva o gás russo para a Alemanha. 

As empresas europeias a ser atingidas e que participam do projecto de 11 biliões de dólares, agora  realizado em cerca de 80%, juntamente com a Gazprom russa são: a austríaca OMV, a anglo-holandesa Royal Dutch Shell, a francesa Engie, as empresas alemãs Uniper e Wintershall, a italiana Saipem e a suíça Allseas, que comparticipam na  colocação das condutas.

A duplicação da North Stream aumenta a dependência da Europa do gás russo, advertem os Estados Unidos. Estão preocupados, sobretudo, pelo facto do gasoduto - atravessando o Mar Báltico em águas russas, finlandesas, suecas e alemãs - contornar os países Visegard (República Checa, Eslováquia, Polónia, Hungria), os Estados Bálticos e a Ucrânia, ou seja, os países Europeus mais ligados a Washington através da NATO (aos quis se junta a Itália).

Mais de 400 pessoas são mortas e 19 mil ficam feridas durante protestos no Iraque - ONU


Manifestantes protestam nas ruas do Iraque desde a primeira semana de outubro exigindo eleições livres, fim da corrupção generalizada, emprego e crescimento económico. Mais de 400 pessoas foram mortas e 19 mil ficaram feridas durante as manifestações.

A representante especial do secretário-geral da ONU para o Iraque, Jeanine Hennis-Plasschaert, falou ao Conselho de Segurança da ONU a partir de Bagdad na terça-feira (3). Segundo ela, as regras de atuação das forças de segurança no país foram alteradas para garantir a segurança dos manifestantes, mas “a realidade é que o uso de munição real continua, dispositivos não letais continuam sendo usados de forma indevida, e prisões e detenções ilegais ocorrendo”.

No domingo (1), o Parlamento iraquiano aceitou o pedido de renúncia do primeiro-ministro, Adel Abdel Mahdi. As Nações Unidas pedem que os responsáveis pelas mortes durante os protestos sejam identificados e julgados.

A representante especial do secretário-geral para o Iraque, Jeanine Hennis-Plasschaert, informou nesta terça-feira (3) ao Conselho de Segurança sobre as consequências dos protestos de rua que começaram na primeira semana de outubro.

Segundo ela, já morreram mais de 400 pessoas e mais de 19 mil ficaram feridas. A representante pediu que os responsáveis sejam identificados e julgados.

Motivos

Hennis-Plasschaert afirmou que os manifestantes estão “mostrando amor pelo seu país e identidade iraquiana”, mas “pagando um preço demasiado alto”.

Os protestos têm sido liderados por jovens que “expressam frustração com más perspectivas económicas, sociais e políticas”. Os manifestantes também criticam corrupção, interesses partidários, e interferências estrangeiras.

Hennis-Plasschaert disse que os manifestantes querem eleições livres, justas e credíveis, fim da corrupção generalizada e mais emprego e crescimento.

Três triliões de dólares no poço sem fundo afegão


Manlio Dinucci*

Os documentos que o Washington Post conseguiu tornar públicos sobre a guerra contra o Afeganistão, não atestam que os Estados Unidos não conseguiram pacificar este país. Pelo contrário, mostram que o Pentágono segue, fielmente, a estratégia da “guerra sem fim”, elaborada por Donald Rumsfeld e pelo Almirante Arthur Cebrowski. A operação militar, que duraria algumas semanas, prossegue há 18 anos.

Na Declaração de Londres [1], os 29 países da NATO reafirmaram “o empenho na segurança e na estabilidade, a longo prazo, do Afeganistão”. Uma semana depois, de acordo com a “Lei da Liberdade de Informação” (usada para esvaziar, depois de vários anos, alguns esqueletos dos armários, de acordo com a conveniência política), o Washington Post tornou públicas 2.000 páginas de documentos que “revelam que as autoridades americanas enganaram o público sobre a guerra do Afeganistão” [2]. Essencialmente, ocultaram os efeitos desastrosos e também as implicações económicas, de uma guerra em curso há 18 anos.

Os dados mais interessantes que surgem são os dos custos económicos:

Para as operações militares, foram desembolsados 1.5 triliões de dólares, cifra que “permanece opaca” - por outras palavras, subestimada - ninguém sabe quanto despenderam na guerra os serviços secretos ou quanto custaram, realmente, as empresas militares privadas, os mercenários recrutados para a guerra (actualmente, cerca de 6 mil).

Visto que “a guerra foi financiada com dinheiro tomado de empréstimo”, os juros atingiram 500 biliões, o que eleva a despesa para 2 triliões de dólares.

Acrescentam-se a esta verba, outros custos: 87 biliões para treinar as Forças afegãs e 54 biliões para a “reconstrução”, grande parte dos quais “foram perdidos devido à corrupção e aos projectos fracassados”.

Pelo menos, outros 10 biliões foram gastos na “luta contra o tráfico de drogas”, com o bom resultado de que a produção de ópio aumentou fortemente: hoje o Afeganistão fornece 80% da heroína aos traficantes de drogas do mundo.

Com os juros que continuam a acumular-se (em 2023, chegarão a 600 biliões) e o custo das operações em curso, a despesa supera, amplamente, os 2 triliões.

Também é preciso considerar o custo da assistência médica aos veteranos, saídos da guerra com ferimentos graves ou inválidos. Até agora, para os que combateram no Afeganistão e no Iraque, foram despendidos 350 biliões que, nos próximos 40 anos, subirão para 1.4 triliões de dólares.

Visto que mais da metade dessa verba, é gasta com os veteranos do Afeganistão, o custo da guerra, para os EUA, sobe para cerca de 3 triliões de dólares.

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