O coronel Nuno Lemos Pires disse
hoje que mais ataques no Médio Oriente e tentativas de raptos de
norte-americanos são consequências prováveis da morte do general iraniano
Qassem Soleimani de madrugada em Bagdad num ataque norte-americano.
O sub-diretor-geral de Política de
Defesa Nacional considerou em declarações à agência Lusa que "uma guerra
aberta entre o Irão e os Estados Unidos não é provável", mas apontou como
um dos "efeitos diretos" a "desestabilização no
local".
"As consequências podem ser
várias: obviamente vamos assistir a um maior número de ataques na região, mais indiretos mais diretos;
pode haver assassínios de americanos, raptos, tentativas pelo menos",
indicou.
O especialista em assuntos de
segurança e defesa adiantou que outras das consequências podem ser o
"aproveitamento do [grupo 'jihadista] Estado Islâmico para poder
ganhar alguma base de apoio (...) o aumento do preço do petróleo (...) e o
extravasar da situação" para países como a Síria e o Iémen.
Qassem Soleimani, comandante
da força de elite dos Guardiães da Revolução iranianos, Al-Qods, morreu num ataque dos Estados Unidos com um 'drone' [aparelho aéreo não-tripulado], em Bagdad,
juntamente como o 'número dois' da coligação de grupos paramilitares
pró-iranianos no Iraque Hachd al-Chaab, Abu Mehdi al-Muhandis,
e outras seis pessoas.
"Na leitura de circunstância tivemos
aquilo que chamamos uma 'parada resposta'", explicou Lemos Pires,
adiantando que no ataque à embaixada norte-americana em Bagdad na
véspera de Ano Novo "se pôs em causa a soberania dos Estados Unidos"
que responderam deste modo.
Para o especialista, a
"grande incógnita" é "o que quer dizer a vingança terrível que o
Irão anuncia".
"Quão longe está disposto a
ir um governo com grandes problemas, um país que vive uma crise económica
profunda, que está dividido (...) Mas que vai haver alguma coisa vai
haver", disse.
O líder supremo do Irão, o
ayatollah Ali Khamenei, prometeu vingar a morte de Soleimani e o
Conselho Supremo de Segurança Nacional iraniano disse que a vingança ocorrerá
"no lugar e na hora certos".
"Os Estados Unidos devem
saber que o seu ataque criminoso ao general Soleimani foi o maior
erro do país. (...) Os EUA não evitarão as consequências desse erro
de cálculo", afirmou o conselho em comunicado.
Para os seus apoiantes, como
para os seus críticos, Qassem Soleimani, que desempenhou um papel
importante no combate aos 'jihadistas', é o homem chave da influência iraniana
no Médio Oriente: reforçou o peso diplomático de Teerão, nomeadamente no Iraque
e na Síria, dois países onde os Estados Unidos estão envolvidos militarmente.
O diferendo entre os Estados
Unidos e o Irão é longo e a tensão tem vindo a subir desde que o Presidente
norte-americano retirou em meados de 2018 o país do acordo nuclear
internacional de 2015, restaurando sanções devastadoras para a economia
iraniana.
O secretário-geral da ONU,
António Guterres, avisou hoje que "o mundo não pode permitir outra guerra
no Golfo", numa referência ao ataque que matou o general iraniano,
apelando "aos líderes para mostrarem o máximo de contenção" neste
momento de tensão.
Notícias ao Minuto | Lusa
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