Empresária deixou o país no dia
em que foi notificada pelas autoridades do inquérito sobre a gestão da
Sonangol. Hélder Pitta Gróis reconhece que a corrupção era “prática entranhada
na sociedade” angolana.
O procurador-geral de Angola,
Hélder Pitta Gróis, admite avançar com um mandado de captura de Isabel dos
Santos, se a investigação à gestão da empresária resultar em processo-crime. A
hipótese é levantada numa entrevista no âmbito dos Luanda Leaks, publicada
esta segunda-feira pelo Expresso, em é também revelado que a
empresária abandonou o país após ter sido notificada para depor num inquérito
relacionado com a gestão da Sonangol, petrolífera estatal angolana.
As autoridades angolanas
investigam a empresária por suspeitas de branqueamento de capitais e gestão
danosa da petrolífera. Este processo foi aberto, curiosamente, a pedido de
Isabel dos Santos. A empresária requereu a abertura de um inquérito à gestão do
sucessor, Carlos Saturnino, mas as autoridades encontraram indícios criminais
na gestão da filha do ex-presidente angolano, José Eduardo dos Santos.
“[Os factos apurados] têm a ver
com má gestão, uma gestão danosa, uma gestão gravosa. Temos ali
assim umas situações de branqueamento de capitais, algumas de negócios consigo
própria”, detalha Hélder Pitta Gróis.
O procurador-geral pensa que a
empresária “tem feito a vida entre a Inglaterra e a Rússia. Hélder Pitta
Gróis rejeita que as investigações à filha de José Eduardo dos Santos tenham
motivações políticas, confirmando que as autoridades angolanas pediram a
cooperação dos países onde a empresária tem actividade, com o objectivo de
facilitar a quantificação do património detido por Isabel dos Santos.
Quanto ao ex-presidente, a lei confere uma protecção de cinco anos até que as
autoridades consigam analisar a governação de José Eduardo dos Santos. Existirá
uma investigação quando esse período expirar? “Se surgirem factos para isso,
muito bem, mas não vamos forçar, nem vamos estar à procura de factos para poder
apontar-lhe”, finaliza.
Corrupção era “prática entranhada
na sociedade"
Questionado sobre a corrupção em
Angola, Hélder Pitta Gróis diz que a prática de corrupção “estava
entranhada na sociedade”, realçando que as empresas demonstravam “sinais muito
evidentes de corrupção” e que existia “um grande sentimento de impunidade”
relativamente a algumas figuras. Em relação aos meios disponibilizados para o
combate à corrupção, o procurador-geral de Angola diz que “nunca são
suficientes”, pedindo aos angolanos que assumam o papel de cidadãos activos e
denunciem os casos de que tiverem conhecimento.
Hélder Pitta Gróis admite que a
investigação ao filho de José Eduardo dos Santos, José Filimoeno dos Santos,
foi algo que fugiu ao comum. O procurador chega mesmo a dizer que a decisão de
iniciar este procedimento foi dificultada pelo facto de o pai ainda ser presidente
do MPLA e ter vencido as eleições.
Miguel Dantas | Público | Imagem: Lusa
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